O
equilíbrio estratégico do que a Colômbia necessita para seu desenvolvimento
industrial e comercial foi rompido, pois ele fica agora nas mãos de um distante
grupo canadense que não pensa na Colômbia nem em sua bio-diversidade.
O presidente Santos fez, de novo, o que queria. Cedeu a
uma multi-nacional canadense, por um punhado de dólares, um elemento capital da
independência energética da Colômbia. A venda da Isagén não foi só uma
“privatização”, como pretende a claque governante. Essa venda, que inclui as
caras instalações de cinco plantas hidrelétricas e uma térmica, mais de 11.000
hectares de bosques, lagoas e rica bio-diversidade (com 92 espécies ameaçadas
ou em vias de extinção), é uma operação administrativa irresponsável que terá
repercussões políticas. É, em última instância, o maior crime que um mandatário
tenha podido cometer contra a autonomia industrial, social e climática de seu
próprio país.
Santos fez isso como faz com o resto dos temas de seu
governo: sem ouvir ninguém, sem respeitar as opiniões das autoridades de
controle, sem atender ao clamor popular e sem levar em conta as previsões mais
elementares sobre o que exige o futuro elétrico do país. Fez, como está fazendo
com o chamado “processo de paz”: de maneira autoritária e passando por cima de
todos.
Santos faz um e outro porque decidiu favorecer uma agenda
pessoal, rechaçando de maneira displicente o que a Procuradoria Geral da Nação
e a Controladoria Geral advertiram, fazendo caso omisso do que diziam os
experts, os partidos e muitos congressistas e, sobretudo, o que explicava a
oposição parlamentar, de esquerda e de centro-direita. Santos varreu de uma
vassourada só o pronunciamento da Assembléia de Santander, as estimativas de
veteranos dirigentes empresariais, as pesquisas de opinião e as ações massivas
dos usuários (apagões e plantões de protestos).
Há na linha de Santos sobre Isagén um frescor de ardente
autoritarismo. O laço que unia teórica e sentimentalmente o mandatário com a
nação, a crença de que este era o presidente de todos os colombianos, que ouvia
argumentos, foi jogado à terra pelo interessado. El Mundo, de Medellín,
disse com razão que a venda de Isagén “afetou a confiança do público na
democracia das instituições republicanas”.
Bom negócio fez a firma Brookfield Asset Management que,
por apenas dois milhões de dólares, se apoderou de 57,6% das ações de Isagén,
uma empresa em excelentes condições que vale o dobro e que, junto à EPM, produz
45% da eletricidade da Colômbia (só Isagén gera 16% da eletricidade que o país
consome). Ao vendê-la assim, Santos deu de presente a este investidor mais de
500 milhões de dólares, como demonstrou Eduardo Sarmento Palacio em sua nota de
3 de janeiro passado. O equilíbrio estratégico do que a Colômbia necessita para
seu desenvolvimento industrial e comercial foi rompido, pois ele fica agora nas
mãos de um distante grupo canadense que não pensa na Colômbia nem em sua
bio-diversidade, nem nas perturbações climáticas trazidas pelo fenômeno El
Niño, senão nos interesse de seus acionários.
Após esse passo, o que segue é o aprofundamento do caos
santista: mais insolência e poderes especiais ao chefe de Estado, mais
bonapartismo caprichoso e míope, mais amargura da população, mais aumentos de
impostos, agravamento dos índices de corrupção no setor da construção e,
sobretudo, maior manipulação das consciências mediante a agitação da utopia da
paz com as FARC armadas e entronizadas na vida política.
Santos impôs sua linha inepta de ceder a Isagén (a perda
patrimonial com essa operação é evidente pois a rentabilidade dela é muito
superior à das futuras rodovias), com o pretexto de melhorar a rede viária
nacional. Porém, Fabio Echeverri, ex-presidente de Ecopetrol, assinalou com
cifras na mão que esse plano de construção de vias se podia fazer sem alienar
Isagén. Na realidade, Santos optou por essa venda apressada ante sua falta de
liquidez para financiar os acordos de co-governo com as FARC.
Desafortunadamente, a oposição de centro-direita, apesar de sua militância
parlamentar abnegada, constante e lúcida, porém algo desorganizada, foi incapaz
de unir e mobilizar o país em torno de uma palavra-de-ordem (Não à venda da
Isagén) e fechar a passagem a essa bofetada.
Esse triunfo de Santos sobre a oposição é um mal
presságio para a nova contenda política que vem entre Santos e o país: a do
plebiscito de aceitação ou rechaço dos escandalosos “acordos de paz” entre o
governo e o bando narco-terrorista FARC. A oposição uribista será capaz de ir
além de seu eleitorado para mobilizar as maiorias patrióticas em uma frente com
uma só palavra-de-ordem: votar NÃO no plebiscito contra a paz de Santos, quer
dizer, contra uma falsa paz sem justiça e sem sistema democrático?
ESCRITO POR EDUARDO MACKENZIE para o site mídia sem máscara
| 24 JANEIRO 2016
Tradução: Graça
Salgueiro
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