O presidente
do Congresso, senador Renan Calheiros, fez afagos ao presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e ao vice-presidente Michel Temer e anunciou que os
próximos meses serão "nebulosos". "Não diria que será um agosto
ou setembro negro, mas serão meses nebulosos, com certeza, com a concentração
de uma agenda muito pesada. Cabe a nós resolvê-la", disse Renan, em
pronunciamento transmitido pela TV Senado na noite desta sexta-feira, 17.
A fala dele
foi gravada na tarde de sexta-feira, logo após Cunha ter anunciado o rompimento
com o governo em entrevista coletiva. O próprio Renan, que desmarcou uma
entrevista marcada para o mesmo horário do presidente da Câmara, disse ter uma
"excelente" relação com o colega, tendo atuado junto para "otimizar"
os trabalhos do Legislativo.
Ao destacar
que o PMDB não será coadjuvante e irá em busca do protagonismo, Renan também
elogiou Michel Temer pela importância que tem tido no momento de instabilidade
do país. Disse não ser "oráculo" para profetizar o desfecho da crise
e afirmou que a aprovação popular da presidente Dilma Rousseff - a quem não
citou nominalmente ao longo dos 15 minutos de programa - "dispensa
comentários".
Sobre as
discussões de impeachment, afirmou que o PMDB não defenderá soluções à margem
da legalidade e criticou mais uma vez o ajuste fiscal sem crescimento, que é
"cachorro correndo atrás do rabo". Ao negar envolvimento com a
Operação Lava Jato, frisou ainda que atuará com isenção numa eventual
recondução do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Veja os principais
trechos do pronunciamento.
Segundo
semestre
No segundo
semestre devemos avançar na pauta federativa, na reforma política e na reforma
do ICMS. Teremos um semestre difícil, concentrando agendas sensíveis,
dificuldade na economia, análise de vetos, CPIs, Lei de Responsabilidade das
Estatais, Autoridade Fiscal e apreensões com os indicadores econômicos. Não
diria que será um agosto ou setembro negro, mas serão meses nebulosos, com
certeza, com a concentração de uma agenda muito pesada. Cabe a nós resolvê-la.
Relação com
a Câmara
Tenho uma
excelente relação com o presidente da Câmara e nesse semestre atuamos
conjuntamente a fim de otimizar os resultados do Legislativo. Conseguimos. Um
exemplo foi a Lei de Responsabilidade das Estatais, que acho muito importante
para a transparência e controle social das empresas públicas. Ele tem sido um
bom presidente da Câmara, implementando um ritmo de votações. Acho que a
atuação dele, a sua independência, colaborou muito para este momento do Congresso
Nacional.
Julgamento
das contas
É preciso
aguardar a manifestação do Tribunal de Contas da União que, salvo engano,
ocorrerá em agosto. Até lá, tudo não passará de especulação, probabilidades que
não serão, como todos sabem, bons orientadores.
Desfecho da
crise
É triste e
nos cabe reverter a situação e vemos que várias portas estão se fechando para o
governo. (...) Na opinião pública, a aprovação popular (da presidente Dilma
Rousseff) dispensa comentários. Temos uma crise política, uma crise econômica e
também uma crise de credibilidade, porque o sistema é presidencialista. Não
acho que as crises se retroalimentem. Percebo aqui no Congresso Nacional que o
insucesso da economia e o desgaste que provocaram acabam contaminando o
segmento política. Não tenho oráculo para profetizar o desfecho desta crise,
muito menos o tempo de sua duração, mas estamos na escuridão, assistindo a um
filme de terror sem fim e precisamos de uma luz indicando que o horror terá
fim.
PMDB
Vejo com
muita naturalidade a pretensão do PMDB (de ter candidatura própria em 2018). A
razão de ser de qualquer agremiação partidária é conquistar o poder pelo voto
em nome das teses e programas que defende. O PMDB não pode, no entanto,
sucumbir ao aparelhamento, não é inteligente fazer isso. Vejo com felicidade
que o PMDB refuta ser coadjuvante e vai em busca do protagonismo. Não somos
defensores de soluções marginais que estejam à margem da legalidade. O poder é
conquistado nas urnas, no convencimento do eleitor, na credibilidade que passam
as propostas e os programas de governo. Legitimidade é um conceito inafastável
do poder.
Michel Temer
Paciência e
perseverança são virtudes capazes de transformar a realidade. Esses são
tributos inquestionáveis do vice-presidente Michel Temer. O Michel é um homem
prudente, da conciliação, do diálogo que está sendo importante para este
momento de instabilidade do país. Digo isso com a isenção de quem já divergiu
dele e de quem já o apoiou.
Ajuste
fiscal
Os
resultados do ajuste são modestos, muito aquém do prometido. No
presidencialismo, o Congresso não pode recusar sempre as ferramentas que o
chefe de governo de serem imprescindíveis para fazer face a crise. O poder do
Congresso Nacional é buscar alternativas para melhorar a vida das pessoas.
Agora, cabe ao Congresso Nacional cobrar resultados. Ele é insuficiente,
tacanho, até aqui, quem pagou a conta foi o andar de baixo. Esse ajuste sem
crescimento econômico é cachorro correndo atrás do rabo, circular, irracional e
não sai do lugar. É enxugar gelo até ele derreter. É preciso cortar, cortar
ministérios, cortar cargos comissionados, enxugar a máquina pública, fazer a
reforma do estado e ultrapassar de uma vez por todas essa prática superada da
boquinha e do apadrinhamento.
Economia
O Congresso,
majoritariamente, é refratário, a aprovar mais tributos e impostos. A sociedade
já está no seu limite suportável, no limite suportável da contribuição com o
aumento de impostos, tarifaços, inflação e juros. Não vamos concordar com a
asfixia da sociedade. Enquanto o governo continuar perdulário e não alterar a
sua postura diante das cobranças para diminuir gastos. Estamos no momento
aterrador de inflação, desemprego e juros acima de dois dígitos. Uma retração
na economia que vai agravar o desemprego. Enfim, o ajuste fiscal está mesmo se
revelando um desajuste social. Por quê? Porque o ajuste é um fim em si mesmo.
Ele nem aponta, nem sinaliza, nem indica, nem sugere quando e como o país
voltará a crescer. Ele verdadeiramente ameaça as conquistas socioeconômicas
obtidas com tanto sacrifício.
Lava Jato
Reitero o
que disse desde o primeiro dia da investigação. Todos devem responder às
demandas da Justiça, particularmente os homens públicos. A diferença está na
qualidade das respostas e as que me cabem responder, prestarei todas as vezes
que a Justiça me solicitar, à luz do dia. Em relação a mim, é como um disco
arranhado, ventilador repetitivo, sem nenhum fato novo, sobre a alegação de uma
terceira pessoa foi apontada como intermediário, o deputado Aníbal Gomes. Tenho
a dizer que eu nunca o autorizei, credenciei qualquer pessoa a falar em meu
nome, em qualquer lugar, o próprio deputado desmentiu em todas as
oportunidades.
Rodrigo
Janot
Eu sou
presidente do Senado Federal e me comportarei com a isenção que o cargo
recomenda. A indicação é uma faculdade da presidente da República e a sua
aprovação ou não é uma prerrogativa dos senadores e das senadoras. Não posso,
não tenho como nem vou predizer o que vai acontecer, nem o que não vai
acontecer.
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