Radio Evangélica

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Bancos levam economia global a patinar no medo de nova crise

Bolsas fecham na Europa com forte queda nesta quinta (11/02),
enquanto o Petróleo cai a US$ 26,2 o barril, e China ainda
Preocupa
Na última segunda-feira (08/02), o austero jornal francês Le Mondeindagava em manchete se desta vez os bancos mergulhariam a economia numa crise semelhante à de 2008.
A pergunta ainda faz sentido nesta quinta (11/02). As bolsas da Europa e dos Estados Unidos, com efeitos também no Brasil, estiveram em fortíssima queda, provocada sobretudo pelas instituições financeiras.
Roteiro semelhante e inesperado já havia ocorrido nos pregões de segunda e terça-feira, quando por aqui a economia descansava tranquila no armário do carnaval. Na quarta, a tendência se estabilizava, com um novo mergulho das cotações 24 horas depois.
Não há um único fator capaz de explicar esse ambiente confuso. É uma confluência de notícias preocupantes que levaram na quarta-feira a presidente do FED (Banco Central) norte-americano, Janet Yellen, a admitir, em depoimento no Congresso, que não estava tão otimista quanto em dezembro quanto à recuperação da economia mundial.
Os três combustíveis da atual crise são a China, o petróleo e os bancos, que por sua vez misturam ativos no pouco confiável setor energético e um relacionamento com bancos centrais, que confundem os mercados depois que o Japão adotou juros negativos para sua taxa básica.
A questão chinesa é antiga, com uma desaceleração acentuada a partir de 2012. Apesar de 6,9% de crescimento do PIB em 2015 – uma excelente porcentagem, que perdeu entre os emergentes apenas para a Índia (7,5%) -, o país gera pessimismo pelos pontos de interrogação que desperta.
O país atravessa reformas que procuram adaptar sua inserção aoFMI (Fundo Monetário Internacional), com controles mais rígidos sobre a balança de pagamentos – entrada e saída de divisas – e sobre o câmbio.
Mas há uma tendência de oscilação do yuan e dos efeitos no mercado de commodities de um novo modelo centrado no mercado interno.
Com mais dúvidas que certezas, a China deixou de funcionar como âncora, como o fez em 2008, quando ela e os emergentes sofreram com menor intensidade a queda da produção nos Estados Unidos e na União Europeia.
No atual momento de turbulência vem a seguir o petróleo. A queda nas cotações, iniciada em junho de 2014, foi de início atribuída ao esforço saudita de não permitir a entrada no mercado do gás não-natural produzido pelo xisto norte-americano.
Com o passar dos meses, no entanto, ficou clara a presença de um excesso de oferta, acentuada com o retorno ao mercado do Irã – desvencilhado dos embargos internacionais ao abandonar a dimensão bélica de seu programa nuclear.
Interveio também um conjunto de tecnologias destinado a suprir o mercado mundial de energia limpa, com metas globais fixadas pela recente conferência do clima de Paris.
O brent, petróleo de mais fácil refinamento e referência nas cotações, desabou de US$ 120 a menos de US$ 30 o barril. A tendência é ainda de queda, o que seria uma boa notícia para o consumidor. Mas a mesma notícia afeta as carteiras dos bancos, penduradas em ativos do setor energético.
Ou seja, os bancos se fragilizam, seguindo o exemplo, segunda-feira, da desconfiança em torno do Deutsche Bank, a maior instituição da Alemanha, país que é por sua vez o epicentro da Zona do Euro.
O fato é que, por efeito de cascata, os bancos passaram a sofrer nas bolsas bem mais que os outros setores da economia. Não era apenas um movimento irracional, um “efeito manada” pelo qual os demais mercados seguiriam a Bolsa de Frankfurt.
Foi, sobretudo, a carga de memória que os mesmos bancos sentiam a partir da crise do subprime, gerada a partir do outono de 2007 nos Estados Unidos.
Nos primeiros dias da semana os governos italiano e espanhol tentaram assegurar os mercados de que não existiam motivos de preocupação com suas instituições financeiras.
A França tentou fazer o mesmo. Mas só nesta quinta-feira um de seus principais bancos, a Societé Générale, teve as ações desvalorizadas em 9,95%.
Existe nessa questão um evidente paradoxo. O clima internacional está visivelmente voltado ao menor custo do dinheiro, com juros menores que supõem facilidade maior em conceder empréstimos que favorecem o crescimento do consumo.
Mas é nesse ponto que intervém a insegurança com os juros negativos. São negativos os juros a uma porcentagem inferior à inflação. Os bancos centrais de países pequenos, como a Dinamarca e a Suécia, já serviam de laboratório em que essa prática teoricamente estimularia a economia.
Mas eis que o Banco Central do Japão, contrariamente ao que havia prometido, adere à mesma receita, sob o argumento de que era um remédio para combater a tendência à deflação (contratos sistematicamente adiados para a obtenção, no futuro, de preços menores).
A deflação se dá na relação entre o Banco Central japonês e os bancos daquele país que são obrigados a nele depositar uma parte de seus ativos.
A astúcia consiste em desestimular que, além dessa parcela compulsória de depósitos, outros bilhões de yenes sejam depositados como garantia. Uma garantia pela qual o depositante, depois de determinado período, recebe de volta uma quantia nominal menor que a depositada.
O fato é que os mercados não estão acostumados a essa forma de atuação financeira e não têm modelos de comportamento que permitam reações coerentes. Os juros negativos se misturam à China e ao petróleo para compor um cardápio cujo único efeito é a insegurança.
Concretamente, nesta quinta-feira negra, as ações caíram 3,68% na França, 2,19% na Inglaterra, 2,61% na Alemanha e 2,73% na Suíça. Em Tóquio o pregão já havia fechado em baixa de 2,31%, enquanto Xangai nada sentia por não operar em razão do Ano Novo Lunar.
Por volta das 16h45 (hora de Brasília), o Bovespa caia 3,42%, enquanto em Nova York o índice Nasdaq registrava queda de 1,55%.
O petróleo, por sua vez, caia internacionalmente a US$ 26,21 o barril, o que explica em parte uma nova queda violenta das ações da Petrobras no Bovespa, com menos 4,41%.
A moral da história é que os efeitos desse ambiente internacional no Brasil são preocupantes. Mas isso não significa – repetimos, não significa – que a crise interna seja importada. A crise fiscal que estourou em 2015 e os dois anos sucessivos de recessão são uma outra história.

Por JOÃO BATISTA NATALI para o site diário do CoMércio
IMAGEM: Thinkstock


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