Ex-presidente se tornou réu da Lava
Jato nesta terça, após Moro aceitar denúncia do MPF
Imagem:Ricardo Stucket/Instituto Lula |
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se tornou nesta
terça-feira (20) réu
na operação Lava Jato, após o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de
Curitiba, aceitar a denúncia
do Ministério Público Federalcontra o político pelos crimes de corrupção
passiva e lavagem de dinheiro. A partir de agora, inicia-se uma longa batalha
jurídica entre defesa e acusação sem prazo para terminar. Independentemente da
decisão do juiz Moro, o processo deve chegar ao Tribunal Regional Federal (2ª
instância), Superior Tribunal de Justiça (3ª instância) e Supremo Tribunal
Federal (4ª instância). Para Lula, sua trajetória política pode ser diretamente
impactada caso ele seja condenado não por Moro, mas na segunda instância. Atual
líder nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência em 2018, Lula
ficaria impedido de concorrer ao cargo com uma condenação no TRF, porque isso
faria dele um ficha-suja.
De acordo com a denúncia do MPF, o ex-presidente é
acusado de ser o chefe de um esquema, ao lado da empreiteira OAS, que
supostamente desviou R$ 87,6 milhões da Petrobras entre 2006 e 2012. Desse
total, Lula teria recebido R$ 3,7 milhões em benefício próprio, “lavados” na
forma de compra de um apartamento no Guarujá e no armazenamento de bens
recebidos durante sua Presidência.
Além dele, tornaram-se réus sua mulher, Marisa Letícia, o
presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, José Adelmário Pinheiro Filho
(Léo Pinheiro), ex-presidente da OAS, Agenor Franklin Magalhães Medeiros,
ex-executivo da OAS, Paulo Roberto Valente Gordilho, engenheiro da OAS, Fábio
Hori Yonamine e Roberto Moreira Ferreira.
O fato de Lula se tornar réu não é um sinal de que ele
será condenado ao final do processo, nem significa que as provas produzidas
contra ele até agora são capazes de sustentar uma condenação. A decisão de Moro
indica a existência de elementos mínimos para que se inicie o processo e a
investigação seja aprofundada, explica o jurista Flávio de Leão Bastos Pereira,
professor de direito constitucional da Universidade Presbiteriana Mackenzie e
um dos fundadores do Observatório Constitucional Latino-Americano.
— Antes da aceitação da denúncia, não existe processo sob
o princípio da ampla defesa, o que existe é uma investigação policial que corre
sob um princípio inquisitorial, ou seja, o Estado e a sociedade se antecipando.
(...) Agora é que essas provas serão submetidas ao crivo quanto à sua
legalidade, veracidade e legitimidade, sempre visando que os réus tenham a sua
defesa observada.
A partir de agora, os advogados de Lula e os promotores
da Lava Jato solicitam novas diligências de investigação, que devem ser sempre
autorizadas ou vetadas pelo juiz Moro. Na avaliação de Bastos Pereira, a
decisão final do juiz não será baseada somente nas provas apresentadas até
agora, mas sim naquelas que eventualmente surjam no curso do processo.
Na decisão de hoje,
Moro escreve que ainda não foi feito um “exame aprofundado das provas”, porque
isso não cabe nessa fase processual. Isso só será “viável após a instrução e
especialmente o exercício do direito de defesa”. Contudo, para o titular da 13ª
Vara Federal de Curitiba, os fatos e provas apresentados pela força-tarefa “até
o momento são suficientes para a admissibilidade da denúncia”.
Segunda instância
Os dois crimes levantados contra Lula podem render uma
condenação máxima de 22 anos de prisão, além de multa.
A corrupção passiva se caracteriza quando a pessoa é
ocupante de um cargo público e recebe vantagem com o objetivo de se beneficiar.
A pena é de 2 a 12 anos de reclusão mais multa.
Já o crime de lavagem de dinheiro é quando se oculta a
natureza de um dinheiro adquirido de forma ilícita. A pena é reclusão de 3 a 10
anos, mais multa.
Se for condenado por Moro, os advogados de Lula devem
recorrer da decisão e levar o caso ao TRF (Tribunal Regional Federal). O mesmo
acontece em caso de absolvição, após recurso apresentado pelos promotores da
Lava Jato.
Por se tratar de um órgão colegiado, com decisão tomada
por um grupo de juízes, uma condenação no TRF tornaria Lula inelegível pelo
período de oito anos porque ele cairia na Lei da Ficha Limpa. Isso o impediria
de disputar as eleições de 2018, 2020, 2022 e 2024, pelo menos, a depender da
data da decisão.
Além disso, uma condenação no TRF pode até levar Lula
para a cadeia, caso o órgão decida condená-lo a uma pena que restrinja sua
liberdade. As outras possibilidades seriam uma condenação sem restrição de
liberdade (regime aberto) ou então a absolvição.
Uma eventual prisão após decisão do TRF dependeria ainda
de uma outra questão. Atualmente, está prevista no Brasil a prisão de
condenados em segunda instância — em fevereiro deste ano, o STF
admitiu o cumprimento de penas de prisão após a condenação por um
Tribunal de Justiça estadual (TJ) ou um Tribunal Regional Federal (TRF).
Mas o STF está reavaliando o caso e pode voltar atrás em sua decisão,
impedindo a prisão de condenados que ainda não esgotaram todas as
possibilidades de recurso, o chamado trânsito em julgado.
Após o TRF, o caso de Lula deve ir para o STJ e o STF,
além de cortes internacionais, como já indicou a defesa do ex-presidente.
Segundo Bastos Pereira, os processos são demorados
justamente para garantir o amplo direito de defesa.
— Os processos são demorados porque se presa o direito à
defesa, e uma decisão penal condenatória tem de ser muito bem refletida e
embasada nos fatos e nas provas, para que não se cometa uma injustiça de se
condenar um inocente.
O professor explica ainda que um processo penal, como o
enfrentado por Lula, busca a “verdade real”, diferentemente de um processo
civil, que almeja a “verdade formal”.
— [Em um processo penal] a verdade real tem de ser
buscada até as últimas circunstâncias, dentro da lei.
O ex-presidente também
é réu, desde 29 de julho, em um processo que corre na 10ª Vara Federal
Criminal de Brasília, sob acusação de tenta atrapalhar a operação Lava Jato.
Ambos processos, no entanto, tramitam paralelamente sem interferência.
Por Diego Junqueira para o R7
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