As Cores que Contam Histórias: Azul, Branco e Vermelho
O primeiro impacto visual da bandeira da Bahia vem de suas
marcantes faixas horizontais nas cores azul, branco e vermelho. Essas
tonalidades não são fruto do acaso, mas sim uma homenagem direta e intencional
aos princípios da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e
Fraternidade. Essa escolha reflete a forte influência das ideias
iluministas que permearam os movimentos pela independência do Brasil no final
do século XVIII e início do XIX, especialmente na Bahia, um berço de
efervescência ideológica (REIS, 2004).
O azul profundo, na parte superior, remete ao vasto
céu da Bahia, mas vai além, simbolizando a liberdade tão almejada por um
povo que ansiava por autonomia. O branco central, por sua vez,
representa a paz e a igualdade, valores fundamentais para a
construção de uma sociedade mais justa e harmoniosa. Já o vermelho, na
parte inferior, é a cor da coragem, do sacrifício e do sangue
derramado por todos aqueles que, ao longo da história, não hesitaram em lutar e
se arriscar pela liberdade e pela justiça em terras baianas (BAHIA, 2011).
Essas cores, juntas, formam uma tricolor que não apenas adorna o pavilhão, mas
também narra a essência do espírito baiano.
O Triângulo Branco e a Conspiração dos Alfaiates: Um
Legado Maçônico de Rebeldia
No canto superior esquerdo da bandeira, sobre a faixa azul,
encontra-se um elemento de profundo significado histórico: o triângulo
branco. Este triângulo não é meramente um elemento geométrico; ele é um
símbolo maçônico, o triângulo equilátero, diretamente associado à Loja
Maçônica Cavaleiros da Luz. Essa loja foi um dos principais centros de
articulação da famosa Conspiração dos Alfaiates, também conhecida como
Revolução dos Búzios ou Revolta dos Alfaiates, um movimento de caráter
emancipacionista e social que explodiu em 1798 (TAUNAY, 1941).
A Conspiração dos Alfaiates foi um levante popular ousado,
impulsionado por pessoas comuns – como alfaiates, soldados e artífices – que
sonhavam com uma Bahia livre do domínio colonial português. Mais do que a
independência política, esses conspiradores vislumbravam uma sociedade onde a igualdade
de direitos fosse uma realidade e, crucialmente, onde a escravidão fosse
abolida. Apesar de ter sido brutalmente reprimida pelas autoridades
coloniais, com prisões, torturas e execuções, a conspiração deixou um legado
indelével de ideais libertários que ressoaram por todo o Brasil (MORAES, 2014).
O triângulo na bandeira, portanto, é um poderoso tributo àqueles visionários
que, mesmo diante de um poder opressor, ousaram sonhar e lutar por um futuro
mais justo e equitativo para todos.
As Três Estrelas: Brilhos Guia da Liberdade, Igualdade e
Fraternidade
Complementando o simbolismo do triângulo, as três
estrelas brancas dispostas dentro dele adicionam uma camada extra de
significado à bandeira da Bahia. Essas estrelas representam, de forma clara e
concisa, os três ideais fundamentais da Revolução Francesa: Liberdade,
Igualdade e Fraternidade. Esses princípios foram a força motriz não apenas
para a Conspiração dos Alfaiates, mas para muitos outros movimentos de
independência que floresceram na Bahia e em outras partes do Brasil (CÂMARA DOS
DEPUTADOS, [s.d.]).
As estrelas servem como um lembrete constante de que esses
valores não são apenas conceitos abstratos, mas sim pilares essenciais para a
construção de uma sociedade progressista. Elas simbolizam a aspiração contínua
do povo baiano por um futuro onde a liberdade seja plena, a igualdade seja
garantida a todos os cidadãos e a fraternidade prevaleça nas relações sociais.
São como faróis que guiam os passos do estado em sua busca por um futuro mais
próspero e equitativo.
Uma Bandeira com História Própria: Da Conspiração à
Oficialização
É interessante notar que, apesar de suas profundas raízes
históricas nos movimentos revolucionários dos séculos XVIII e XIX, a bandeira
da Bahia não foi imediatamente adotada após a independência do Brasil. Sua
concepção formal ocorreu bem depois, em 1889, sendo projetada por Clóvis
do Prato. No entanto, sua oficialização como símbolo do estado da Bahia só
viria a acontecer em 22 de junho de 1960, por meio da Lei nº 1.956,
durante o governo de Juracy Magalhães (BAHIA, 1960; GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA,
[s.d.]). Essa trajetória reflete como os símbolos nacionais e estaduais muitas
vezes se consolidam ao longo do tempo, absorvendo e cristalizando a memória de
eventos e ideais passados.
A bandeira da Bahia, com sua beleza intrínseca e seu
riquíssimo simbolismo, convida cada cidadão a uma imersão profunda na história
de um estado que se destaca por sua gente aguerrida, sua cultura vibrante e sua
incansável busca por liberdade e justiça. É um símbolo que transcende o tempo,
unindo o passado de lutas heroicas, o presente de desafios e conquistas, e o
futuro de aspirações e esperança. A bandeira baiana é, e sempre será, um farol
de resistência, um emblema da identidade e um lembrete perene da força e da
resiliência do povo baiano.
Referências Bibliográficas
- BAHIA.
Lei nº 1.956, de 22 de junho de 1960. Dispõe sobre a Bandeira do Estado da
Bahia. Salvador, BA: Diário Oficial do Estado da Bahia, 1960. Disponível
em: https://www.al.ba.gov.br/legislacao/lei-1956-60.
Acesso em: 1 jul. 2025.
- CÂMARA
DOS DEPUTADOS. Símbolos Nacionais. [s.d.]. Disponível em: https://www.camara.leg.br/simbolos-nacionais. Acesso
em: 1 jul. 2025.
- GOVERNO
DO ESTADO DA BAHIA. Símbolos. [s.d.]. Disponível em: http://www.ba.gov.br/simbolos.htm. Acesso em: 1 jul.
2025.
- MORAES,
Evaristo de. A Conspiração dos Alfaiates. 3. ed. Brasília:
Senado Federal, Conselho Editorial, 2014.
- REIS,
João José. Rebelião Escrava no Brasil: a história do levante dos
malês em 1835. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
- TAUNAY,
Afonso de E. História da Cidade de Salvador. São Paulo:
Melhoramentos, 1941.

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