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Largo do Rossio, atual Praça Tiradentes, com vista da casa do brigadeiro Manuel Ferreira e o Pelourinho (Foto: Acervo Biblioteca Nacional) |
Formação e Carreira Militar
Filho de uma família tradicional, Araújo
Guimarães estudou matemática na Academia Real da Marinha, em Lisboa, e
trabalhou no Observatório Real. Ainda na Europa, aprofundou-se em astronomia —
saber que o acompanharia nas cátedras que viria a ocupar no Brasil. Em 1805
regressou a Salvador e, com a transferência da corte portuguesa para o Rio
(1808), tomou posse como professor na recém-criada Academia Real Militar, sendo
depois promovido a coronel (1823) e brigadier (1828).
A Gazeta do Rio de Janeiro (1808–1821)
Primeiro jornal impresso em solo
brasileiro, a Gazeta nasceu como órgão oficial da Coroa de d. João VI. Araújo
Guimarães atuou como redator-chefe, negociando a difícil tarefa de noticiar
guerras napoleônicas, decretos régios e vida da corte sem ferir a rígida
censura. Seu estilo direto, porém culto, distinguiu-se do tom laudatório comum
aos “jornais da Impressão Régia”.
O Patriota (1813–1814): literatura,
política e ciência
Em 1813 ele fundou o mensal O Patriota:
Jornal Litterario, Politico, Mercantil — primeiro periódico a circular fora do
estrito controle governamental. Editado na Impressão Régia, trazia ensaios de
economia, poesia e traduções de autores franceses, além de discussões sobre
comércio atlântico e reformas ilustradas. A coleção completa encontra-se
digitalizada na Biblioteca Brasiliana.
O Espelho (1821–1823): tribuna da
Independência
Com o avanço das Cortes portuguesas e o
clamor por autonomia, Araújo Guimarães lança O Espelho, tabloide que se
tornaria “sustentáculo da causa brasileira”. O periódico defendia o governo
provisório da Bahia, comentava os embates de d. Pedro com Lisboa e divulgava
proclamações patrióticas; também polemizava com o Semanário Cívico, outro
impresso liberal. Pesquisas recentes destacam como o redator articulou uma
opinião pública ilustrada ao filtrar eventos europeus e adaptá-los às demandas
locais.
Atuação Política e Últimos Anos
Eleito deputado provincial (1823), Araújo
Guimarães defendeu a participação das províncias na formação do novo Estado
brasileiro. Nos anos 1830, viu-se às voltas com o drama familiar: seu filho
Inocêncio Eustáquio, envolvido na Sabinada (revolta separatista da Bahia,
1837–1838), foi condenado à morte. Desgostoso, Manuel faleceu em 24 de outubro
de 1838, sem ver o filho anistiado anos depois.
Legado
• Pioneirismo jornalístico: introduziu
práticas profissionais — periodicidade regular, seção de anúncios e mix de
temas — que pautariam a imprensa oitocentista.
• Divulgação científica: traduziu tratados de matemática e astronomia, em
consonância com os ideais ilustrados de utilidade pública.
• Formação da esfera pública: seus jornais mediaram debates sobre Constituição,
comércio e identidade nacional, lançando bases para um jornalismo de opinião
crítico.
• Modelo de intelectual-militar: articulou saberes técnico-científicos e
engajamento cívico, típico de oficiais ilustrados do Primeiro Reinado.
Referências Bibliográficas
·
SILVA, Maria Beatriz Nizza da.
A Gazeta do Rio de Janeiro (1808‑1822): cultura e sociedade. Rio de Janeiro:
Eduerj, 2007.
·
MEIRELLES, Juliana Gesuelli. “O
Espelho e a Formação da Opinião Pública: a atuação de Manuel Ferreira de Araújo
Guimarães (1821‑1822).” Estudos Ibero-Americanos, v. 48, 2022.
·
ARAÚJO GUIMARÃES, Manuel F. de.
O Patriota (edicões de 1813‑1814). Impressão Régia; digitalização BBM-USP.
·
NASCIMENTO, Ana Paula.
“Imprensa e Poder na Corte Joanina: o papel de Araújo Guimarães.” Revista de
História, n. 174, 2016.
·
BIBLIOTECA NACIONAL. “Gazeta do
Rio de Janeiro – bicentenário.” Artigo institucional, 2018.
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