As contas externas tiveram
saldo negativo de US$ 4,464 bilhões em outubro, informou nesta quinta-feira (25)
o Banco Central (BC). No mesmo mês de 2020, o déficit foi de US$ 1,152 bilhão
nas transações correntes, que são as compras e vendas de mercadorias e serviços
e transferências de renda com outros países.
A diferença na comparação
interanual se deve ao resultado do superávit comercial que reduziu US$ 2,4
bilhões, enquanto o déficit em renda primária aumentou US$ 1,3 bilhão e o
déficit em serviços recuou US$ 207 milhões.
Em 12 meses, encerrados em
outubro, o déficit em transações correntes é de US$ 26,704 bilhões, 1,66% do
Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país), ante
o saldo negativo de US$ 23,392 bilhões (1,47% do PIB)
em setembro de 2021 e déficit de US$ 23,270 bilhões (1,54%
do PIB) no período equivalente terminado em outubro de 2020.
Segundo o BC, a relação
déficit-PIB em 12 meses se reduziu muito em razão dos efeitos da pandemia nas
atividades. Em 12 meses encerrados em fevereiro de 2020, por exemplo, período
pré-pandemia, o déficit em transações foi US$ 69 bilhões ou 3,79% do PIB.
Já nos dez primeiros
meses do ano, o déficit é de US$ 15,783 bilhões, contra saldo
negativo de US$ 13,571 bilhões de janeiro a outubro de 2020.
Balança comercial e serviços
As exportações de bens
totalizaram US$ 22,764 bilhões em outubro, aumento de 27,8% em relação a igual
mês de 2020. As importações somaram US$ 21,461 bilhões, incremento de 52%
na comparação com outubro do ano passado. Com esses resultados,
a balança comercial fechou com superávit de US$ 1,303 bilhão no
mês passado, ante saldo positivo de US$ 3,683 bilhões em outubro de
2020. Isso se deve à retomada do dinamismo da atividade econômica interna,
aumentando déficit em transações correntes.
O déficit na conta de serviços
(viagens internacionais, transporte, aluguel de equipamentos, seguros, entre
outros) manteve a trajetória de retração mas com déficit menor, com saldo
negativo de US$ 1,468 bilhão em outubro, redução de 12,4% ante os US$
1,675 bilhão em igual mês de 2020.
A rubrica de aluguel de
equipamentos foi responsável por parte da redução do déficit da conta de
serviços, devido à importação de equipamentos no âmbito do Repetro. Com a
propriedade na mão de residentes não há mais necessidade de pagar aluguel para
estrangeiros. Na comparação interanual, houve redução de 28,7% nas despesas
líquidas de aluguel de equipamentos, de US$ 845 milhões em outubro de 2020 para
US$ 602 milhões em outubro de 2021.
O Repetro é o regime aduaneiro
especial, que suspende a cobrança de tributos federais, de exportação e de
importação de bens que se destinam às atividades de pesquisa e de lavra das
jazidas de petróleo e gás natural, principalmente as plataformas de exploração.
Em linha com a expansão do
volume de comércio e aumento das despesas com viagens, as despesas líquidas de
transporte aumentaram na comparação interanual, de US$ 194 milhões em outubro
de 2020 para US$ 536 milhões no mês passado.
No caso das viagens
internacionais, as receitas de estrangeiros em viagem ao Brasil chegaram a US$
266 milhões, enquanto as despesas de brasileiros no exterior ficaram em US$ 531
milhões. Com isso, a conta de viagens fechou o mês com déficit de US$ 265
milhões, ante déficit de US$ 103 milhões em outubro de
2020, contribuindo para elevar o déficit em serviços
De acordo com o BC, esta é uma
conta muito afetada pelas restrições impostas pela pandemia e pelas taxas de
câmbio, mas vem se recuperando com o avanço da vacinação e reabertura dos
países, com média acima de US$ 200 milhões de déficit nos últimos meses. Ainda
assim, os valores estão muito abaixo do período pré-pandemia.
Rendas
Em outubro de 2021, o déficit
em renda primária (lucros e dividendos, pagamentos de juros e salários) chegou
a US$ 4,596 bilhões, ampliação de 38,9% antes os US$ 3,310 bilhões no mesmo mês
de 2020. Normalmente, essa conta é deficitária, já que há mais investimentos de
estrangeiros no Brasil, que remetem os lucros para fora do país, do que de
brasileiros no exterior.
No caso dos lucros e
dividendos associadas aos investimentos direto e em carteira, houve déficit de
US$ 3,715 bilhões no mês passado, frente ao observado em outubro de 2020, que
foi US$ 2,343 bilhões. As despesas líquida com juros passaram de US$ 975
milhões para US$ 899 milhões.
Segundo o BC, o volume de
receitas e despesas estão crescendo em relação aos patamares muito baixos do
ano passado, causados pela pandemia, o que também aponta para a normalização da
atividade econômica e recuperação da lucratividade tanto das empresas
estrangeiras no país quanto das subsidiárias brasileiras no exterior.
A conta de renda secundária
(gerada em uma economia e distribuída para outra, como doações e remessas de
dólares, sem contrapartida de serviços ou bens) teve resultado positivo de US$
298 milhões, contra US$ 150 milhões em outubro de 2020.
Investimentos
Os ingressos líquidos em
investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 2,493 bilhões no mês passado,
ante US$ 3,136 bilhões em outubro de 2020. A totalidade dos ingressos ocorreu
em participação no capital, US$ 3,040 bilhões, como compra de novas empresas e
reinvestimentos de lucros. Enquanto isso, as operações intercompanhia (como os
empréstimos da matriz no exterior para a filial no Brasil) tiveram déficit de
US$ 547 milhões.
Nos 12 meses encerrados em
outubro de 2021, o IDP totalizou US$ 49,223 bilhões, correspondendo a 3,06% do
PIB, em comparação a US$ 49,866 bilhões (3,13% do PIB) no mês anterior e US$
45,911 bilhões (3,05% do PIB) em outubro de 2020.
Quando o país registra saldo
negativo em transações correntes, precisa cobrir o déficit com investimentos ou
empréstimos no exterior. A melhor forma de financiamento do saldo negativo é o
IDP, porque os recursos são aplicados no setor produtivo e costumam ser
investimentos de longo prazo.
Para o mês de
novembro de 2021, a estimativa do Banco Central para o IDP é de ingressos
líquidos de US$ 3,9 bilhões.
O estoque de reservas
internacionais atingiu US$ 367,927 bilhões em outubro de 2021, redução de US$
959 milhões em comparação ao mês anterior. O resultado decorreu de vendas à
vista, US$ 500 milhões, e contribuição negativa das variações de preços, US$
1,3 bilhão. A contribuição positiva das variações por paridades somou US$ 504
milhões, e a receita de juros totalizou US$ 423 milhões.
Revisões de 2020 e 2021
Desde outubro de 2019, a política
do BC estabelece revisão ordinária anual do balanço de pagamentos e da posição
de investimento internacional nos meses de julho e novembro.
Para 2020, a revisão das
estatísticas do setor externo resultou em redução de US$ 1,4 bilhão do déficit
em transações correntes, de US$ 25,9 bilhões (1,8% do PIB) para US$ 24,5
bilhões (1,7% do PIB). De acordo com o BC, essa revisão decorreu da variação na
renda primária, cujo déficit foi revisto de US$ 39,7 bilhões para US$ 38,3
bilhões.
Em relação à conta financeira,
ocorreu revisão nos passivos de investimento direto e em carteira. A revisão
das despesas de lucros reinvestidos reduziu US$ 7 bilhões do IDP em
participação no capital, enquanto os ingressos líquidos em operações
intercompanhia registraram ligeiro aumento, US$ 94 milhões. Quanto aos passivos
de investimento em carteira, as saídas líquidas se mostraram menores em US$ 720
milhões, revistas de US$ 2,6 bilhões para US$ 1,9 bilhão.
No total, a revisão reduziu o
IDP de 2020 em US$ 6,9 bilhões, passando a totalizar ingressos líquidos de US$
37,8 bilhões (2,62% do PIB) ante US$ 44,7 bilhões (3,09% do PIB) anteriormente
estimados.
Para 2021, nas transações
correntes, a revisão mais significativa ocorreu nas estimativas de despesas de
lucros de investimento direto, que aumentaram US$ 4 bilhões, de US$ 28,5
bilhões para US$ 32,6 bilhões, de janeiro a setembro de 2021. A revisão das
receitas de lucro de investimento direto somou US$ 800 milhões, de US$ 17,4
bilhões para US$ 18,2 bilhões. Por conseguinte, as despesas líquidas da renda
primária aumentaram US$ 3,2 bilhões no período, revistas de US$ 33,1 bilhões
para US$ 36,3 bilhões.
Nos demais componentes das
transações correntes houve revisão apenas da balança comercial de bens, com
redução de US$ 76 milhões no superávit comercial. Dessa forma, o déficit em
transações correntes acumulado de janeiro a setembro de 2021 foi revisado
de US$ 8,1 bilhões para US$ 11,3 bilhões, elevação de US$ 3,2 bilhões.
A revisão do IDP de
janeiro a setembro de 2021 aumentou o ingresso líquido em US$ 2,6 bilhões,
de US$ 40,7 bilhões para US$ 43,3 bilhões. Houve acréscimo de US$ 4 bilhões
decorrente da revisão das estimativas de lucros reinvestidos e redução de US$
1,5 bilhão nos ingressos líquidos de operações intercompanhia.
Fonte: Agência Brasil –
Imagem: Diego Baravelli/Minfra