João Santana em debate presidencial na campanha da eleição de Dilma Roussef. Foto: Marcelo Justo-18.ago.2010/Folhapress |
A defesa do marqueteiro João Santana protocolou neste
sábado (20) petição na qual informa ao juiz federal Sergio Moro que prestará
depoimento tão logo seja convocado pelo magistrado, responsável pelos processos
relativos à Operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na
Petrobras.
A petição é uma reação ao despacho em que Moro negou
o acesso de Santana ao inquérito sobre pagamentos da empreiteira Odebrecht
supostamente feitos a ele e no qual apontou que o marqueteiro poderia
"antecipar-se à conclusão da investigação e esclarecer junto à autoridade
policial seu eventual relacionamento com o grupo Odebrecht".
A manifestação assinada pelos criminalistas Fábio Tofic
Simantob e Débora Gonçalves Perez aponta que Santana e a mulher dele, Mônica
Moura, estão à disposição de Moro e de outras autoridades "para prestar
todos os esclarecimentos necessários à descoberta da verdade".
Na petição, os criminalistas afirmam que depoimentos de
Santana e sua mulher em caráter preliminar poderão "evitar conclusões
precipitadas e prevenir danos irreparáveis que costumam se seguir a elas,
mormente porque neste caso os prejuízos extrapolariam o conturbado cenário
político brasileiro, pois os peticionários estão hoje incumbidos da campanha de
reeleição do Presidente Danilo Medina, da República Dominicana".
A defesa aponta que nem o fato de Santana e Moura estarem
trabalhando fora do Brasil "seria motivo impeditivo para o comparecimento,
já que tão logo agendado o depoimento –e não havendo incompatibilidade de
agenda– os peticionários se comprometem a comparecer independente de intimação
pessoal, a qual poderá ser feita na pessoa do advogado subscritor".
Os defensores alegam que seus clientes "fogem
completamente ao perfil de investigados nesta Operação Lava Jato" e
"não são nem nunca foram operadores de propina ou lobistas".
Por fim, a defesa diz que aguarda "o chamamento para
oitiva em data a ser previamente acertada com o advogado".
Em despacho anterior, Moro afirmou que abertura dos dados
ao publicitário poderia pôr em risco o rastreamento de recursos financeiros ou
mesmo levar à destruição de provas.
"Foram instauradas investigações que ainda tramitam
em sigilo. Medida como rastreamento financeiro demanda para sua eficácia sigilo
sob risco de dissipação dos registros ou dos ativos. Como diz o ditado,
dinheiro tem coração de coelho e patas de lebre", escreveu o juiz, em
despacho datado de terça (16).
No último dia 12, a Folha revelou que a Lava
Jato investiga indícios de pagamentos da Odebrecht ao marqueteiro das
campanhas presidenciais em contas no exterior.
Na ocasião, tanto a Odebrecht quanto Santana se recusaram
a comentar, alegando que não tiveram acesso ao inquérito, conduzido pela
Polícia Federal em Curitiba.
A investigação tem um de seus focos em valores recebidos
por Santana em 2014, quando ele fez as campanhas de Dilma, no Brasil, e de José
Domingo Arias, derrotado no Panamá –país onde a Odebrecht tem forte atuação.
Logo após a publicação da reportagem, advogados do
marqueteiro pediram acesso à investigação junto à 13ª Vara Federal de
Curitiba.
Na negativa, Moro escreveu que o fato de "jornais e
revistas terem especulado" sobre a investigação não altera a necessidade
de sigilo.
No despacho, Moro menciona ainda manuscrito encontrado na
casa do lobista Zwi Skornicki, apontado pelo delator Pedro Barusco como
intermediário de propina.
O documento é uma carta escrita por Mônica Moura, mulher
e sócia de Santana, indicando contas no Reino Unido e nos EUA. A informação foi
revelada pela revista "Veja", em janeiro.
"Eventuais condutas criminosas [de Zkornicki] ainda
estão em fase de apuração [...] Caso o requerente [Santana] tenha de fato
alguma relação com referida pessoa poderá igualmente antecipar seus
esclarecimentos à autoridade policial", escreveu Moro.
Folha de São Paulo
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