Emissora
nega afirmação do ex-presidente.
Foto: Divulgação/Chancelaria do Peru |
Em nota dirigida à TV Globo e divulgada ontem, dia 12,
pelo Instituto Lula, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou uma
reportagem exibida na última quinta-feira, dia 10, pelo “Jornal Nacional” sobre
a denúncia por lavagem de dinheiro e falsidade ideológica apresentada pelo
Ministério Público de São Paulo.
De acordo com Lula, a reportagem “endossou” a
acusação dos procuradores e não o procurou para que contasse a sua versão
sobre os fatos relacionados ao apartamento triplex em Guarujá, litoral de
São Paulo.
Na nota, o ex-presidente voltou a negar que
tenha registrado imóveis em nome de terceiros. Segundo o texto, o atual
patrimônio imobiliário do petista é “exatamente o mesmo” que o
declarado em 2003, quando assumiu a presidência do país.
O ex-presidente disse ainda que quando direito ao
contraditório é ignorado, a maior prejudicada “é a democracia”.
A emissora contestou o ex-presidente e disse que um
jornalista da TV Globo “pediu ao Instituto Lula nota comentando a denúncia
oferecida pelo Ministério Público”, mas recebeu apenas um link do site
do instituto.
Sobre o pedido de direito de resposta, a TV Globo afirmou
que o texto apresentado por Lula “se dedica, não a se defender das acusações,
mas a fazer críticas ao jornalismo da Globo”. A emissora diz ainda que “não é
parte nas investigações a que está sujeito o ex-presidente” e que continuará
noticiando os fatos “com serenidade, e sem nada a temer”.
Abaixo a nota do ex-presidente:
“Eu,
Luiz Inácio Lula da Silva, e minha mulher, Marisa Letícia, não somos e nunca
fomos donos de nenhum apartamento tríplex no Guarujá nem em qualquer outro
lugar do litoral brasileiro.
Meu
patrimônio imobiliário hoje é exatamente o mesmo que eu tinha ao assumir a
presidência da República, em janeiro de 2003:
O
apartamento onde moro com Marisa, e onde já morávamos antes do governo, e o
rancho “Los Fubangos”, um pesqueiro na represa Billings.
Ambos
adquiridos a prestações. Também temos dois apartamentos de 70 metros quadrados
que Marisa recebeu em permuta por um lote que ela herdou da mãe.
Tudo
em São Bernardo do Campo. Tudo registrado em nosso nome no cartório e na
declaração anual de bens.
Esta
é a verdade dos fatos, em sua simplicidade: entrei e saí da Presidência da
República com os mesmos imóveis que adquiri ao longo da vida, trabalhando desde
criança, como sabem os brasileiros.
Não
comprei nem ganhei apartamento, mansão, sítio, fazenda, casa de praia, no
Brasil ou no exterior.
Jamais
ocultei patrimônio nem registrei propriedade particular em nome de outras
pessoas.
Nunca
registrei nada em nome de empresas fictícias com sede em paraísos fiscais,
artifício utilizado por algumas das mais ricas famílias deste País para fugir
ao pagamento de impostos.
As
informações sobre o patrimônio do Lula – verdadeiras, fidedignas, documentadas
– sempre estiveram à disposição do Ministério Público e da imprensa, inclusive
da Rede Globo.
Estas
informações foram deliberadamente ocultadas do público na reportagem do Jornal
Nacional que apresentou as acusações do Ministério Público de São Paulo.
Eu
não fui procurado pela Globo para apresentar meu ponto de vista. Ninguém da
minha assessoria foi procurado. O direito ao contraditório foi sonegado.
Alguém
se apropriou indevidamente do meu direito de defesa.
Não
é a primeira vez que isso acontece e certamente não será a última.
Mas
eu fiquei indignado ao ver minha mulher e meu filho sendo retratados na
televisão como se fossem criminosos.
Mesmo
na mais acirrada disputa política – e o jornalismo não está acima dessas
disputas – nada justifica envolver a família, a mulher, os filhos, como ocorreu
nesse caso.
Fiquei
indignado porque, ao longo de 9 minutos, o apresentador William Bonner e o repórter
José Roberto Burnier me acusaram 18 vezes de ter cometido 10 crimes diferentes;
sem nenhuma prova, endossando as leviandades de três membros do Ministério
Púbico de São Paulo.
Reproduziram
ofensas, muitas ofensas, a partir de uma denúncia que sequer foi aceita pela
juíza. E ainda por cima, denúncia de um promotor que já foi advertido pelo
Conselho Nacional do Ministério Público, porque atuou fora da lei neste caso.
A
Rede Globo me conhece o suficiente para fazer uma avaliação equilibrada das
acusações lançadas por aquele promotor, antes de reproduzi-las integralmente
pelas vozes de William Bonner e Roberto Burnier.
A
Rede Globo recebeu, desde 31 de janeiro, todas as informações referentes ao
tríplex, com documentos que comprovam que nem eu nem Marisa nem nosso filho
Fabio somos donos daquilo. É uma longa e detalhada nota, chamada “Os documentos
do Guarujá: desmontando a farsa”.
Cheguei
a abrir mão do meu sigilo fiscal e anexei a esta nota parte de minha declaração
de bens.
Quando
divulgamos este documento esclarecedor, o Jornal Nacional fez uma série de
matérias tentando desqualificar o que estava dito lá. Duvidaram de cada
detalhe, procuraram contradições, chegaram a distorcer uma entrevista do meu
advogado.
Quanta
diferença…
Na
reportagem sobre a denúncia do procurador, nada foi questionado. Tudo foi
endossado e ratificado como se fosse absoluta verdade.
A
Rede Globo sempre poderá dizer que estava apenas “retratando os fatos”,
“prestando informações à sociedade”, “cumprindo seu dever jornalístico”.
Só não
vai conseguir explicar ao povo brasileiro a diferença gritante de tratamento:
quando acusam o Lula, é tudo verdade; quando o Lula se defende, é tudo
suspeito.
Em
40 anos de vida política, aprendi a lidar com o preconceito, com a inveja e até
com o ódio político.
Mas
não me conformo, como ex-presidente desse imenso país chamado Brasil, não posso
me conformar de ser comparado a um traficante de drogas, como aconteceu no
final da reportagem.
Essa
comparação ofensiva, injuriosa, caluniosa, não está nos autos da denúncia do
Ministério Público.
Não
sei quem decidiu incluir isso na reportagem, mas posso avaliar seu caráter.
Se
esta mensagem está sendo lida hoje na Rede Globo é por uma decisão da Justiça,
com base na Lei do Direito de Resposta, aprovada pelo Congresso Nacional e
sancionada pela presidenta Dilma Rousseff no final do ano passado.
Esta
lei garante que a Liberdade de Imprensa seja realmente um direito de todos e
não um privilégio daqueles que detém os meios de comunicação.
É
ela que nos permite enfrentar a ocultação de informações, a sonegação do
contraditório, a falsidade informativa, a lavagem da notícia.
Estes
vícios foram sistematicamente praticados pelos grandes veículos de comunicação
do Brasil durante a ditadura e fizeram tão mal ao País quanto a censura, que
abolimos na Constituição de 1988.
A
Rede Globo levou mais de 30 anos para pedir desculpas ao País por ter apoiado a
ditadura, praticando um jornalismo de um lado só. Graças à lei do Direito de
Resposta, não tenho de esperar tanto tempo para responder às ofensas dirigidas
a mim e a minha família no Jornal Nacional.
Eu
não estou usando este direito de resposta para me defender apenas, e a minha
família. É para defender a democracia, o estado de direito e a própria
liberdade de imprensa, que só é verdadeira quando admite o contraditório e
respeita a verdade dos fatos.
Quando
estes princípios são ignorados, em reportagens como aquela do Jornal Nacional,
o maior prejudicado não é o Lula, é cada cidadão e a sociedade, é a
democracia”.
Portal Vox
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