Crise
política brasileira causa forte inquietação entre os argentinos
Mauricio Macri. O presidente da Argentina, Mauricio Macri (Vitor R. Raiva AP) |
Tudo o que acontece no Brasil é acompanhado na Argentina como
se fosse um assunto de política interna. Os dois gigantes do Mercosul vivem
pendentes um do outro. Por isso, o Governo de Mauricio Macri há
bastante tempo se colocou em alerta máximo com relação à situação no Brasil.
Apesar de pertencerem a correntes ideológicas diferentes, Macri assim que tomou
posse apostou fortemente em manter uma relação estreita com a presidenta Dilma
Rousseff, e agora não tem nenhum interesse na queda da presidenta brasileira,
conforme deixa claro em pronunciamentos públicos e também em conversas
reservadas com assessores. Macri e sua equipe, sob o comando da chanceler
Susana Malcorra, uma experiente diplomata, trabalham para dar o máximo de
sustentação possível a Rousseff, mas evitam se envolver além do razoável e não
usam a expressão “golpe”, encampada por vários líderes da esquerda latino-americana.
Publicamente, Malcorra diz que o Governo argentino espera que todo o conflito
seja resolvido pelas vias constitucionais. Por outro lado, tenta organizar uma
reunião do Mercosul, ainda não confirmada pelo Itamaraty, que expresse um
respaldo institucional a Rousseff e lance ao mundo a mensagem de que o
subcontinente está tranquilo.
O Governo Macri está particularmente preocupado com as
repercussões econômicas da crise no Brasil. O mercado brasileiro é o destino de
boa parte da produção industrial argentina, especialmente do setor automotivo,
que desde o ano passado enfrenta uma onda de demissões e restrições por causa
da recessão no país vizinho. A situação não para de se complicar, e Macri
deseja contribuir na medida do possível para acalmá-la. Nesta quarta-feira, em
uma coletiva de imprensa com o presidente dos EUA, Barack Obama, o mandatário
argentino lembrou "o que acontece no Brasil logo se reflete Argentina".
Ambos os líderes demonstraram confiança em que o país supere sua crise
política.
Alguns economistas e pessoas próximas ao governo também
afirmam que esta crise é uma oportunidade para que a Argentina apareça como um
país estável com um Governo forte em comparação com seu vizinho em crise.
Apontam que no momento em que há muito capital acumulado no mundo, a crise
brasileira pode fazer com que grandes investimentos que poderiam ir para aquele
país venham para a Argentina.
No entanto, a maioria dos líderes consultados afirma que,
ao contrário, para a Argentina é melhor que o Brasil esteja bem porque as
relações são tão estreitas que a queda no consumo brasileiro afeta muito as
empresas argentinas. Este verão já viveu uma consequência direta inesperada. A
crise brasileira e a desvalorização do real fizeram com que milhares de
argentinos fossem de férias para este país, muito mais barato do que o deles, o
que provocou na costa argentina uma das piores temporadas dos últimos anos. Mas
as consequências mais profundas estão no mundo industrial e exportador que tem
o Brasil como principal cliente.
Macri, portanto, vai ajudar Rousseff a continuar e não
vai se comprometer com aqueles que, em teoria, deveriam ser seus aliados
ideológicos, a oposição brasileira, que quer derrubar o governo. O presidente
argentino mantém sua aposta na relação estratégica com o Brasil e qualquer
gesto agressivo contra Rousseff agora seria uma declaração de guerra. No
entanto, também atuará com cautela, pois
ninguém sabe como vai terminar a situação. A única coisa certa é que a Casa
Rosada, sede do governo argentino, acompanha minuto a minuto o que acontece no
Brasil e, nesse momento, essa é sua principal preocupação na região e no mundo.
Por Carlos E. Cué para o El País
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