Durante anos, o Brasil chamou a
atenção do mundo graças a seu novo ciclo de crescimento. No entanto seria
interessante perguntar-se sobre o tipo de capitalismo que tal ciclo gerou,
sobre qual a especificidade da experiência brasileira e seus limites.
Colocar tal questão é importante porque, se há algo que chama a
atenção no caso brasileiro, é a maneira como aprofundamos um modelo econômico
oligopolista, de baixa concorrência e alta concentração. No Brasil, o
capitalismo mostrou uma de suas faces mais brutais. Pois não ocorreu aqui
fenômenos de pulverização de atores econômicos por meio de ciclos de abertura
de start-ups e de defesa estatal de ambientes de multiplicação de grupos de
empreendedores.
Na verdade, tivemos, muitas vezes, uma diminuição no número de
tais atores através de políticas estatais que produziram ou incentivaram
involuntariamente a oligopolização da economia em nome da criação de
"grandes players globais".
Setores como os frigoríficos e a produção de etanol são
exemplares, nesse sentido. Em tais casos, em vez de lutar contra a tendência
oligopolista,
o governo subvencionou a criação de grandes grupos exportadores que usaram, em várias ocasiões, dinheiro público para comprar concorrentes e concentrar o mercado.
o governo subvencionou a criação de grandes grupos exportadores que usaram, em várias ocasiões, dinheiro público para comprar concorrentes e concentrar o mercado.
O resultado foi aberrações em que oligopólios controlam serviços e
produtos, oferecendo-os a preços exorbitantes e com baixa qualidade. A recente
pesquisa sobre os preços da indústria automobilística nacional, por exemplo,
demonstrou o que qualquer pessoa sensata já imaginava: nossos carros estão
entre os mais caros do mundo não devido aos impostos ou ao custo Brasil,
reclamações clássicas de empresários acostumados com a exploração de seus
empregados.
Na verdade, eles estão entre os mais caros simplesmente porque a
margem de lucro é uma das mais altas do mundo. Algo só possível em um mercado
totalmente oligopolizado, sem concorrência real. Mercado onde a regra é a
espoliação dos consumidores.
Durante certo tempo, ouvimos a pregação de que a abertura da
economia nacional a empresas estrangeiras quebraria o ciclo de relações
incestuosas entre poder público e burguesia nacional de baixa competividade. No
entanto o que vimos nesses casos foi um primeiro momento virtuoso que logo dava
lugar a um novo monopólio, só que agora com sotaque estrangeiro.
Ou seja, o Brasil tinha à sua frente o desafio de criar um sistema
econômico no qual a intervenção estatal fosse organizada tendo em vista a
quebra da natureza monopolista do capitalismo atual. Mas ele fez exatamente o
contrário. Há de perguntar se isso não colabora para o atual estágio de baixo
crescimento econômico.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/1206071-capitalismo-de-espoliacao.shtml
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