Há enorme relutância hoje entre os jovens para assumir
certezas, e essa relutância se revela na linguagem. Em qualquer assunto onde
haja possibilidade de discordância, coloca-se um ponto de interrogação no final
da frase. Para reforçar a postura de neutralidade, inserem-se palavras que
cumprem a função de “aviso legal”. Entre elas, a favorita é “tipo”. A despeito
do quão inflexível eu possa ser em relação ao fato que a Terra é esférica,
surgirá alguém para sugerir que ela é “tipo, esférica?”
De onde surgiu essa hesitação onipresente? Em minha
opinião, ela está ligada à nova ideologia da não-discriminação. A educação
moderna almeja ser “inclusiva”, o que significa nunca soar demasiadamente certo
de algo, para não deixar desconfortável quem não comunga de suas crenças. Na
verdade, a própria afirmação de que se trata de “crenças” derrama certa
suspeita sobre o que dizemos. O correto são “pontos de vista”. Afirmar certezas
em uma sala de aula hoje em dia invoca sempre olhares de desconfiança – não
porque se possa estar errado, mas pela extravagância do próprio ato de ter
certezas e, mais estranho ainda, querer comunicá-las a outrem. Quem tem
certezas exclui, desrespeita o direito que todos temos de formar pontos de
vista sobre aquilo que importa.
Todavia, basta olhar de perto a própria ideia de
inclusividade para entender que ela não tem nada a ver com liberdade. Os
estudantes estão mais prontos que nunca para exigir que se negue palanque a
quem fala ou pensa de forma errada. Falar ou pensar de forma errada, entretanto,
não significa discordar das crenças dos estudantes – afinal, eles não têm
crenças. Significa pensar como se realmente houvesse algo em que pensar – como
se realmente houvesse uma verdade a ser buscada, e que faz sentido, uma vez que
a encontremos, falar dela demonstrando certezas. Aquilo que talvez tenhamos
tomado como liberdade de pensamento revela-se em realidade ausência de
pensamento: recusa a crenças e uma reação negativa a quem demonstre tê-las. O
pecado capital é negar-se a encerrar cada frase com um ponto de interrogação.
Assim como muitas das mudanças em nossa linguagem e
cultura nos últimos 25 anos, o objetivo é descobrir, e também proibir, as
formas ocultas de discriminação. Quase todo sistema de crença que no passado
pareceu objetivo e importante é agora desprezado como um “ismo” ou uma “fobia”,
de forma que aqueles que aderem a suas proposições são vistos como fanáticos
ideológicos.
Nos anos 1970, quando o feminismo começou a adentrar a
cultura pública, surgiu a questão de se não haveria, afinal de contas,
distinções radicais entre os sexos que explicassem por que os homens eram bem
sucedidos em algumas esferas e as mulheres em outras. As feministas se
rebelaram contra a ideia. Como resultado, elas inventaram o “gênero”, que não é
uma categoria biológica, mas uma maneira de descrever características maleáveis
e culturalmente mutáveis. Você pode não escolher seu sexo, mas pode escolher
seu gênero. E era isso que as mulheres estavam fazendo – redefinindo a
feminidade, como uma forma de ocupar um território antes monopolizado por
homens. Daí em diante, a biologia foi retirada de cena e o gênero tomou seu
lugar.
Essa estratégia teve tanto sucesso que agora “gênero”
substituiu “sexo” em todos os documentos sexuais, e a sugestão de que
diferenças sexuais são bem definidas foi relegada à classe de pensamentos
proibidos. Já que gênero é um construto social, as pessoas devem ser livres
para escolher o seu, e quem achar o contrário é um opressor e um fanático.
Mesmo uma feminista pioneira como Germaine Greer é proibida de dar palestras em
campi, porque sua crença em diferenças sexuais reais e objetivas pode ameaçar
estudantes vulneráveis que ainda precisam decidir qual seu próprio gênero.
Diferença sexual foi marcada como uma área perigosa, sobre a qual crenças,
mesmo as de Germaine Greer, não são indicadas.
Onde isso tudo vai parar, ninguém sabe. Uma por uma,
todas as antigas certezas estão sendo denunciadas como “ismos” e “fobias”. Você
acha que os humanos são distintos de outros animais? Então você é culpado de
“especismo”. Acha que existem distinções reais e objetivas entre homens e
mulheres? “Transfobia”. Acha que atitudes que levam a assassinatos em massa são
suspeitas? “Islamofobia”. A única certeza sobre o mundo em que vivemos é que,
se você acredita que existem distinções reais e objetivas entre pessoas, então
é melhor ficar quieto, especialmente quando for verdade.
Publicado originalmente na The Spectator Life.
Tradução publicada na revista Amálgama.
Tradutores: Daniel Lopes e Pedro Novaes
Fonte: Mídia Sem Máscara
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