Radio Evangélica

domingo, 16 de dezembro de 2012

Jovens dos países árabes ainda clamam por democracia



Uma mudança profunda está ocorrendo no Oriente Médio e no norte da África. É cedo demais para ser definitivo sobre as causas, mas acredito que haja uma linha comum: os jovens nas sociedades islâmicas enfrentam um deficit de oportunidade.
O despertar árabe foi conduzido por jovens organizados pela tecnologia e disparado por uma fome de mudança política. Ao buscar sociedades mais abertas e governos mais responsáveis, os jovens árabes demonstraram um desejo de democracia. Mas eles também expressaram um profundo sentimento de perda - não apenas de liberdade pessoal ou política, mas de oportunidades.
Essa inquietação foi resultado de uma má alocação de recursos básica. Não de recursos naturais ou de capital, mas de pessoas. A sub-representação dos jovens na economia criou condições em que as tensões puderam crescer - tensões que foram instigadas pela falta de reforma política. Sem representação política ou econômica, os jovens encontraram uma saída nos protestos.
Essas pressões não são únicas dos países árabes; são sentidas em todo o mundo. Muitos jovens muçulmanos não veem oportunidades para si mesmos e não sentem que controlam suas vidas ou têm uma participação no futuro de seu país. Esse pessimismo leva ao descomprometimento. Corremos o risco de perder uma geração de jovens muçulmanos para a apatia e o extremismo.
Como líder de um país de maioria muçulmana, acredito que os países islâmicos devem compreender melhor as aspirações de sua juventude. Isso significa compreender duas grandes mudanças que afetam suas vidas.
A primeira é demográfica: o mundo muçulmano está experimentando um "inchaço jovem". Em 2010, as pessoas com menos de 30 anos representavam cerca de 60% da população dos países de maioria muçulmana. Uma população mais jovem significa uma maior força de trabalho. 
Há necessidade de um investimento mais alto e capital para utilizar essa capacidade excedente. Uma grande mudança demográfica pode distorcer a política fiscal durante décadas, como estão descobrindo os países da "geração baby boom". Em termos sociais, o impacto em curto prazo pode ser ainda maior. Um "inchaço jovem" introduz energia latente na economia e na sociedade de um país. Se não for utilizada, ela pode se tornar uma força desestabilizadora.
Em 2010, o desemprego jovem no Oriente Médio era de 25%; no norte da África, 24%. Esses níveis são tóxicos. Quando os jovens não têm oportunidades, tornam-se inquietos. A dependência lhes rouba sua dignidade; sem uma participação econômica na sociedade, eles podem perder seu sentido de pertencimento. Isso pode extravasar para a hostilidade contra o Estado. De 1970 a 2000, oito em cada dez países que experimentaram novos conflitos civis tinham populações em que 60% tinham menos de 30 anos.
A segunda grande mudança é tecnológica. Vinte e um anos atrás, não havia websites; hoje há mais de meio bilhão. No espaço de uma vida a Internet abriu oportunidades que antes eram inconcebíveis.
A era da informação têm sua própria geração, os nativos digitais - aqueles que só conheceram um mundo conectado. Eles esperam que a informação seja grátis, que a democracia seja responsável, que a comunicação seja global. Querem ter um papel ativo na economia digital.
Potencializados pela tecnologia, os jovens podem articular suas frustrações para um público global. Isso tem uma implicação profunda: a emergência de uma nova consciência política internacional.
Essas duas forças - demografia e tecnologia - moldam as aspirações dos jovens. Em uma era de autodeterminação, eles anseiam por liberdade e oportunidade. Aspiram à educação de primeiro mundo. E exigem um governo aberto e responsável. Nosso desafio é entregar essas liberdades sem sacrificar nossas tradições. Mas isso só é possível se mostrarmos liderança e compromisso com as reformas.
O acesso à educação está melhorando, mas muitos jovens ainda acham que suas qualificações não se equiparam às oportunidades disponíveis, por isso precisamos nos concentrar no treinamento técnico e vocacional. Também devemos continuar abrindo nossas economias: 23% da população do mundo são muçulmanos, mas os 57 membros da Organização da Cooperação Islâmica conduzem apenas 8,3% do comércio global. Reformas estruturais devem ser adotadas para que nossos setores privados se tornem mais dinâmicos. Devemos reformar os serviços públicos e confrontar instituições que sufocam oportunidades, permanecendo sempre vigilantes contra a corrupção.
Também devemos reagir à mudança tecnológica. Nosso ponto de partida deve ser o reconhecimento do princípio fundamental da Internet - sua autonomia. Ela deve permanecer assim. Isso não significa um comportamento desregulado, mas independência. Devemos equipar nossos jovens com as técnicas para pensar criticamente sobre as fontes, compreender que só porque a informação é grátis não significa que seja precisa. Mas o espaço online deve permanecer um em que o livre intercâmbio de opiniões é encorajado, nas melhores tradições do discurso.
Como nação muçulmana, a Malásia enfrenta muitos desses desafios. Acredito que devemos ver nossos jovens não como uma obrigação, mas como um ativo. Eles são um recurso inaproveitado que pode depositar as bases para um grande sucesso. A reforma econômica e política pode dar aos jovens o que eles desejam: um futuro definido por oportunidade, e não dependência. Está na hora de realizar a riqueza oculta das nações muçulmanas.

*Najib Razak é primeiro-ministro da Malásia.

 
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Fonte: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/herald/2012/12/15/jovens-dos-paises-arabes-ainda-clamam-por-democracia.htm

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