AFP/Federico Parra |
A oposição venezuelana redobrou nesta quinta-feira a
pressão internacional para abrir caminho a um referendo revogatório contra o
presidente Nicolás Maduro, que prepara as forças militares para iniciar
exercícios de defesa sob o estado de exceção.
O líder da oposição Henrique Capriles e o presidente do
Parlamento - de maioria opositora -, Henry Ramos Allup, e outros deputados se
reuniram com o ex-presidente do governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero e
com o ex-presidente panamenho Martín Torrijos.
"Foram revisados todos os problemas do país, o
referendo, a economia. Há uma enorme preocupação mundial com o tema venezuelano
(...) lamentavelmente se vê que não há a sensatez necessária", declarou o
chefe da bancada opositora, Julio Borges.
Maduro se reuniu na noite de quarta-feira com Torrijos e
Zapatero, que informou nesta quinta que uma comissão da Unasul iniciará gestões
para alcançar um diálogo entre o governo e a oposição.
"Pedirei à comunidade internacional que apoie este
objetivo de um grande diálogo nacional e que possamos ter em um prazo razoável
uma agenda", declarou Zapatero, que lidera a missão, em uma coletiva de
imprensa.
Na quarta-feira, os opositores exigiram o revogatório em
protestos em 23 cidades, que deixaram trinta detidos e sete policiais feridos.
Durante a noite foram ouvidos panelaços em vários setores de Caracas.
A oposição, reunida na Mesa da Unidade Democrática (MUD),
exige que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado de ser aliado do regime,
acelere a revisão de um mínimo de 200.000 assinaturas - exigidas por lei - de
um total de 1,8 milhão entregues no dia 2 de maio como requisito para ativar o
referendo revogatório.
A MUD pressiona para que o revogatório ocorra em 2016 e
sejam realizadas eleições, já que, se ele for realizado após 10 de janeiro de
2017 - quando são completados quatro anos do atual mandato - e Maduro perder,
os dois anos restantes ficariam a cargo do vice-presidente, designado pelo
presidente.
De acordo com a empresa de pesquisas Datanálisis, 70% dos
venezuelanos apoiam uma mudança de governo. Para revogar Maduro, a oposição
precisa de uma votação de mais de 7,5 milhões de pessoas, número com o qual o
governante foi eleito em abril de 2013.
Militares preparados
Sob estado de exceção, 519.000 militares e milicianos
farão exercícios de defesa na sexta-feira e no sábado, classificados pelo
ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, de "sem precedentes"
por seu "alcance e natureza".
"Este exercício não é para causar nenhum alarme no
país", manifestou o ministro, justificando-no no fato de que a
"Venezuela neste momento está ameaçada"
AFP/Federico Parra |
O cientista político Benigno Alarcón, da Universidade
Católica Andrés Bello, estimou que estas "grandes mobilizações
militares" buscam gerar temor no povo: "Realizá-las com a desculpa
das ameaças externas é uma boa maneira de demonstrar que está" a postos,
afirmou.
Após os protestos, Maduro advertiu ter preparado um
decreto de "comoção interna" que será utilizado se forem
desencadeados atos "golpistas violentos", o que implicaria restrições
às liberdades civis.
Embora os protestos não tenham atraído multidões, nas
ruas aumenta o mal-estar diante da dramática escassez de comida e do alto custo
da vida, já que a Venezuela tem a inflação mais alta do mundo (180,9% em 2015 e
projetada pelo FMI em 700% para 2016).
"Esta situação é muito crítica, parece que não tem
solução, isso demora a se acomodar. Eu assinei (para pedir o referendo), mas
não fui ao protesto, prefiro ficar protegida", afirmou uma empregada
doméstica de 55 anos que pediu para ter sua identidade preservada.
Ainda estão frescas na memória as manifestações de 2014 -
quando 43 pessoas morreram - convocadas pelo líder opositor radical, Leopoldo
López, condenado a 14 anos de prisão.
No foco internacional
Maduro sustenta que a oposição busca justificar uma
intervenção dos Estados Unidos, e para isso pretende gerar violência, propagar
a ideia de que na Venezuela há uma crise humanitária e faz lobby no exterior.
AFP/Anella Reta, Gustavo IZUS |
Uma comissão de deputados pediu nesta quinta-feira em
Washington ao secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA),
Luis Almagro, que invoque com urgência a Carta Democrática Interamericana,
mecanismo que a entidade pode ativar em caso de ruptura do marco democrático em
algum Estado membro.
Em uma forte troca de declarações, Almagro disse na
quarta-feira que Maduro será um "ditadorzinho" se bloquear o
referendo, levando o líder venezuelano a chamá-lo de "lixo".
Ao reagir a esta polêmica, o ex-presidente do Uruguai
(2010-2015) José Mujica, que foi muito próximo ao chavismo, disse que Maduro
está "louco como uma cabra".
AFP
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