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Celebrada anualmente entre o Natal (24 de dezembro) e
o Dia de Reis (6 de janeiro), a Folia de Reis — também conhecida como Reisado
ou Terno de Reis — reconstitui a jornada dos Três Reis Magos
(Belchior, Gaspar e Baltazar) em busca do Menino Jesus. Mais do que um evento
folclórico, ela é um elo vivo que conecta comunidades, fortalece a fé e
preserva uma herança cultural que atravessa séculos.
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O Coração Religioso: A Devoção que Move a Jornada
Na sua essência, a Folia de Reis é um ato de devoção. A
“jornada” do grupo de foliões, que vai de casa em casa levando sua cantoria,
simboliza a peregrinação dos Magos guiados pela Estrela de Belém.
A bandeira, sempre à frente do grupo, é o elemento mais sagrado: nela
estão representadas cenas do nascimento de Cristo e dos Reis Magos, sendo por
meio dela que as bênçãos são levadas aos lares visitados.
Cada casa que abre suas portas para a Folia recebe cantos de
louvor e prosperidade. Em troca, os moradores oferecem donativos (comida,
bebida ou dinheiro) que serão usados para a grande festa de encerramento,
no Dia de Reis. É um ciclo de fé, hospitalidade e partilha que reforça os laços
comunitários e mantém viva a religiosidade popular.
A Explosão da Festa: Música, Cores e Personagens
Se a devoção é a alma, a festa é o corpo vibrante da Folia.
Os grupos seguem uma hierarquia bem estruturada:
- Mestre
ou Embaixador: Líder que puxa os cantos e conduz os rituais.
- Contramestre:
Auxiliar direto do mestre.
- Foliões:
Cantores e instrumentistas que mantêm o ritmo e a harmonia.
- Bandeireiro:
Responsável por carregar a bandeira sagrada.
- Palhaços
(ou Bastiões): Personagens mascarados que simbolizam os soldados de
Herodes — protetores do grupo e figuras de humor, misturando o sagrado e o
profano em uma performance envolvente.
A música é contagiante: viola caipira, acordeão,
cavaquinho, violão e percussão criam uma sonoridade inconfundível. Os versos,
transmitidos oralmente, recontam a saga bíblica com poesia e emoção —
uma expressão autêntica da identidade rural e da fé do povo.
A Tradição Popular: Um Patrimônio Vivo
A Folia de Reis é reconhecida como patrimônio cultural
imaterial, pois seu saber é mantido na memória coletiva, não em manuais. A
tradição é transmitida de forma oral, do mestre ao aprendiz, de pai
para filho — um verdadeiro legado afetivo e espiritual.
Em tempos de globalização e uniformização cultural, manter
viva essa manifestação é um ato de resistência. Cada grupo de Folia que sai às
ruas reafirma sua identidade cultural e mantém acesa a chama das
tradições brasileiras.
Mais do que uma celebração, a Folia de Reis é uma declaração de
pertencimento e fé, lembrando-nos das nossas origens e da força da cultura
popular.
Conclusão
A Folia de Reis é um espetáculo de fé, arte e memória
coletiva. Representa a esperança que renasce a cada Natal e a
comunhão que une o sagrado e o popular. Da próxima vez que ouvir o som de uma
Folia se aproximando, abra a porta e o coração — você estará recebendo mais do
que músicos: estará recebendo bênçãos, história e cultura.
Referências Bibliográficas
LOPES, José Rogério. Deus
Salve Casa Santa, Morada de Foliões: Rito, Memória e Performance Identitária em
uma Festa Rural no Estado de São Paulo. Campos – Revista de Antropologia
Social, v. 6, n. 1, 2005.
MACHADO, José Henrique Rodrigues.
Cultura imaterial: folias e o catolicismo popular. Brazilian Journal
of Development, v. 6, n. 9, p. 70432-70445, 2020.
SOUZA, André Luis Santos de;
ARAÚJO, André Luiz Ribeiro de. “Folia de Reis” em Minas Gerais como Ritual
Religioso, Festa Popular e Patrimônio Imaterial. REVES – Revista
Relações Sociais, v. 3, n. 1, 2020.
MARTINS FILHO, José Reinaldo
Felipe. Música e Identidade no Catolicismo Popular em Goiás: Um Estudo sobre
a Folia de Reis e a Romaria ao Divino Pai Eterno. Dissertação (Mestrado em
Música) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2019.

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