A Monarquia Constitucional e a Evolução do Governo
O sistema de governo de Tonga é uma monarquia
constitucional. A base para esta estrutura foi estabelecida em 1875 pelo
Rei George Tupou I, que, com a ajuda do missionário Shirley Baker, promulgou a
primeira constituição do país. Este documento, embora modernizador para a
época, concentrava poder significativo nas mãos do monarca e da nobreza.
Por mais de um século, o poder executivo foi exercido pelo
Rei em seu Conselho Privado, que nomeava o primeiro-ministro e o gabinete. No
entanto, o século XXI trouxe consigo pressões por maior democratização. Em
2010, sob a liderança do Rei George Tupou V, Tonga passou por reformas
políticas históricas que transformaram fundamentalmente o sistema:
- Poder
Executivo: A maior parte do poder executivo foi transferida do monarca
para o gabinete, liderado por um primeiro-ministro eleito pela maioria da
Assembleia Legislativa (Fale Alea), e não mais nomeado pelo Rei. O
monarca, atualmente o Rei Tupou VI, mantém funções importantes, como o
comando das Forças Armadas, o poder de dissolver o parlamento e a sanção
real (aprovação final) de todas as leis.
- Poder
Legislativo: A Assembleia Legislativa é composta por 26 membros.
Destes, 17 são Representantes do Povo, eleitos por sufrágio universal, e 9
são Representantes da Nobreza, eleitos pelos 33 nobres hereditários de
Tonga. Essa estrutura mista reflete o equilíbrio entre a representação
popular e a influência aristocrática tradicional.
- Poder
Judiciário: O sistema judiciário opera de forma independente, com o
Rei, aconselhado pelo Conselho Privado, nomeando os juízes.
Essa evolução demonstra uma tentativa contínua de harmonizar
a autoridade hereditária com os princípios democráticos, um desafio central
para a estabilidade do reino.
A Interseção da Religião com a Monarquia e a Sociedade
A religião desempenha um papel central na vida tonganesa, e
está intrinsecamente ligada à monarquia. A grande maioria da população é
cristã, sendo a Igreja Metodista Livre de Tonga (Siasi Uesiliana
Tau‘atāina ‘o Tonga) a denominação mais proeminente e considerada a igreja
estatal.
O monarca de Tonga não é apenas o chefe de Estado, mas
também é visto como o protetor da fé. A Constituição declara o sábado
(conhecido localmente como Sāpate) um dia sagrado, proibindo a maioria
das atividades comerciais e recreativas. Esta lei é rigorosamente observada e
reflete a profunda influência da religião na legislação e nos costumes sociais.
A família real participa ativamente das cerimônias religiosas, e os eventos
nacionais frequentemente começam com orações, reforçando a imagem de uma nação
unida sob "Deus e Tonga", o lema nacional (Ko e ʻOtua mo Tonga ko hoku tofiʻa).
Detalhes e Tradições da Monarquia Tonganesa
Além da estrutura formal de poder, a monarquia é definida
por um rico conjunto de tradições que a distingue.
- A
Nobreza: Diferente das monarquias europeias, a nobreza em Tonga não é
apenas um título, mas uma parte funcional da estrutura social e política.
Os 33 títulos de nobreza hereditários conferem aos seus detentores a posse
de terras que são distribuídas aos plebeus para moradia e cultivo. Essa
estrutura fundiária feudal, embora modificada, ainda confere aos nobres um
poder social e econômico significativo.
- Sucessão
e Coroação: A sucessão ao trono segue o princípio da primogenitura
absoluta desde 2010, permitindo que o filho mais velho, independentemente
do gênero, herde a coroa. A cerimônia de coroação é um evento duplo
fascinante: uma cerimônia de estilo ocidental, geralmente conduzida por um
líder religioso estrangeiro e com a presença de dignitários
internacionais, seguida pela tradicional e sagrada Taumafa Kava.
Nesta cerimônia, o novo rei bebe a kava, uma bebida cerimonial, para
receber formalmente os títulos e a lealdade dos chefes e nobres,
consolidando seu papel como o Tuʻi
Kanokupolu, a mais alta linhagem de chefes.
- Papel
Simbólico e Prático: O monarca é o símbolo máximo da unidade e
identidade nacional. Em tempos de crise política ou desastre natural, a
palavra do rei carrega um peso imenso, capaz de unificar a nação. Sua
influência se estende para além da política, moldando a cultura, a diplomacia
e a própria imagem de Tonga no cenário mundial.
Em conclusão, a monarquia de Tonga é uma instituição
complexa e resiliente. Ela sobreviveu ao colonialismo e às pressões internas
por mudança, adaptando-se de uma monarquia quase absoluta para um modelo
constitucional onde a tradição e a democracia coexistem de forma tênue, mas
funcional. O contínuo equilíbrio entre o poder do povo, da nobreza e da coroa
definirá o futuro desta joia única do Pacífico.
Referências Bibliográficas
CAMPBELL, Ian C. Island Kingdom: Tonga Ancient and Modern.
3. ed. Christchurch: Canterbury University Press, 2015.
LAWSON, Stephanie. Tradition, Custom and the
Constitutionalisation of Politics in Tonga. The Journal of Pacific History,
Abingdon, v. 48, n. 2, p. 155-174, jun. 2013.
TONGA. Constitution of Tonga. [Nuku'alofa: Government
of Tonga], 2016. Disponível em: http://www.crownlaw.gov.to.
Acesso em: 4 out. 2025.
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