O Peso das Tarefas Domésticas: Uma Realidade Prévia
Antes da chegada das lavadoras automáticas, lavar roupa era,
sem dúvida, uma das tarefas domésticas mais árduas e demoradas. Se
perguntássemos às nossas bisavós, a resposta seria unânime: a lavagem de roupas
era um fardo pesado. Embora as primeiras lavadoras elétricas tenham surgido no
início do século XX, elas eram rudimentares, consistindo basicamente em
banheiras com pás rotativas. Não ofereciam abastecimento ou esvaziamento
automático, nem centrifugavam a roupa para remover o excesso de água, exigindo
um esforço manual considerável. Na década de 1940, surgiram os
"torcedores" (espremedores), mas o processo ainda era longo e
cansativo. O que uma lavadora automática moderna faz em 30 ou 45 minutos, uma
dona de casa com uma lavadora anterior a 1947 podia levar duas horas ou mais. A
citação do texto original ressalta essa disparidade: "Sem molhar os mãos,
o usuário de uma lavadora automático pode lavar 4 quilos de roupa em meio hora,
tarefo que ainda levo duas horas em lavadoras convencionais, segundo revelam
estudos."
A Revolução de 1947: A Lavadora Automática GE
A General Electric, já conhecida por inovações como o
refrigerador "Monitor Top", elevou o padrão com sua lavadora
automática de carregamento superior em 1947. Este foi um grande avanço
tecnológico que eliminou de uma só vez uma das tarefas domésticas mais
demoradas e cansativas. O grande diferencial era o ciclo totalmente
automatizado: o usuário iniciava o processo e podia retornar mais tarde para
encontrar as roupas lavadas, enxaguadas e centrifugadas, prontas para secar.
Conforme a revista Popular Science (1947) destacava em artigos
como "How To Choose a Washer", a promessa de eficiência e
conveniência era real. Essa máquina foi rapidamente reconhecida como o
"cálice sagrado" da lavagem de roupas nos EUA do pós-guerra,
simbolizando a modernidade e a libertação do trabalho manual pesado.
Mulheres, Tecnologia e Mudança Social
A chegada da lavadora automática GE não pode ser
desassociada do contexto de profundas mudanças sociais que as mulheres
vivenciavam. A emancipação feminina, que já vinha se consolidando desde o final
do século XIX e acelerou após a Primeira Guerra Mundial, ganhou novo ímpeto
depois da Segunda Guerra Mundial. Era cada vez mais comum que as mulheres
trabalhassem fora de casa, mas a expectativa de que continuassem a ser as
principais responsáveis pela cozinha, limpeza e cuidado com as crianças
persistia. Como Ruth Schwartz Cowan (1983) argumenta em "More Work for
Mother", a tecnologia doméstica, paradoxalmente, muitas vezes não reduziu
o tempo dedicado ao trabalho doméstico, mas elevou os padrões de limpeza e
cuidado. A lavadora automática, nesse cenário, oferecia uma promessa de alívio,
permitindo que as mulheres gerenciassem suas múltiplas responsabilidades com
maior eficiência, embora a carga total de trabalho pudesse não diminuir
significativamente, como apontado por Juliet Schor (1992) em "The
Overworked American".
A Acessibilidade e o Consumismo do Pós-Guerra
Em meados da década de 1940, a combinação de avanços
tecnológicos com uma renda disponível crescente tornou os utensílios domésticos
poupadores de trabalho acessíveis à maioria das famílias de classe média. A
lavadora automática GE se juntou a outros eletrodomésticos revolucionários da
época, como o refrigerador "Monitor Top", a máquina de costura e o
aspirador de pó, que já haviam transformado aspectos da vida doméstica. Essa
acessibilidade impulsionou um novo modelo de consumismo, onde a aquisição de
bens duráveis era vista como um caminho para a modernidade e o bem-estar
familiar. Jennifer Scanlon (1995), em "Inarticulate Longings",
explora como a cultura de consumo e a publicidade moldaram as aspirações
femininas, associando a posse desses aparelhos a um ideal de vida doméstica e
feminilidade. Elaine Tyler May (1988), em "Homeward Bound", também
destaca como a domesticidade e o consumo de bens duráveis se tornaram pilares
da identidade americana no período da Guerra Fria.
O Legado: Mais Que Uma Máquina de Lavar
O impacto da lavadora automática GE de 1947 transcendeu a
mera conveniência. Ela representou um símbolo de progresso tecnológico e um
catalisador para mudanças sociais e culturais. Ao libertar as mulheres de horas
de trabalho manual exaustivo, a máquina contribuiu para a redefinição de seus
papéis e para a possibilidade de dedicar tempo a outras atividades, seja no
trabalho remunerado, na educação ou no lazer. Susan Strasser (1982), em
"Never Done", detalha a história do trabalho doméstico e como
inovações como a lavadora alteraram fundamentalmente as rotinas. A lavadora
automática não foi apenas um eletrodoméstico; foi um ícone da modernidade que
ajudou a moldar o estilo de vida das famílias americanas do pós-guerra e a
pavimentar o caminho para a contínua evolução da tecnologia doméstica.
Conclusão
A lavadora de roupas automática GE de 1947 é muito mais do
que uma simples máquina. Ela representa um ponto de inflexão na história das
mulheres e da tecnologia doméstica, simbolizando a transição de uma era de
trabalho manual árduo para uma de maior automação e conveniência. Sua
introdução não apenas aliviou uma das tarefas domésticas mais pesadas, mas
também se entrelaçou com a crescente emancipação feminina e o boom do
consumismo do pós-guerra, redefinindo o lar e o papel da mulher na sociedade.
Seu legado perdura, lembrando-nos do poder transformador da inovação na vida
cotidiana.
Referências Bibliográficas
CHALINE, Erich. 50 máquinas que mudaram o rumo da
história. Tradução de Fabiano Moraes. Rio de Janeiro: Sextante, 2014.
COWAN, Ruth Schwartz. More Work for Mother: The
Ironies of Household Technology from the Open Hearth to the Microwave. Nova
York: Basic Books, 1983.
MAY, Elaine Tyler. Homeward Bound: American Families
in the Cold War Era. Nova York: Basic Books, 1988.
MEYEROWITZ, Joanne (Ed.). Not June Cleaver: Women
and Gender in Postwar America, 1945-1960. Filadélfia: Temple University
Press, 1994.
SCANLON, Jennifer. Inarticulate Longings: The
Ladies' Home Journal, Gender, and the Promises of Consumer Culture. Nova
York: Routledge, 1995.
SCHOR, Juliet. The Overworked American: The
Unexpected Decline of Leisure. Nova York: Basic Books, 1992.
STRASSER, Susan. Never Done: A History of American
Housework. Nova York: Pantheon Books, 1982.

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