Crise no mercado de trabalho se agrava
e chega a quem tem mais de cinco anos na empresa
Daniel Cardel foi demitido em dezembro Foto: Arquivo Pessoal/Daniel Cardeal |
A batalha diária por uma
vaga de emprego ganha contornos cada vez mais dramáticos para mais de 10,4
milhões de brasileiros, sendo 1,6 milhão deles moradores da região
metropolitana de São Paulo.
A
taxa de desemprego atingiu 10,2% da população economicamente ativa, segundo o
IBGE, para o trimestre de que termina em fevereiro deste ano. É o maior desde
2012, quando começou a apuração do índice na Pnad (Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílio Contínua), e a primeira vez que o índice nacional atinge
dois dígitos.
No levantamento de taxa de desemprego do Dieese (Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos), em fevereiro, o índice foi de 14,7%. Em
relação a janeiro, subiu em 68 mil o número de trabalhadores demitidos.
A
onda de desemprego dos últimos anos atingiu também funcionários com mais de
cinco anos de empresa e carreiras estabilizadas. É o caso do consultor Daniel
Cardeal, 36 anos, que trabalhou por sete anos na área de projetos de uma
empresa de tecnologia. Em dezembro, ele foi demitido.
—
Desde então, mandei currículo para onze empresas do ramo e apenas duas chamaram
para entrevistas.
Cardeal
tem pós-graduação em marketing e recebeu duas promoções importantes na empresa.
—
Houve uma redução no quadro de funcionários e outras pessoas também foram
demitidas.
Como
termômetro da crise no mercado de trabalho, Cardeal cita a evolução das
propostas que recebeu.
— Em
2013 e 2014, recebi convites de empresas concorrentes. Ano passado, não fui
sondado uma única vez. O setor parou de contratar e começaram as demissões.
O
consultor mora no bairro do Jabaquara e trabalhava no jardim Marajoara.
— Era bem perto de casa, mas como agora está
difícil achar um emprego, eu estou procurando emprego em qualquer bairro. Com
as economias que guardei, consigo me manter por mais cinco meses.
Criatividade
A
analista de Recursos Humanos Ana Paulo Soares Sobrinho, 32 anos, trabalhou por
seis anos e seis meses em uma empresa de tecnologia da informação. A demissão
aconteceu em julho do ano passado.
— Na
semana em que fui demitida, mais 15 pessoas de outras áreas também perderam o
emprego lá.
Ana
Paula fez cadastro em cinco sites de recolocação profissional.
—
Minha rotina é entrar diariamente nesses sites, enviar currículos, mas não tem
muitas vagas, as que possuem estão pagando bem abaixo da média, pois sabem que
todos estão no desespero.
Na
luta por uma vaga, a analista de Recursos Humanos tentou também oportunidades
de trabalho em outras áreas. Mas aí, até a experiência e a formação
acadêmica contam contra a candidata.
— Já
mandei currículo para auxiliar administrativo, recepcionista. Mas as empresas
não chamam porque tenho muita bagagem e eles pensam que lá na frente, na hora
em que o mercado voltar a esquecer, vão perder a funcionária.
Enquanto
a situação não melhora, Ana Paula vai driblando a crise com criatividade.
—
Estou vendendo alguns kits de produtos para cabelo e corpo. Não chega nem perto
de um salário mínimo, mas tem dado pelo menos para ajudar em alguma conta de
casa.
O
aperto na renda familiar é uma das mais graves consequências da crise pela
falta de emprego.
"Vários estudos
mostram que quando o chefe de família perde o emprego, o cônjuge e o filho
entram na força de trabalho para tentar substituir a renda perdida. Muitas
vezes o jovem deixar de estudar para procurar emprego. Mas, como não há
empregos disponíveis, a taxa de desemprego entre os jovens e mulheres deve
aumentar bastante nos próximos meses. Isso significa que a taxa de desemprego
em 2016 deverá superar o pico de desemprego no ciclo recessivo anterior, quando
chegou a 10,5% da força de trabalho”, disse Naercio Menezes Filho, coordenador
do centro de políticas públicas do instituto de pesquisa Insper.
Por
Juca Guimarães para o R7
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