A Fundação Educação Superior à Distância e Divulgação Científica –
Cecierj – está oferecendo um curso sobre intolerância religiosa para
professores de ensino médio das escolas da rede estadual do Rio de Janeiro.
O professor do curso, Nilton Rodrigues Junior, que faz seu programa de
pós-doutorado sob minha supervisão no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais
da UFRJ sobre o tema em questão, contou como são essas aulas. Nilton Junior
organizou o curso em cinco módulos sobre vários temas relacionados. Para cada
tema abre-se um fórum de debates na internet. Os estudantes expõem suas ideias,
discutem e fazem perguntas, e o professor, com a ajuda de uma tutora, responde
e estimula o debate. São 114 alunos das várias disciplinas oferecidas no ensino
médio. A maioria dos alunos do curso se disse católica, mas há umbandistas,
espíritas, do candomblé e até uma budista.
Segundo Nilton Junior tem havido pouco debate entre as diversas posições
religiosas, mas há consenso sobre a necessidade do ensino religioso. Os
participantes do fórum dizem que o ensino religioso é bom porque transmite
valores éticos e humanos essências, como respeito e amor ao próximo, o que fará
o mundo melhor e as pessoas mais responsáveis e melhores cidadãos. Um dos
alunos do curso afirmou que é da essência humana crer em um deus superior e
abstrato. Outros, entretanto, são contra o ensino religioso porque a escola é
um espaço público que deve ser laico.
Nenhum dos alunos mencionou a intolerância quanto aos símbolos das
religiões de “matriz africana” nas escolas em que trabalham. Ninguém afirmou
que proibir os alunos de frequentarem aulas usando fios de conta do candomblé
seria uma forma de intolerância religiosa e a maioria acha normal a presença de
imagens de santos na escola.
Fiquei espantada com o relato porque na pesquisa por mim coordenada no
Núcleo de Antropologia – NaEscola –, o que vimos nas
instituições escolares da rede estadual foram debates acirrados nas salas de
professores sobre a questão religiosa. Muitos professores se recusam a discutir
a chamada lei 10.639, lei que obriga o ensino da cultura afro-brasileira, pois
consideram esta cultura maléfica para os alunos porque “fala de coisas do
demônio”. Nas escolas pesquisadas também vimos muitas imagens católicas e
frases bíblicas escritas em murais ou em cartolinas espalhadas pelos
corredores. Pouquíssimas escolas são verdadeiramente laicas. A decisão de expor
essas imagens e frases e até pequenos altares com velas é exclusivamente da
alçada dos diretores.
O espaço público acaba sendo invadido pelo mundo privado e não há
separação entre as duas esferas que deveriam reger a vida dos cidadãos.
Religião é uma questão de foro íntimo, mas por incrível que pareça no Rio de
Janeiro, além das mais de 12 matérias que o estudante tem de dar conta ao longo
dos três anos do ensino médio, há ainda o ensino religioso confessional, para o
qual foram contratados muitos professores.
As imagens e símbolos religiosos que vimos nas escolas podem ser aqui
apreciados neste conjunto de fotos e dão uma ideia do que se passa entre os
muros da escola em relação a este tema.
Felipe Gonçalves, foto publicada no jornal Extra em 26/01/2009, Felipe
foi expulso de sala de aula por sua professora de português porque estava com
seus "fios de conta".
Foto do jornal Extra de 26/01/2009 noticiando o caso
do estudante Felipe de uma escola técnica do Rio de Janeiro.
Diretoras de uma escola em sua sala. Ao fundo uma
imagem de Nossa Senhora, uma Bíblia, flores e um
berimbau dando a impressão de um pequeno altar.
Foto de Arquivo de Giselle Lage
Estudante de escola estadual segurando a bandeira da escola tendo ao
fundo uma imagem religiosa católica.
A diretora de uma escola em sua sala onde se vê uma imagem de Nossa
Senhora - Fotoo de Arquivo Yvonne Maggie
Fonte: G1
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