Radio Evangélica

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

A Origem do Nome Amazonas: Da Mitologia Grega à Maior Bacia Hidrográfica do Mundo

O nome "Amazonas", que hoje designa o maior estado do Brasil e a mais vasta bacia hidrográfica do planeta, carrega uma história fascinante que transcende a geografia sul-americana. Sua origem não provém de nenhuma das línguas indígenas da região, mas sim do imaginário europeu do século XVI, profundamente enraizado na mitologia clássica da Grécia Antiga. Trata-se de uma narrativa de exploração, confronto cultural e da projeção de lendas sobre uma realidade recém-descoberta.

As Guerreiras Míticas da Antiguidade

Para compreender a escolha do nome, é preciso retornar à mitologia grega. As Amazonas eram um povo mítico constituído exclusivamente por mulheres guerreiras. Segundo as lendas, elas habitavam a região da Cítia, nas fronteiras do mundo conhecido pelos gregos. Exímias cavaleiras e arqueiras, viviam em uma sociedade autônoma, onde os homens eram subjugados ou ausentes. Figuras como a rainha Hipólita, cujo cinturão foi objeto de um dos doze trabalhos de Hércules, e Pentesileia, que lutou na Guerra de Troia, imortalizaram a imagem dessas mulheres como símbolos de força, independência e ferocidade em batalha.

A Expedição de Francisco de Orellana e o Relato de Carvajal

O elo entre o mito grego e a América do Sul foi forjado em 1541. O explorador espanhol Francisco de Orellana participava de uma expedição liderada por Gonzalo Pizarro em busca de "El Dorado", a lendária cidade do ouro. Separado do grupo principal, Orellana e seus homens iniciaram uma jornada épica, navegando por um rio colossal e desconhecido que fluía em direção ao Atlântico.

O registro dessa viagem foi meticulosamente documentado pelo frade dominicano Gaspar de Carvajal, o cronista da expedição. Em um trecho de seu relato, datado de 24 de junho de 1542, Carvajal descreve um violento confronto com um povo indígena. Para a surpresa dos espanhóis, mulheres lutavam ao lado dos homens com notável destreza e bravura.

Escreveu Carvajal:

"[...] estas mulheres são muito alvas e altas, e têm o cabelo muito comprido e entrançado e enrolado na cabeça; são muito membrudas e andam nuas em pelo, tapadas suas vergonhas, com seus arcos e flechas nas mãos, fazendo tanta guerra como dez índios [...]".

Impressionado pela visão dessas combatentes, que evocavam as guerreiras da antiguidade, Orellana batizou o curso d'água de "Rio das Amazonas".

A Consolidação de um Nome

A narrativa de Carvajal, embora questionada por alguns historiadores — que sugerem que os "guerreiros" poderiam ser homens de cabelos longos ou que o relato foi um embelezamento para engrandecer a expedição —, foi decisiva. O nome "Amazonas" pegou. Mapas europeus começaram a designar o imenso rio com essa denominação, que gradualmente se estendeu para toda a bacia fluvial e a vasta floresta ao seu redor.

Com o tempo, a designação passou de um referencial geográfico para um topônimo político e administrativo. Durante o período do Brasil Império, foi criada a Província do Amazonas, desmembrada da Província do Grão-Pará. Com a Proclamação da República, em 1889, a província foi elevada à categoria de estado, consolidando definitivamente o nome que hoje conhecemos.

Assim, o nome Amazonas é um poderoso testemunho da era das grandes navegações: um período em que exploradores europeus, ao se depararem com um "Novo Mundo", interpretaram-no e nomearam-no através das lentes de sua própria cultura e de suas lendas mais antigas.

 

Referências Bibliográficas 

CARVAJAL, Gaspar de. Relato do novo descobrimento do famoso Rio Grande. Tradução de Cássio de Arantes Leite. São Paulo: Ubu Editora, 2018.

HEMMING, John. Ouro Vermelho: a conquista dos índios brasileiros. Tradução de Carlos Eugênio Marcondes de Moura. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007.

KURY, Lorelai. O rio das amazonas na descrição de Carvajal. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 18, n. 4, p. 1113-1131, out./dez. 2011.

TODOROV, Tzvetan. A Conquista da América: a questão do outro. Tradução de Beatriz Perrone-Moisés. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

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