Imagem: AFP / Ronaldo SCHEMIDT |
O Parlamento da Venezuela, de maioria opositora,
suspendeu nesta terça-feira (1º) o julgamento sobre a responsabilidade política
do presidente Nicolás Maduro na crise do país, assim como uma marcha em direção
ao Palácio Presidencial, diante do início de um diálogo com o governo.
"Aprovado, concorda-se com adiar" os pontos da
agenda desta terça, anunciou o chefe da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup,
ao explicar que não se trata de uma "capitulação" da oposição, mas da
busca por uma solução para a crise.
Após a sessão legislativa, Ramos Allup também anunciou a
suspensão de uma passeata convocada pela oposição para esta quinta-feira (3), a
qual teria sua concentração final no Palácio Presidencial de Miraflores. Esse
recuo foi decidido a pedido do Vaticano, que promove o início de um diálogo
entre oposição e governo.
"Nos pediram que os eventos de marcha para
quinta-feira sejam adiados. É sensato acatar", afirmou o parlamentar.
O líder da bancada opositora, Julio Borges, que
apresentou a proposta de adiamento da Mesa de la Unidade Democrática (MUD),
afirmou que eles esperam que o diálogo resulte no adiantamento das eleições
presidenciais.
Segundo Borges, na instalação da mesa de diálogo, no
domingo passado, a oposição apresentou também a proposta de que se liberte de
opositores presos, que o Parlamento recupere "na plenitude" o seu
poder e de nomeação de novas autoridades eleitorais, acusadas de servir ao
governo e que suspenderam um referendo revogatório contra Maduro.
Acrescentou que a MUD propôs também ao Vaticano que
"sejam estabelecidas urgentemente as medidas" para solucionar o
desabastecimento de alimentos e remédios.
"Estamos dando ao Vaticano um voto de confiança, nós
não acreditamos no governo. Todo o nosso esforço é feito em função de que nosso
povo possa votar", manifestou Borges.
A MUD, que se dividiu ante o diálogo, visto que 16 dos
seus partidos consideraram que não havia as condições para que este
acontecesse, tomou a decisão unânime de adiar o julgamento.
"Fazemos votos de que este adiamento não seja
eterno. Respeitamos e aceitamos a opinião da maioria dos nossos
companheiros", afirmou no hemiciclo o deputado Freddy Guevara, do partido
Voluntad Popular - fundado pelo encarcerado Leopoldo López -, que escolheu
ficar à margem do diálogo.
Embora os deputados opositores o tenham qualificado como
"julgamento político", essa figura não existe na Constituição, de
modo que não se pode fazer um impeachment de Maduro, como ocorreu em agosto
contra a presidente do Brasil, Dilma Rousseff.
"Não é suficiente adiar este ponto, que reconhecemos
como uma decisão corajosa. Devem renunciar a qualquer via inconstitucional para
resolver a crise", manifestou ao tomar a palavra o chefe da bancada do
governo, Héctor Rodríguez.
A Justiça, acusada pela oposição de estar à mercê do
governo, declarou o Parlamento em "desacato" e que suas decisões
serão consideradas nulas.
'Aqui não é Brasil'
Enquanto a MUD revisa sua agenda de pressão sobre o
governo, os chavistas mantém seus atos de contramanifestação e partidários de
Maduro caminharam nesta terça-feira até a sede do Poder Legislativo.
Imagem: AFP / Ronaldo SCHEMIDT |
Maduro havia ameaçado prender quem abrisse um julgamento
inexistente na lei, enquanto deputados chavistas solicitaram à Justiça que
declare inconstitucional essa iniciativa parlamentar.
A MUD vincula a continuidade do diálogo a
"gestos" do governo. Na segunda-feira (31), cinco opositores foram
soltos, mas alguns dos principais líderes da MUD continuam presos, entre eles o
mais emblemático, Leopoldo López.
"Estão vendo os primeiros frutos dessa estratégia de
diálogo. É importante, mas não suficiente. Faltam mais de 100 (presos), e (o
governo) tem de nos devolver o referendo, ou convocar eleições
antecipadas", disse Jesús Torrealba antes do anúncio da suspensão do
julgamento de Maduro.
A crise política se agravou na Venezuela em outubro, após
decisões judiciais que cancelaram o recolhimento de assinaturas para a ativação
do referendo revogatório do mandato de Maduro.
Segundo pesquisa Venebarómetro, Maduro é rejeitado por
76,4% da população e 67,8% dos venezuelanos querem sua saída do poder.
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