Radio Evangélica

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Folia de Reis: Uma Jornada de Fé, Festa e Tradição que Atravessa Gerações

Imagem desenvolvida por IA
O som da viola caipira, do acordeão e das batidas firmes de caixas e pandeiros anuncia a chegada. As vozes, em coro, entoam versos que narram uma história sagrada. Bandeiras coloridas, enfeitadas com fitas e imagens santas, dançam no ar. Esta é a Folia de Reis, uma das mais ricas e emocionantes manifestações da cultura popular brasileira, um verdadeiro tesouro que mescla o sagrado e o profano em uma jornada de fé e celebração.

Celebrada anualmente entre o Natal (24 de dezembro) e o Dia de Reis (6 de janeiro), a Folia de Reis — também conhecida como Reisado ou Terno de Reis — reconstitui a jornada dos Três Reis Magos (Belchior, Gaspar e Baltazar) em busca do Menino Jesus. Mais do que um evento folclórico, ela é um elo vivo que conecta comunidades, fortalece a fé e preserva uma herança cultural que atravessa séculos.

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O Coração Religioso: A Devoção que Move a Jornada

Na sua essência, a Folia de Reis é um ato de devoção. A “jornada” do grupo de foliões, que vai de casa em casa levando sua cantoria, simboliza a peregrinação dos Magos guiados pela Estrela de Belém.
A bandeira, sempre à frente do grupo, é o elemento mais sagrado: nela estão representadas cenas do nascimento de Cristo e dos Reis Magos, sendo por meio dela que as bênçãos são levadas aos lares visitados.

Cada casa que abre suas portas para a Folia recebe cantos de louvor e prosperidade. Em troca, os moradores oferecem donativos (comida, bebida ou dinheiro) que serão usados para a grande festa de encerramento, no Dia de Reis. É um ciclo de fé, hospitalidade e partilha que reforça os laços comunitários e mantém viva a religiosidade popular.

A Explosão da Festa: Música, Cores e Personagens

Se a devoção é a alma, a festa é o corpo vibrante da Folia. Os grupos seguem uma hierarquia bem estruturada:

  • Mestre ou Embaixador: Líder que puxa os cantos e conduz os rituais.
  • Contramestre: Auxiliar direto do mestre.
  • Foliões: Cantores e instrumentistas que mantêm o ritmo e a harmonia.
  • Bandeireiro: Responsável por carregar a bandeira sagrada.
  • Palhaços (ou Bastiões): Personagens mascarados que simbolizam os soldados de Herodes — protetores do grupo e figuras de humor, misturando o sagrado e o profano em uma performance envolvente.

A música é contagiante: viola caipira, acordeão, cavaquinho, violão e percussão criam uma sonoridade inconfundível. Os versos, transmitidos oralmente, recontam a saga bíblica com poesia e emoção — uma expressão autêntica da identidade rural e da fé do povo.

A Tradição Popular: Um Patrimônio Vivo

A Folia de Reis é reconhecida como patrimônio cultural imaterial, pois seu saber é mantido na memória coletiva, não em manuais. A tradição é transmitida de forma oral, do mestre ao aprendiz, de pai para filho — um verdadeiro legado afetivo e espiritual.

Em tempos de globalização e uniformização cultural, manter viva essa manifestação é um ato de resistência. Cada grupo de Folia que sai às ruas reafirma sua identidade cultural e mantém acesa a chama das tradições brasileiras.
Mais do que uma celebração, a Folia de Reis é uma declaração de pertencimento e fé, lembrando-nos das nossas origens e da força da cultura popular.

Conclusão

A Folia de Reis é um espetáculo de fé, arte e memória coletiva. Representa a esperança que renasce a cada Natal e a comunhão que une o sagrado e o popular. Da próxima vez que ouvir o som de uma Folia se aproximando, abra a porta e o coração — você estará recebendo mais do que músicos: estará recebendo bênçãos, história e cultura.

Referências Bibliográficas

LOPES, José Rogério. Deus Salve Casa Santa, Morada de Foliões: Rito, Memória e Performance Identitária em uma Festa Rural no Estado de São Paulo. Campos – Revista de Antropologia Social, v. 6, n. 1, 2005.

MACHADO, José Henrique Rodrigues. Cultura imaterial: folias e o catolicismo popular. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 9, p. 70432-70445, 2020.

SOUZA, André Luis Santos de; ARAÚJO, André Luiz Ribeiro de. “Folia de Reis” em Minas Gerais como Ritual Religioso, Festa Popular e Patrimônio Imaterial. REVES – Revista Relações Sociais, v. 3, n. 1, 2020.

MARTINS FILHO, José Reinaldo Felipe. Música e Identidade no Catolicismo Popular em Goiás: Um Estudo sobre a Folia de Reis e a Romaria ao Divino Pai Eterno. Dissertação (Mestrado em Música) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2019.

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