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AFP/Federico Parra |
A oposição venezuelana afirmou na noite de sexta-feira
que a suspensão do processo de referendo revogatório do mandato do presidente
Nicolás Maduro é um "golpe de Estado", e convocou os venezuelanos a
"restituir a linha constitucional".
"Na Venezuela ocorreu um golpe de Estado, não se
pode qualificar de outra forma. Chegou a hora de defender a Constituição da
República Bolivariana da Venezuela", afirmou o líder opositor Henrique
Capriles.
"Temos que restituir a linha constitucional",
completou Capriles, na primeira reação da opositora Mesa da Unidade Democrática
(MUD).
A oposição venezuelana convocou uma mobilização para a
próxima quarta-feira, em todo o país, para rejeitar a suspensão do processo de
referendo revogatório contra Maduro.
"Na quarta-feira (...) será o início de uma
mobilização, em todo o país, e vamos tomar a Venezuela de ponta a ponta, com
todo o povo mobilizado para restituir a linha constitucional", disse
Capriles em entrevista coletiva.
Ao lado dos principais dirigentes da MUD, o ex-candidato
à presidência informou que a Assembleia Nacional, de maioria opositora, vai
organizar uma sessão de urgência no domingo para "tomar decisões".
Ele disse que o Parlamento vai avaliar a
"conduta" de Maduro, que está em uma viagem por Azerbaijão, Irã,
Arábia Saudita e Catar. Na primeira escala, o presidente deu declarações à
televisão estatal e, apesar de não ter feito referência direta ao referendo,
pediu que "ninguém se torne louco".
"Peço a tranquilidade, o diálogo, a paz",
disse.
Neste sábado acontecerá uma passeata em Caracas
organizada por um grupo de mulheres lideradas por Lilian Tintori, esposa do
opositor preso Leopoldo López.
O porta-voz da MUD, Jesús Torrealba, declarou que "o
governo quer a violência ou a submissão". "Nossa proposta vai ser a
da coragem cívica, a da resistência pacífica. Um país em ditadura deve lutar de
forma ousada para que haja voto".
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), ao qual a oposição
acusa de ser aliado do governo, assim como a Justiça, justificou a decisão de
paralisar o referendo revogatório, acatando a sentença de tribunais penais de
cinco estados, que anularam por fraude uma primeira coleta de assinaturas de 1%
do colégio eleitoral.
A MUD estava certa de que superaria os 20% de assinaturas
exigidos, em meio a um crescente mal-estar popular com a grave crise econômica
que castiga o país petroleiro, com uma aguda escassez de alimentos e
medicamentos, e uma inflação que o FMI estima em 475% este ano.
O presidente socialista, eleito em abril de 2013 após a
morte de seu mentor, Hugo Chávez, e cujo mandato termina em janeiro de 2019,
enfrenta uma impopularidade de 76,5% e 62,3% votariam para revogá-lo, segundo a
empresa Datanálisis.
"Um cenário muito perigoso"
"O governo empurra para um cenário muito perigoso e
de aumento da crise", advertiu Capriles, contra quem uma corte proibiu a
saída do país, assim como Torrealba e outros seis opositores, acusados de
suposta fraude.
O CNE já tinha advertido que, mesmo que fossem reunidos
os 20% de assinaturas, o referendo seria realizado em fevereiro ou março de
2017. Tarde demais para a oposição, pois neste caso, segundo a Constituição, o
presidente revogado cede o poder ao seu vice, sem convocação de novas eleições.
Mas a oposição estava confiante em que uma pressão cidadã
maciça pelo referendo obrigaria o CNE a realizá-lo este ano e conseguir, assim,
realizar eleições antecipadas.
"Não poderão adiar a mudança que este país
pede", acrescentou Torrealba.
Em um momento de tensão, o vice-presidente Aristóbulo
Istúriz garantiu que os representantes do governo e da oposição se reunirão no
fim de semana, de maneira separada, com um grupo de mediação internacional
liderado pelo ex-chefe de Governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero para um
diálogo sobre a crise.
- OEA denuncia 'ruptura democrática' -
A paralisação do processo de referendo foi qualificada de
"rompimento democrático" pelo secretário-geral da Organização dos
Estados Americanos, Luis Almagro.
"Hoje estamos mais convencidos do que nunca do
rompimento democrático na #Venezuela. Chegou a hora de adotar ações concretas
", escreveu Almagro no Twitter.
"Apenas as ditaduras despojam seus cidadãos dos
direitos, ignoram o legislativo tem presos políticos", disse Almagro.
Os Estados Unidos acusaram o CNE de "polarizar"
e tentar "bloquear" uma saída democrática à profunda crise política
na Venezuela.
"Infelizmente, pensamos que esta decisão é
indicativa da polarização do Conselho", destacou o porta-voz do
Departamento de Estado, John Kirby, com relação ao CNE.
O porta-voz ressaltou, lendo uma nota, que o CNE
"está sendo usado para bloquear o exercício pelo povo venezuelano de seu
direito constitucional e democrático a determinar a direção do seu país".
"Estamos profundamente preocupados com a
decisão", disse Kirby, destacando que os venezuelanos enfrentam
"desafios" humanitários, políticos e econômicos "cada vez mais
severos".