Senadores
tentam obter vantagens em troca de seus votos para confirmar ou não o
impeachment de Dilma
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado |
Uma dezena de senadores vive hoje como se fosse uma corda
em um cabo-de-guerra na disputa por votos para a derradeira batalha do
impeachment. De um lado, puxa o presidente Michel Temer (PMDB). Do outro, a
presidente afastada, Dilma Rousseff (PT). Eles se movem de acordo com os acenos
feitos às duas forças. Pedem espaço no governo, liberação de emendas e apoio em
suas bases eleitorais. As ofertas são feitas em almoços, jantares, cafezinhos
ou recados enviados por emissários. Na corrida para “virar” votos esses
senadores escancaram, em alguns casos, um fisiologismo ainda mais aperfeiçoado
do que aquele em prática na Câmara, para conseguir angariar apoio dos
deputados. Alguns senadores querem se aproveitar da situação urgente para
garantir sua cota de vantagens. Para afastar Dilma de vez é necessário dois
terços dos votos dos senadores presentes. Se os 81 comparecerem, o mínimo é 54.
Hoje, estão sob o oportuno manto da indecisão os
senadores Acir Gurgacz (PDT – RO), Antônio Carlos Valadares (PSB – SE),
Cristovam Buarque (PPS – DF), Edison Lobão (PMDB-MA), Eduardo Braga (PMDB –
AM), Jader Barbalho (PMDB-PA), José Maranhão (PMDB-PB), Hélio José (PMDB – DF),
Omar Aziz (PSD – AM), Reguffe (Sem Partido-DF), Roberto Rocha (PSB – MA),
Romário (PSB – RJ) e Sérgio Petecão (PSD-AC). Alguns deles votaram efusivamente
pela admissibilidade do impeachment, mas, agora, estranhamente, perderam a
convicção. É o caso de Romário.
De acordo com um ministro de alto escalão do governo
Temer, as mais recentes declarações do ex-jogador sobre o processo nada mais
são do que “uma tentativa de valorizar o passe”. Na última quarta-feira 1º, o
senador renunciou à sua vaga na Comissão Especial do Impeachment e em seu lugar
assumiu a senadora Lúcia Vânia (PSB-GO). Nesta reviravolta, estaria em jogo a
negociação para que o senador e ex-ministro Romero Jucá (PMDB-RO) formulasse um
novo relatório para a CPI do Futebol, da qual Romário é presidente. Nas
redes sociais, o socialista disse que “novos fatos políticos” irão nortear sua
decisão.
Alguns peemedebistas despertam especial preocupação para
ambos os lados. É o caso do senador e ex-ministro de Minas e Energia dos
governos Dilma e Lula Edison Lobão (PMDB-MA), que votou pela abertura do
processo de impeachment, mas nos últimos dias enviou sinais de que pode mudar
de ideia. Ele tem mantido diálogo com pessoas próximas a Dilma. Em seu voto, já
havia deixado a porta de negociação aberta ao proferir: “Venho a esta tribuna
sem prazer. Não quero tripudiar sobre uma gladiadora ferida”.
Cientes das investidas petistas, Temer e o ministro da
Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, convidaram Lobão e os
correligionários José Maranhão (PMDB-PB) e João Alberto (PMDB-MA) para uma
conversa no Palácio do Planalto, na tarde da última quarta. Maranhão votou pela
admissibilidade e Alberto posicionou-se contra, mas agora ambos são apontados
como indecisos. Porém, é claro, abertos ao diálogo.
Outro senador que visitou o Planalto no mesmo dia foi
Hélio José (PMDB-DF), para uma conversa com Geddel. Recém-filiado ao PMDB, o
parlamentar demorou a se posicionar e, novamente, recebeu a visita da dúvida.
Na conversa, ele teria dito que a argumentação das “pedaladas fiscais” e da
improbidade administrativa seria “frágil”. Entre os indecisos, prevalece a
opinião de que a votação definitiva dependerá muito da capacidade de
articulação do Planalto, bem como dos próximos desdobramentos da Lava Jato que
impactam diretamente na opinião pública. Em outras palavras: buscam benesses no
governo Temer.
Pressionado pela direção nacional do PDT, Acir Gurgacz
sinalizou que pode ser contra o impeachment. Em dezembro, o senador relatou as
chamadas “pedadas fiscais” e, contrariando o Tribunal de Contas da União (TCU),
votou pela aprovação das contas do governo, apenas com ressalvas. Agora, ele
diz que o voto do impeachment é “diferente”. “Em momento algum, manifestei como
será meu voto na fase de julgamento”, disse o senador em nota. De toda forma,
ele desautorizou o PDT a falar em seu nome contra o impeachment. Em maio, ele
bradava a plenos pulmões que os brasileiros não suportavam mais “a crise moral,
ética e econômica” e que não havia mais como “repactuar a governabilidade entre
o governo e o Congresso Nacional”. Dilma não mudou. Mudou o Acir. Por que será?
Isto é
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