O Povo do Sol e a Lenda de Aztlán
Os astecas, autodenominados mexicas, eram um dos vários
grupos nahuas que habitavam a Mesoamérica. Sua origem é frequentemente
associada a um lugar mítico conhecido como Aztlán, que se traduz como
"Lugar da Brancura" ou "Lugar das Garças". As descrições
variam, mas é comumente retratada como uma ilha paradisíaca cercada por águas,
talvez localizada ao norte do Vale do México, de onde teriam iniciado sua
migração (LEÓN-PORTILLA, 1963).
Segundo a tradição, os mexicas viviam em Aztlán em um estado
de servidão ou submissão a outro grupo. Foi ali que seu deus tutelar,
Huitzilopochtli (o "Beija-flor do Sul" ou "Beija-flor
Esquerdo"), o deus do sol, da guerra e do sacrifício, teria se
manifestado. Ele ordenou que seu povo abandonasse Aztlán e empreendesse uma
longa peregrinação em busca de uma nova terra prometida, onde se tornariam um
grande império e seu poder se expandiria (TOWNSEND, 1992). Essa saída de
Aztlán, embora carregada de simbolismo mítico, marca o início de sua identidade
como povo escolhido, guiado por uma divindade poderosa.
A Peregrinação e o Sinal Divino
A jornada dos mexicas de Aztlán foi longa e árdua, durando
cerca de dois séculos e repleta de desafios, conflitos e aprendizados. Eles se
deslocavam constantemente, vivendo como nômades e enfrentando outras tribos no
caminho, enquanto carregavam consigo as imagens de seus deuses e a esperança da
profecia de Huitzilopochtli. Durante essa peregrinação, o povo de
Huitzilopochtli consolidou sua identidade cultural, militar e religiosa,
absorvendo conhecimentos e práticas dos povos com os quais interagiam ou confrontavam
(CARRASCO, 1999).
O destino final da sua busca seria indicado por um sinal
inconfundível: um oráculo de Huitzilopochtli havia profetizado que eles
deveriam se estabelecer onde encontrassem uma águia devorando uma serpente,
empoleirada sobre um cacto (nopal) que crescia em uma rocha, no meio de um
lago. Este sinal não era apenas um guia geográfico, mas uma validação divina de
sua missão e destino.
A Fundação de Tenochtitlán e o Império Asteca
Após anos de errância e dificuldades, os mexicas finalmente
chegaram ao Vale do México, uma região densamente povoada por cidades-estados
já estabelecidas. Foi em 1325 d.C. que, de acordo com a lenda, avistaram o
sinal tão esperado em uma ilha pantanosa do Lago Texcoco. Ali, sobre as águas,
fundaram sua capital, Tenochtitlán, que significa "Lugar do Cacto de
Pedra" (DAVIES, 1987).
A fundação de Tenochtitlán a partir de um local
aparentemente inóspito – uma ilha pantanosa – demonstra a engenhosidade e a
determinação asteca. Eles construíram uma cidade majestosa sobre a água,
utilizando chinampas (ilhas artificiais flutuantes) para a agricultura e
desenvolvendo uma complexa rede de canais e pontes. De suas origens humildes e
nômades, guiados por uma lenda e uma fé inabalável, os astecas ergueram uma das
maiores e mais poderosas civilizações da Mesoamérica, cujo legado cultural e histórico
ressoa até os dias de hoje. A lenda de Aztlán não é apenas um mito de origem; é
a narrativa fundamental que legitimou o império asteca e forneceu a base para
sua identidade e destino.
Referências Bibliográficas
CARRASCO, David. City of Sacrifice: The Aztec Empire and
the Role of Violence in Civilization. Boston: Beacon Press, 1999.
DAVIES, Nigel. The Aztecs: A History. Norman:
University of Oklahoma Press, 1987.
LEÓN-PORTILLA, Miguel. Aztec Thought and Culture: A Study
of the Ancient Nahuatl Mind. Tradução de Jack Emory Davis. Norman:
University of Oklahoma Press, 1963.
TOWNSEND, Richard F. The Aztecs. Londres: Thames and
Hudson, 1992.
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