Radio Evangélica

sábado, 5 de julho de 2025

A Monarquia Hachemita da Jordânia: Estrutura Política, Poderes Reais e Identidade Religiosa

A Jordânia, oficialmente Reino Hachemita da Jordânia, é um dos poucos países do Oriente Médio que mantém uma monarquia constitucional ativa. Governada pela dinastia Hachemita desde 1921, a Jordânia apresenta uma estrutura híbrida entre elementos democráticos e autoritários, nos quais o rei desempenha um papel central na vida política e religiosa do país. Este artigo analisa a organização política da Jordânia, os limites e alcances do poder real, a relação entre o Estado e a religião, bem como as características que conferem estabilidade relativa ao regime em meio a um cenário regional frequentemente marcado por instabilidades.

Introdução

A Jordânia é uma monarquia constitucional baseada em um sistema parlamentar, mas com fortes poderes concentrados na figura do monarca. Desde sua independência em 1946, o país tem sido governado pela dinastia Hachemita, atualmente sob o rei Abdullah II. A Constituição jordaniana, promulgada em 1952 e revisada várias vezes, estabelece os princípios do regime, mas concede amplos poderes ao rei, o que torna a monarquia o eixo central da governabilidade.

Estrutura Política e Forma de Governo

A Jordânia é formalmente uma monarquia constitucional e hereditária, com sistema parlamentar. No entanto, na prática, muitos analistas a classificam como uma monarquia autoritária ou semi-autoritária, devido à concentração de poderes nas mãos do rei.

O poder executivo é exercido pelo rei e pelo Conselho de Ministros. O rei nomeia o primeiro-ministro, que, por sua vez, forma um gabinete aprovado pelo monarca. O poder legislativo é bicameral, composto pela Câmara dos Deputados (eleita por voto popular) e pelo Senado (nomeado pelo rei).

O judiciário é tecnicamente independente, mas o rei possui autoridade sobre a nomeação de altos cargos judiciais, incluindo o presidente do Conselho Judicial.

Poderes do Rei e Intervenção na Política

O rei possui prerrogativas amplas que incluem:

- Nomear e demitir o primeiro-ministro e outros membros do governo;
- Dissolver o Parlamento;
- Ratificar leis e tratados internacionais;
- Comandar as Forças Armadas;
- Nomear governadores e embaixadores;
- Intervir diretamente em decisões políticas e administrativas.

Segundo Lucas (2014), “a centralidade do rei na estrutura política da Jordânia impede uma democratização plena, mesmo em contextos de abertura eleitoral.”

Religião Oficial e Papel da Religião no Estado

A Constituição da Jordânia define o país como um Estado islâmico. O Islã é a religião oficial, sendo o rei considerado o Guardião dos Lugares Sagrados Islâmicos em Jerusalém, um título que reforça sua legitimidade tanto religiosa quanto política.

Embora a Jordânia reconheça outras religiões e garanta a liberdade de culto (como para cristãos), a legislação islâmica (sharia) serve de base para diversas áreas do direito, principalmente o direito de família.

Segundo Hroub (2012), “a religião na Jordânia é uma ferramenta de legitimação política e social para o regime, que se apresenta como protetor do Islã moderado frente ao extremismo.”

Estabilidade e Desafios do Regime Hachemita

A Jordânia tem sido relativamente estável, mesmo durante períodos turbulentos como a Primavera Árabe (2011). O rei Abdullah II respondeu com reformas pontuais e controle social, evitando rupturas drásticas.

A monarquia usufrui de um certo consenso nacional, especialmente entre elites tribais, setores urbanos e comunidades cristãs, que veem o rei como um fator de equilíbrio em uma região marcada por conflitos sectários e guerras civis (Síria, Iraque, Palestina).

Contudo, a Jordânia enfrenta desafios econômicos crônicos, desemprego alto e dependência de ajuda externa (principalmente dos EUA e de países do Golfo), o que pressiona o regime por reformas mais profundas.

Considerações Finais

A monarquia jordaniana combina tradição, pragmatismo político e controle centralizado. Embora seja formalmente constitucional, o regime é caracterizado por um sistema pseudodemocrático, onde o rei exerce forte influência sobre os demais poderes. A religião, por sua vez, é usada como ferramenta de coesão nacional e legitimação institucional. A longevidade do regime depende de sua capacidade de equilibrar demandas por reformas com a preservação do status quo.

Referências Bibliográficas

·         HROUB, Khaled. Jordan: Stability at the Cost of Democracy? Carnegie Middle East Center, 2012.

·         LUCAS, Russell. Institutions and the Politics of Survival in Jordan: Domestic Responses to External Challenges, 1988-2001. SUNY Press, 2005.

·         RYAN, Curtis. Jordan and the Arab Uprisings: Regime Survival and Politics Beyond the State. Columbia University Press, 2018.

·         SCHENKER, David. Jordan: The Politics of Palace and Parliament. Washington Institute for Near East Policy, 2013.

·         CONSTITUIÇÃO DA JORDÂNIA (1952, com emendas). Disponível em: https://www.constituteproject.org/constitution/Jordan_2011.pdf

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