A chefe do Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo
Cruz (IOC/Fiocruz), Ana Maria Bispo, disse que desde a identificação de ligação
entre o vírus Zika e os casos de microcefalia, o Brasil saiu de uma fase de
desinformação total sobre a ocorrência para cerca de 30%, mas admitiu que há um
longo caminho pela frente para que pesquisadores e especialistas consigam
conhecimento suficiente sobre os efeitos do vírus e os reflexos causados nos
infectados. “Que fatores poderiam estar favorecendo para a invasão deste vírus?
Atravessar a placenta e infectar o feto. Qual é a célula-alvo desse vírus no
feto. Então, esse tipo de perguntas é que a gente precisa [esclarecer]”,
completou.
Além da microcefalia, já foram comprovados problemas de
alteração de visão nos bebês nascidos de mães infectadas com o vírus Zika. Ela
acrescentou que um outro questionamento feito é por que o vírus ultrapassou a
barreira placentária, enquanto os estudos indicavam até agora que isso não
acontecia?
A pesquisadora revelou que a Fiocruz já vem fazendo
testes com minicérebros produzidosin vitro, que são infectados com o vírus
para acompanhar toda a evolução da infecção. “Tudo isso é um leque de estudos
que temos pela frente, e não se sabe absolutamente nada sobre esse vírus. A
cada dia é uma coisa nova. Não é só a microcefalia. A microcefalia é um dos
problemas. Tem se observado uma série de sequelas nos bebês. A microcefalia é a
mais gritante; aquela que chama mais atenção; mas tem uma série de outras
sequelas”, disse ela.
Ana Maria Bispo foi a primeira pesquisadora a
diagnosticar a presença do vírus Zika no líquido amniótico. O teste foi feito
em duas gestantes de Campina Grande, na Paraíba, e comprovou a ligação da
doença com a microcefalia. Ela alertou, no entanto, que nem todas as gestantes
com resultado positivo de zika têm bebês com malformações. “Esta é mais uma
pergunta. Por que algumas têm bebê com microcefalia e outras não? Tudo isso é
motivo de investigação”, reforçou.
Ana Maria Bispo informou que por causa dessa abrangência
de reflexos, alguns pesquisadores estão propondo que não haja referência única
à microcefalia, mas seja nomeada de síndrome congênita de zika, a exemplo da
síndrome congênita da rubéola. “Eles estão querendo chamar de síndrome porque é
uma doença muito maior que apenas a microcefalia”, adiantou.
A pesquisadora defende que o Ministério da Saúde adote a
notificação obrigatória para os casos de zika no país. Segundo ela, com isso
será possível ter avaliação dos registros e números de pessoas infectadas no
Brasil, o que também favorecerá os estudos nessa área. “Ainda faltam muitos
dados para que a gente possa acompanhar a necessidade de estudos de caso e
controle de gestantes que tenham bebês com microcefalia, [bem como] as que
tenham tido zika e não conceberam bebês com microcefalia”, analisou.
Para a especialista, a falta de dados, por não haver
notificação obrigatória de zika, vai ser reduzida com a utilização dos kits NAT
Discriminatório para Dengue, Zika e Chikungunya, mas, mesmo assim, a
notificação obrigatória é necessária. “O ministério vai ter o número de casos
reais de zica, de dengue e de chikungunya, porque dengue e chikungunya já são
casos de notificação obrigatória. Acredito que em pouco tempo o zika também,
pela sua importância epidemiológica”, apontou.
Sobre a vacina, ela explicou que os estudos serão feitos
no Instituto Bio-Manguinhos da Fiocruz, a partir de um vírus Zika isolado pelo
Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz. “A gente trabalha em
parceria”, contou.
A pesquisadora acrescentou que ainda não é possível
estimar quando a vacina ficará pronta, mas como o instituto já desenvolve
estudos para uma vacina contra dengue, é possível usar a mesma plataforma. Além
disso, há estudos em outros institutos no Brasil.
Fonte: Agência Brasil
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