Bolsas fecham na Europa com forte queda nesta quinta (11/02), enquanto o Petróleo cai a US$ 26,2 o barril, e China ainda Preocupa |
Na última segunda-feira (08/02), o austero jornal francês Le
Mondeindagava em manchete se desta vez os bancos mergulhariam a economia numa
crise semelhante à de 2008.
A pergunta ainda faz sentido nesta quinta (11/02). As
bolsas da Europa e dos Estados Unidos, com efeitos também no Brasil,
estiveram em fortíssima queda, provocada sobretudo pelas instituições
financeiras.
Roteiro semelhante e inesperado já havia ocorrido nos
pregões de segunda e terça-feira, quando por aqui a economia descansava
tranquila no armário do carnaval. Na quarta, a tendência se estabilizava, com
um novo mergulho das cotações 24 horas depois.
Não há um único fator capaz de explicar esse
ambiente confuso. É uma confluência de notícias preocupantes que levaram na
quarta-feira a presidente do FED (Banco
Central) norte-americano, Janet Yellen, a admitir, em depoimento no Congresso,
que não estava tão otimista quanto em dezembro quanto à recuperação da economia
mundial.
Os três combustíveis da atual crise são a China,
o petróleo e
os bancos, que por sua vez misturam ativos no pouco confiável setor energético
e um relacionamento com bancos
centrais, que confundem os mercados depois que o Japão adotou juros
negativos para sua taxa básica.
A questão chinesa é antiga, com uma desaceleração
acentuada a partir de 2012. Apesar de 6,9% de crescimento do PIB em 2015 – uma
excelente porcentagem, que perdeu entre os emergentes apenas para a Índia
(7,5%) -, o país gera pessimismo pelos pontos de interrogação que desperta.
O país atravessa reformas que procuram adaptar sua
inserção aoFMI (Fundo
Monetário Internacional), com controles mais rígidos sobre a balança de
pagamentos – entrada e saída de divisas – e sobre o câmbio.
Mas há uma tendência de oscilação do yuan e dos efeitos
no mercado de commodities de um novo modelo centrado no mercado interno.
Com mais dúvidas que certezas, a China deixou de
funcionar como âncora, como o fez em 2008,
quando ela e os emergentes sofreram com menor intensidade a queda da produção
nos Estados Unidos e na União Europeia.
No atual momento de turbulência vem a seguir o petróleo.
A queda nas cotações, iniciada em junho de 2014, foi de início atribuída ao esforço
saudita de não permitir a entrada no mercado do gás não-natural produzido pelo
xisto norte-americano.
Com o passar dos meses, no entanto, ficou clara a
presença de um excesso de oferta, acentuada com o retorno ao mercado do Irã –
desvencilhado dos embargos internacionais ao abandonar a dimensão bélica de seu
programa nuclear.
Interveio também um conjunto de tecnologias destinado a
suprir o mercado mundial de energia limpa, com metas globais fixadas pela
recente conferência
do clima de Paris.
O brent, petróleo de mais fácil refinamento e referência
nas cotações, desabou de US$ 120 a menos de US$ 30 o barril. A tendência é
ainda de queda, o que seria uma boa notícia para o consumidor. Mas a mesma
notícia afeta as carteiras dos bancos, penduradas em ativos do setor
energético.
Ou seja, os bancos se fragilizam, seguindo o exemplo,
segunda-feira, da desconfiança em torno do Deutsche Bank, a maior instituição
da Alemanha, país que é por sua vez o epicentro da Zona do Euro.
O fato é que, por efeito de cascata, os bancos passaram a
sofrer nas bolsas bem mais que os outros setores da economia. Não era apenas um
movimento irracional, um “efeito manada” pelo qual os demais mercados seguiriam
a Bolsa de Frankfurt.
Foi, sobretudo, a carga de memória que os mesmos bancos
sentiam a partir da crise do subprime, gerada a partir do outono de 2007 nos
Estados Unidos.
Nos primeiros dias da semana os governos italiano e
espanhol tentaram assegurar os mercados de que não existiam motivos de
preocupação com suas instituições financeiras.
A França tentou fazer o mesmo. Mas só nesta quinta-feira
um de seus principais bancos, a Societé Générale, teve as ações desvalorizadas
em 9,95%.
Existe nessa questão um evidente paradoxo. O clima
internacional está visivelmente voltado ao menor custo do dinheiro, com juros
menores que supõem facilidade maior em conceder empréstimos que favorecem o
crescimento do consumo.
Mas é nesse ponto que intervém a insegurança com os juros
negativos. São negativos os juros a uma porcentagem inferior à inflação. Os
bancos centrais de países pequenos, como a Dinamarca e a Suécia, já serviam de
laboratório em que essa prática teoricamente estimularia a economia.
Mas eis que o Banco Central do Japão, contrariamente ao
que havia prometido, adere à mesma receita, sob o argumento de que era um
remédio para combater a tendência à deflação (contratos sistematicamente
adiados para a obtenção, no futuro, de preços menores).
A deflação se dá na relação entre o Banco Central japonês
e os bancos daquele país que são obrigados a nele depositar uma parte de seus
ativos.
A astúcia consiste em desestimular que, além dessa
parcela compulsória de depósitos, outros bilhões de yenes sejam depositados
como garantia. Uma garantia pela qual o depositante, depois de determinado
período, recebe de volta uma quantia nominal menor que a depositada.
O fato é que os mercados não estão acostumados a essa
forma de atuação financeira e não têm modelos de comportamento que permitam
reações coerentes. Os juros negativos se misturam à China e ao petróleo para
compor um cardápio cujo único efeito é a insegurança.
Concretamente, nesta quinta-feira negra, as ações caíram
3,68% na França, 2,19% na Inglaterra, 2,61% na Alemanha e 2,73% na Suíça. Em
Tóquio o pregão já havia fechado em baixa de 2,31%, enquanto Xangai nada sentia
por não operar em razão do Ano Novo Lunar.
Por volta das 16h45 (hora de Brasília), o Bovespa caia
3,42%, enquanto em Nova York o índice Nasdaq registrava queda de 1,55%.
O petróleo, por sua vez, caia internacionalmente a US$
26,21 o barril, o que explica em parte uma nova queda violenta das ações
da Petrobras no
Bovespa, com menos 4,41%.
A moral da história é que os efeitos desse ambiente
internacional no Brasil são preocupantes. Mas isso não significa – repetimos,
não significa – que a crise interna seja importada. A crise fiscal que estourou
em 2015 e os dois anos sucessivos de recessão são uma outra história.
Por JOÃO BATISTA NATALI para o site diário do CoMércio
IMAGEM: Thinkstock
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