Suposto acordo de delação do Senador Delcídio Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado, foi divulgado nesta última quinta (3) |
A divulgação pela imprensa de parte do depoimento do
senador Delcídio Amaral (PT-MS) deu início a um intenso debate nos bastidores
da política sobre os supostos interesses no vazamento. Segundo a revista IstoÉ,
Delcídio iniciou com a Procuradoria-Geral da República negociações para fechar
uma delação premiada na Operação Lava Jato. Ele citou vários nomes, incluindo o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff. Em nota,
Delcídio não confirmou o conteúdo da reportagem, mas tampouco negou as
informações.
Logo após a publicação do texto, na quinta-feira de
manhã, Dilma se reuniu com ministros e assessores. Ao se pronunciar, no início
da noite, afirmou: “Repudiamos, em nome do Estado Democrático de Direito, o uso
abusivo de vazamentos como arma política”. Naquela altura, o que se especulava
em Brasília era quem havia vazado parte do depoimento e a serviço de que
interesses.
Conforme apurou o Estado com um senador
governista, as citações a Lula e a Dilma dão a entender que o vazamento tinha
intenção de prejudicar o governo e o PT. Mas ele aponta para uma possível
“operação de redução de danos”. Ciente do estrago das revelações de Delcídio, o
governo teria preferido abrir parte do conteúdo para se vitimizar e atacar os
“vazamentos com fins políticos”.
Essa hipótese também embutiria a tentativa de “melar”,
segundo termo usado pelo senador ouvido pelo Estado, a validade jurídica
do depoimento de Delcídio. Em outras palavras, para o Planalto era preferível o
estrago político, devidamente consumado assim que a reportagem foi publicada,
ao estrago jurídico: a homologação da delação pelo ministro Teori Zavascki,
responsável pela Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).
O ponto mais intrigante é a celeridade e o domínio de
informações sobre o caso do advogado-geral da União José Eduardo Cardozo,
ex-titular da Justiça. Ele é citado por Delcídio em suposta tentativa de barrar
o avanço da Lava Jato. Na tarde de quinta-feira, Cardozo expôs uma explicação
pronta e acabada para as “motivações” de Delcídio: sair da prisão e se vingar
de Dilma numa só tacada.
Para observadores dos mundos político e jurídico, Cardozo
foi rápido demais na construção de uma linha de defesa que deixou a desejar em
termos de consistência, por exemplo, na explicação das acusações de Delcídio de
que Dilma acompanhou de perto a compra da refinaria de Pasadena (EUA) e de que
participou de armações para libertar no Superior Tribunal de Justiça (STJ)
empreiteiros presos. Adotou uma linha eminentemente política e partiu para a
desqualificação de Delcídio, que até ser preso era líder de Dilma no Senado e
privava da convivência direta com a presidente. O ministro é apontado, segundo
apurou o Estado, pelo próprio Delcídio como responsável pelo vazamento –
Cardozo nega.
Fora da esfera da luta política, o que Cardozo e o
Planalto ganhariam com a divulgação? Os acordos de delação pressupõem, entre
outros, a confidencialidade e o ineditismo das informações. Assim, os advogados
dos citados por Delcídio teriam um argumento forte para uma luta judicial. No
entanto, no fim da noite de quinta-feira, a jornalista Renata Lo Prete, da
GloboNews, revelou que Zavascki está decidido a aceitar o conteúdo do
depoimento de Delcídio, apesar do vazamento.
Do ponto de vista da oposição, conforme um deputado
tucano, há suspeitas de que a divulgação possa ter partido da PGR ou de pessoas
com acesso ao Supremo para evitar que o caso fosse abafado pelas autoridades em
benefício do governo. Nessa hipótese, a divulgação pressionaria a Lava Jato a
levar adiante a apuração do que relatou Delcídio. O problema é que ninguém,
além das autoridades competentes, sabe tudo o que revelou o senador que tinha
muito bom trânsito no Planalto, na Petrobrás e na própria oposição.
Por Alberto Bombig – O Estado de São Paulo
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