Foto: Paulo Lisboa/FolhaPress |
O ex-deputado e ex-presidente do PP Pedro Corrêa, preso
em Curitiba (PR) pela Operação Lava Jato, afirmou, em documentos que integram
seu acordo de delação premiada, que o ex-presidente Lula discutia pessoalmente
o esquema de corrupção da Petrobras.
Ele também citou vários deputados, senadores, ministros,
ex-ministros e ex-governadores envolvidos em esquemas de corrupção, além de ter
confessado que recebeu dinheiro desviado de mais de 20 órgãos ligados ao
governo federal.
As informações foram publicadas nesta sexta (27) pela
revista "Veja".
Segundo a publicação, Corrêa relatou que parlamentares do
PP se rebelaram com o avanço do PMDB nos contratos da diretoria de
abastecimento na época em que a área era dirigida por Paulo Roberto Costa.
Um grupo teria ido ao Palácio do Planalto para falar com
Lula e reclamar da "invasão". De acordo com Corrêa, o então
presidente passou uma descompostura nos deputados dizendo que eles
"estavam com as burras cheias de dinheiro" e que a diretoria era
"muito grande " e tinha que "atender os outros aliados"
pois o orçamento era muito grande. Segundo a publicação, os caciques do PP se
conformaram quando Lula lhes garantiu que a maior parte das comissões seriam
dirigidas para a sigla.
A revista também diz que, confirme o relato de Corrêa,
Lula ordenou que os partidos se entendessem. O ex-deputado, representando os
interesses do PP, reuniu-se com a alta cúpula do PMDB para tratar da partilha.
O senador Renan Calheiros (AL) é apontado como um dos primeiros a ser procurado
para acertar "o melhor entendimento na arrecadação".
Segundo a publicação, Corrêa revelou ter feito o mesmo
com outros caciques da legenda, como o deputado Eduardo Cunha (RJ) e com o
senador Romero Jucá (RR).
"Veja" também traz um relato de Corrêa sobre
uma reunião com a participação dos diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa
(área de abastecimento) e Nestor Cerveró (área internacional), com o lobista
Jorge Luz, os senadores Renan Calheiros, Romero Jucá, Jader Barbalho (PMDB-PA)
e o atual ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), em 2006.
No encontro, os caciques da sigla apresentaram uma conta
de US$ 18 milhões em propina para apoiar a continuidade de Costa e Cerveró na
estatal. O valor teria que ser repassado antes da campanha eleitoral daquele
ano e, segundo o delator, a sigla recebeu efetivamente US$ 6 milhões.
A matéria diz que Corrêa contou que Eduardo Cunha recebeu
US$ 6 milhões e que Henrique Eduardo Alves ficava com parte de tudo o que era
arrecadado pelo PMDB no esquema.
O ex-deputado também afirma que o ex-ministro e senador
Edison Lobão (MA), teve participação nos contratos com empreiteiras e atribui
ao atual secretário de governo, Geddel Vieira Lima (BA), a indicação do senador
cassado Delcídio Amaral, na época do PT, para ocupar uma diretoria da Petrobras
no governo Fernando Henrique Cardoso. No relato, ele afirma que Delcídio
cobrava propina de empresas com negócios na diretoria que comandava e repassava
parte do dinheiro para o PMDB e PP.
NOMEAÇÃO
A revista relata novamente a atuação de Lula quando foi
presidente para nomear Paulo Roberto Costa, indicado do PP, para a diretoria de
abastecimento. O diálogo, a que a Folha teve acesso, foi revelado em
2015 também pela revista "Veja".
"Mas Lula, eu entendo a posição do conselho. Não é
da tradição da Petrobras, assim, sem mais nem menos trocar um diretor",
disse Dutra, na época presidente da estatal. Lula respondeu, segundo Corrêa:
"Se fossemos pensar em tradição nem você era presidente da Petrobras e nem
eu era presidente da República", teria dito.
Em março, a Folha revelou que
na negociação de seu acordo de delação premiada o ex-deputado citou o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso teria comprado apoio de deputados para
aprovar a emenda da reeleição, e que o ministro do TCU Augusto Nardes se
beneficiou do esquema de propina do mensalão quando era político.
A Folha também revelou que o pernambucano
apresentou uma lista de operadores de propina e incluiu o nome de Andrea Neves,
irmã do senador Aécio Neves (PSDB-MG), como a responsável por conduzir
movimentações financeiras ligadas ao tucano.
A citação a ela inclui uma lista de nomes como Marcos
Valério, operador do mensalão, e Benedito Oliveira, o Bené, investigado e delator
na Operação Acrônimo, que apura suspeitas de irregularidades na campanha de
Fernando Pimentel (PT) ao governo de Minas Gerais, no ano de 2014.
LISTA
Segundo a revista, o ex-deputado diz que o senador Aécio
Neves (PSDB-MG), o ex-ministro Alexandre Padilha (PT-SP), o ex-ministro Alfredo
Nascimento (PR-AM), o ex-ministro José Dirceu, o deputado José Guimarães
(PT-CE) se beneficiaram de propina.
Corrêa cita outros políticos que, segundo ele, tinham
conhecimento de pagamento de propina ou envolvimento em atos ilícitos como Aldo
Rebelo (Pcdo B - SP), o ex-ministro Aloizio Mercadante (PT-SP), o ministro do
TCU Augusto Nardes, o ex-ministro Jaques Wagner (PT-BA), o deputado Paulo Maluf
(PP-SP), a ex-governadora Roseana Sarney (PMDB-MA) e o senador Valdir Raupp (PMDB-RO).
A revista diz que Corrêa relatou que a presidente
afastada Dilma Rousseff se reuniu com Costa em 2010 para pedir apoio financeiro
para sua campanha.
A delação aguarda homologação do ministro do STF Teori
Zavascki.
OUTRO
LADO
Em nota, o Instituto Lula afirmou que Pedro Corrêa tenta,
com a delação, evitar o cumprimento de sua pena. "Pedro Corrêa foi
condenado pelo juiz Sergio Moro a mais de 20 anos de cadeia por ter praticado
72 crimes de corrupção e 328 operações de lavagem de dinheiro. Foi para não cumprir
essa pena na cadeia que ele aceitou negociar com o Ministério Público Federal
uma narrativa falsa envolvendo o ex-presidente Lula, inventando até mesmo
diálogos que teriam ocorrido há 12 anos", diz o texto.
Segundo o instituto, "é repugnante que que policiais
e promotores transcrevam essa farsa em documento oficial, num formato
claramente direcionado a enxovalhar a honra do ex-presidente Lula e de um dos
mais respeitáveis políticos brasileiros, o falecido senador José Eduardo Dutra,
que não pode se defender dessa calúnia".
Os advogados do petista entraram nesta sexta (27) com uma
petição na Justiça para ter acesso aos anexos em que Pedro Corrêa cita Lula.
O presidente do Senado divulgou uma nota prestando
esclarecimentos sobre as declarações de Corrêa. "O Senador Renan Calheiros
assegura que não se reuniu com Pedro Corrêa e nunca o faria por se tratar de
pessoa que não é de suas relações, nem políticas ou pessoais".
"Chega de delação de bandidos citando relações
inexistentes ou fictícias para sair da cadeia e expor terceiros. A delação que
não for confirmada deve agravar a pena dos autores e não livrá-los da
cadeia", escreve Renan.
Quando a Folha revelou a citação do ministro do
TCU Augusto Nardes na delação, ele afirmou que o envolvimento de seu nome é uma
"retaliação pela oposição" que fazia dentro do PP à figura de Pedro
Corrêa.
Disse que foi um candidato independente ao cargo e que
não contou com apoio do ex-parlamentar, na época presidente da sigla.
Já o senador Aécio Neves, citado como suposto destinatário
de propina em uma obra da estatal de energia Furnas disse à publicação que o
assunto já foi arquivado pela Procuradoria-Geral da República e classifica a
citação como "absurda, mentirosa, irresponsável e cretina".
Em nota, o PSDB afirmou repudiar "a repetição das
mesmas antigas e falsas acusações que vêm sendo feitas há anos por seus
adversários políticos sempre na base do ouvir dizer de terceiros". "O
assunto já foi, inclusive, arquivado pela PGR [Procuradoria-Geral da República]
diante da inexistência de qualquer prova ou indício que possa minimamente
comprová-lo", diz o texto.
Folha de São Paulo
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