Política deverá atender os mais frágeis, disse Paulo Guedes
As mudanças no teto federal de gastos para financiar parte do Auxílio Brasil não abalarão os fundamentos fiscais do país, disse o ministro da Economia, Paulo Guedes. Em declaração conjunta ao lado do presidente Jair Bolsonaro, ele disse preferir ter a gestão avaliada com uma nota mais baixa para ajudar a população mais vulnerável.
“Entendemos os dois lados, mas não vamos tirar 10 em política fiscal e zero em
política social. Preferimos tirar 8 em fiscal, em vez de tirar 10, e atender os
mais frágeis”, afirmou o ministro. “Nós preferimos um ajuste fiscal um pouco
menos intenso e um abraço do social um pouco mais longo. É isso que está
acontecendo.”
Acompanhado de Bolsonaro, Guedes negou ter pedido demissão do cargo,
após quatro secretários terem pedido exoneração. O presidente visitou o
Ministério da Economia para aliviar as tensões após a decisão do governo de
encaminhar ao Congresso uma proposta que muda o período de cálculo do teto de
gastos para acomodar o benefício de R$ 400 do Auxílio Brasil que vigorará até o
fim de 2022.
Fundamentos
Segundo o ministro, os
fundamentos econômicos continuarão sólidos, mesmo com o Brasil adiando o ajuste
fiscal inicialmente previsto para o próximo ano. Ele destacou que o governo
federal gastou 26,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em despesas primárias em
2020, por causa da pandemia de covid-19, e gastará 19,5% neste ano, retornando
aos níveis de 2019.
De acordo com Guedes, o novo benefício social terá impacto de 1% do PIB nos
gastos do próximo ano, adiando o ajuste fiscal. “Em vez de [gastar] 17,5% [do
PIB] no ano que vem, que parece apertado demais, vamos ajudar os brasileiros e
reduzir o ritmo do ajuste fiscal. [Agora] cai para 18,5% [em 2022]”, disse. O
déficit primário – resultado negativo nas contas do governo sem os juros da
dívida pública – ficaria entre 1% e 1,5% do PIB no próximo ano, em vez de ser
zerado.
A proposta original do Projeto da Lei Orçamentária de 2022 (PLOA), enviada no
fim de agosto, previa déficit primário de 0,6% do PIB para o próximo ano.
Com o impacto do Auxílio Brasil, o texto terá de ser alterado na Comissão
Mista de Orçamento do Congresso (CMO).
O financiamento do programa também depende da conclusão da reforma do Imposto
de Renda no Senado. Para entrar em vigor, a medida depende da liberação de R$
84 bilhões em despesas no próximo ano fora do teto de gastos. Esse montante não
acomodaria apenas o benefício de R$ 400, mas também abriria espaço no Orçamento
para a execução das emendas aprovadas pelo relator do Orçamento na CMO.
O espaço fiscal viria da aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC)
que permite parcelar os precatórios (dívidas reconhecidas pela Justiça em
caráter definitivo). O texto foi aprovado na quinta-feira pela
comissão especial da PEC dos Precatórios na Câmara dos Deputados, já com uma
emenda que muda o cálculo do índice que corrige teto de gastos para a inflação
acumulada entre janeiro e dezembro do ano anterior, em vez de
julho de dois anos antes e junho do ano anterior.
Justificativa
Segundo Guedes, o governo
precisa agir para ajudar a população mais pobre, que passa dificuldades com a
inflação dos alimentos e com o aumento do preço do gás de cozinha e da energia
elétrica. “Todo mundo está dizendo que o povo está tendo dificuldade de comer,
de comprar o gás de cozinha. Por isso, vamos reduzir o ritmo do ajuste fiscal”,
justificou o ministro. “O teto é um símbolo, mas não vamos deixar as pessoas
com fome.”
O ministro comentou ainda a renúncia do secretário especial de Tesouro e
Orçamento, Bruno Funchal, e do secretário do Tesouro Nacional, Jeferson
Bittencourt. De acordo com ele, os dois técnicos queriam que o valor do Auxílio
Brasil ficasse em R$ 300, mas a ala política tinha pedido um valor maior,
cabendo ao governo chegar a um meio-termo. “Cabe ao presidente [Bolsonaro]
fazer essa arbitragem e cabe a mim fazer a avaliação de até onde pode ir.”
Guedes, no entanto, advertiu que um benefício a partir de R$ 500 por mês
prejudicaria a economia. “Se [o Auxílio Brasil] for para R$ 500, R$ 600, R$
700, esquece, aí não dá mesmo e nós vamos desorganizar a economia.”
Fonte: Agência Brasil –
Imagem: Wilson Dias/Agência Brasil
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