Cenário exige cautela diante de crise hídrica e variantes da covid-19
“No primeiro semestre de 2021, o SFN manteve as provisões
elevadas, as perdas esperadas com crédito se reduziram, a capitalização do
sistema bancário melhorou, e a liquidez manteve-se confortável. Esse desempenho
está em linha com a evolução positiva da economia doméstica, em um período
de recuperação parcial da confiança dos agentes econômicos e de avanço da
campanha de vacinação”, informou o BC.
Ainda assim, a autarquia alerta para a incerteza sobre o
ritmo de crescimento da economia, diante do risco de disseminação de novas
variantes do coronavírus, da dificuldade para algumas cadeias produtivas
obterem insumos, além de eventuais implicações no fornecimento de energia em
razão da crise hídrica que o país vive.
Segundo o BC, a rentabilidade dos bancos já está no nível
pré-pandemia. O sistema registrou lucro líquido de R$ 62 bilhões no primeiro
semestre de 2021, 53% acima do registrado em igual período do ano passado e 3%
acima do observado no primeiro semestre de 2019.
A principal causa para a recuperação da rentabilidade é o
menor volume de despesas com provisões [reservas para pagar dívida]. “A
inadimplência sob controle e a materialização de perdas aquém do esperado
sugerem que não haverá alteração significativa nas despesas com provisões no
curto prazo. Melhoras consistentes nas receitas com serviços e despesas
administrativas crescendo abaixo da inflação também têm beneficiado a
rentabilidade”, diz o relatório.
Mas a incerteza segue acima do usual, diante da elevação da
taxa básica de juros, a Selic, que deve pressionar o custo de captação de
crédito, à medida que novas operações forem sendo concedidas. Uma eventual
recuperação da atividade mais lenta que o esperado também pode prejudicar o
cenário para a rentabilidade do sistema à frente.
“A reforma tributária, se aprovada pelo Congresso, impactará
a rentabilidade de diferentes formas. No primeiro momento, haverá reavaliação
do crédito tributário, sem efeito no caixa dos bancos. No médio prazo, a
alíquota menor reduzirá o dispêndio com tributos”, completou o BC.
Crédito
O relatório aponta ainda que a recuperação econômica
permitiu que empresas de capital aberto melhorassem a situação econômico-financeira
e que empresas de grande porte voltassem ao mercado de capitais. As empresas de
menor porte, por sua vez, impulsionam o crédito bancário, com crescimento anual
em torno de 35%.
“O crescimento [do crédito bancário às micro, pequenas e
médias empresas] foi expressivo, mesmo com o fim dos programas emergenciais.
Espera-se nova expansão a partir do segundo semestre de 2021, com a retomada
dos programas de incentivo”, diz o relatório.
O mercado de crédito como um todo tem crescido na faixa de
18%. No caso do crédito às pessoas físicas, a expansão ocorre em praticamente
todas as modalidades. De acordo com o BC, as contratações do financiamento
imobiliário seguem estimuladas pelas taxas de juros baixas, mas a participação
dessa modalidade de crédito no Produto Interno Bruto (PIB – soma de todas os
serviços e riquezas produzidas pelo país) continua baixa para padrões
internacionais.
“O crédito consignado elevou-se devido ao aumento do limite
de consignação, que foi prorrogado até dezembro de 2021. O forte aumento das
modalidades voltadas ao consumo [como o não consignado e o cartão de crédito]
indica mais apetite ao risco por parte das instituições financeiras, em um
contexto de menos restrições à circulação da população”, diz o BC.
Riscos
Apesar do aumento das concessões de crédito, o endividamento
e o comprometimento de renda, quando calculados somente para os indivíduos que
regularmente possuem dívidas bancárias, apresentam, respectivamente, leve
aumento e estabilidade. Segundo o BC, isso indica a manutenção da qualidade da
carteira de crédito e mostra que, mesmo depois de uma crise como a ocorrida no
ano passado, o comportamento da inadimplência tem se mantido de forma bastante
satisfatória.
Há riscos, entretanto, no desempenho de algumas carteiras
específicas, como o crédito imobiliário com recursos do FGTS, cuja
inadimplência tem aumentado. De modo geral, as instituições pesquisadas
reduziram a preocupação com inadimplência e atividade, mas há cautela em razão
de riscos de cepas do coronavírus mais resistentes às vacinas, da retirada de
estímulos econômicos e da persistência do desemprego.
Já os riscos fiscais e cenário internacional continuaram
muito citados na Pesquisa de Estabilidade Financeira. “O primeiro está mais
associado a um aumento de preocupações com eventuais políticas favoráveis à
expansão fiscal, que impactem a sustentabilidade das contas públicas. O segundo
está associado a possíveis ajustes monetários nas economias avançadas, que
podem alterar custos e fluxos dos recursos para economias emergentes”, diz o
BC.
Para o diretor de Fiscalização do BC, Paulo Souza, há ainda
os riscos políticos, principalmente em período eleitoral, sempre citados pelas
instituições. “Ao que tudo indica, teremos uma eleição bastante acirrada, polarizada.
Acho que o complicador maior quando se fala em ano de eleição é que, nesse
período, você tem uma maior aversão a risco por parte de famílias e empresas e
isso prejudica um pouco a atividade econômica”, disse, durante evento
virtual para comentar os dados do relatório.
Ainda assim, desde o início da pandemia de covid-19, o
mercado apresenta confiança na estabilidade financeira bem acima do que esteve
durante a recessão de 2015/2016. No início de agosto de 2021, o nível
de confiança aproximou-se do maior valor histórico observado, atingido em 2019.
Teste de estresse
No teste de estresse, o BC simula o quanto uma situação de
severa inadimplência e de corrida aos bancos impacta o cumprimento dos limites
regulatórios mínimos pelas instituições financeiras e quanto a autoridade
monetária precisaria aportar ao sistema financeiro. Entre esses limites estão a
manutenção de uma reserva em caixa para garantir que os bancos paguem todos os
clientes que forem sacar dinheiro em momentos de crise. São testados também os
riscos de crédito, juros, câmbio e desvalorização de imóveis.
O BC considerou dois cenários. O primeiro com uma queda
conjunta na atividade econômica, na inflação e na taxa de juros. O segundo
provocaria queda na atividade econômica, com aumento na inflação e na taxa de
juros.
Os resultados dos testes de estresse de capital seguem
indicando resiliência do SFN para absorver os choques de todos os cenários
simulados e os resultados indicam que não haveria “desenquadramentos
relevantes”. Segundo o BC, os testes avaliaram também o efeito sobre o capital
de uma eventual aprovação da reforma tributária em discussão no Congresso
Nacional.
No início da crise no ano passado, o BC estimou em R$ 400
bilhões a necessidade de provisões adicionais por parte do sistema e um aporte
de R$ 70 bilhões na simulação que considerou um choque severo da pandemia. Já
no segundo semestre de 2020, houve redução bastante significativa na
necessidade de provisão, para R$ 128 bilhões, e o impacto para um enquadramento
de todo o sistema financeiro seria algo na faixa de R$ 1,5 bilhão.
Fonte: Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário