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quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Escrita Maia: A Voz de Pedra da Mesoamérica

Imagem desenvolvida por IA
A civilização maia, que floresceu na Mesoamérica — abrangendo o sul do México, Guatemala, Belize e Honduras —, desenvolveu o mais sofisticado e completo sistema de escrita da América pré-colombiana. Longe de ser uma simples coleção de pictogramas, a escrita maia era um sistema logosilábico complexo, capaz de registrar a linguagem falada com a mesma precisão dos sistemas do Velho Mundo, como o sumério e o egípcio.

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Estrutura e Complexidade

A genialidade da escrita maia reside em sua dupla natureza. Ela combinava dois tipos principais de signos:

  1. Logogramas: glifos que representam palavras inteiras ou conceitos. Por exemplo, havia um glifo específico para a palavra B’ALAM (jaguar), frequentemente representado com a cabeça do animal. Estima-se que cerca de 300 logogramas comuns foram identificados.
  2. Sinais silábicos (fonogramas): representavam combinações de consoante + vogal (como ba, ke, mo). Esses sinais permitiam aos escribas soletrar palavras foneticamente, complementando os logogramas para garantir a leitura correta.

Os escribas maias demonstravam grande liberdade criativa: uma mesma palavra podia ser escrita de várias formas — apenas com um logograma, apenas com sílabas ou de forma combinada. Os glifos eram dispostos em blocos glíficos, organizados em colunas duplas, lidas de cima para baixo e da esquerda para a direita.

O que os Maias Escreveram?

A escrita permeava quase todos os aspectos da vida da elite maia. Os registros preservados até hoje foram encontrados em diversas superfícies:

  • Estelas e monumentos de pedra: narravam a história das dinastias, registrando nascimentos, ascensões ao trono, alianças, guerras e rituais reais.
  • Códices: apenas quatro sobreviveram à destruição espanhola — os códices de Dresden, Madrid, Paris e Grolier —, contendo almanaques, profecias e dados astronômicos.
  • Cerâmica e artefatos: muitos vasos eram pintados com glifos que identificavam o proprietário, o artista e o uso do objeto, como “este é o vaso para beber cacau de...”.

A Saga da Decifração

Durante séculos, a escrita maia foi um enigma. O bispo espanhol Diego de Landa, no século XVI, tentou criar um “alfabeto maia”, mas errou ao interpretar o sistema como puramente alfabético. Ironicamente, seu trabalho — mesmo equivocado — forneceu pistas decisivas para futuras descobertas.

O avanço real veio apenas no século XX, com o linguista russo Yuri Knorozov, que demonstrou o caráter silábico da escrita. Sua teoria, inicialmente rejeitada, foi confirmada por estudos posteriores. Já Tatiana Proskouriakoff provou que as inscrições não tratavam apenas de mitos, mas de personagens históricos reais.

Hoje, cerca de 90% dos glifos maias podem ser lidos, revelando uma civilização de notável sofisticação intelectual e histórica.

 

Referências Bibliográficas

COE, Michael D. Breaking the Maya Code. Londres: Thames & Hudson, 1992.

MARTIN, Simon; GRUBE, Nikolai. Chronicle of the Maya Kings and Queens: Deciphering the Dynasties of the Ancient Maya. Londres: Thames & Hudson, 2000.

HOUSTON, Stephen D.; STUART, David. The Way Glyph: Evidence for Co-essences among the Classic Maya. Research Reports on Ancient Maya Writing, n. 30, 1996.

CARTWRIGHT, Mark. “Escrita Maia”. World History Encyclopedia, 2019. Disponível em: https://www.worldhistory.org/translations/pt/1-13958/escrita-maia/. Acesso em: 10 nov. 2025.

KETTUNEN, Harri; HELMKE, Christophe. Introduction to Maya Hieroglyphs. Wayeb, 2020. Disponível em: https://www.wayeb.org/resourceslinks/. Acesso em: 10 nov. 2025.

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