Radio Evangélica

domingo, 29 de junho de 2025

O Gramofone de Berliner e a Revolução do Som

A história da gravação sonora é marcada por disputas tecnológicas que moldaram a forma como consumimos música e informação. Entre essas disputas, destaca-se a 'guerra de formatos' entre cilindros e discos, travada no fim do século XIX. Enquanto o fonógrafo de cilindros, criado por Thomas Edison, representava o primeiro salto comercial na reprodução de som, foi o disco de gramofone, patenteado por Emile Berliner, que estabeleceu as bases para a indústria fonográfica moderna. Este artigo traça a trajetória histórica dessa revolução, explorando os aspectos técnicos, industriais e culturais envolvidos na vitória do disco sobre o cilindro.

As Raízes da Gravação Sonora: Invenções Precursoras (1857–1887)

1857 – Fonoautógrafo

Inventado por Édouard-Léon Scott de Martinville, o fonoautógrafo foi o primeiro dispositivo a registrar ondas sonoras graficamente. Utilizando um diafragma acoplado a uma pena que desenhava os sons sobre um cilindro coberto de fuligem, a máquina não permitia a reprodução do som — apenas sua visualização. Mesmo assim, marcou o início da busca pela fixação do som no tempo.

1877 – Paléophone

Charles Cros propôs o conceito de gravação e reprodução sonora por meio de sulcos fotogravados em superfícies metálicas. Embora sua ideia tenha sido contemporânea ao fonógrafo de Edison, Cros não chegou a construir um protótipo funcional.

1877 – Fonógrafo de Edison

Thomas Edison aperfeiçoou os conceitos anteriores ao desenvolver o fonógrafo, um dispositivo que usava cilindros metálicos recobertos de folha de estanho (posteriormente cera) para gravar e reproduzir sons. O fonógrafo era operado por uma manivela e seu diferencial era permitir a escuta imediata da gravação.

1881 – Grafofone

Criado por Alexander Graham Bell e Charles Sumner Tainter, o grafofone trouxe melhorias ao fonógrafo de Edison. Utilizava cilindros de cera endurecida e agulhas mais precisas, o que resultava em melhor qualidade de som.

1887 – Gramofone de Berliner

A contribuição definitiva veio com Emile Berliner, que substituiu os cilindros por discos planos de 12,7 cm, com gravação lateral. Diferente do fonógrafo, que gravava por escavação vertical, o gramofone registrava as vibrações em deslocamento lateral, o que futuramente favoreceu a reprodução estéreo.

A Guerra dos Formatos: Cilindro vs. Disco

A disputa entre os cilindros de Edison e os discos de Berliner não foi decidida pela qualidade técnica. Na verdade, os cilindros ofereciam reprodução mais constante devido à velocidade linear uniforme, enquanto os discos perdiam velocidade conforme a agulha se aproximava do centro. Contudo, os discos ganharam por: facilidade de produção, custo reduzido, melhor armazenamento, design estético e simplicidade dos reprodutores.

Berliner e a Democratização do Som Gravado

Berliner, um imigrante judeu alemão, chegou aos Estados Unidos aos 19 anos. Seu talento o levou a desenvolver o transmissor de carbono — o primeiro microfone funcional — antes de se dedicar à gravação sonora. O primeiro gramofone comercial foi lançado em 1889, inicialmente como brinquedo infantil, evoluindo rapidamente com melhorias mecânicas.

O Legado do Gramofone

A invenção de Berliner mudou radicalmente a maneira como a música era consumida e distribuída, criando uma indústria fonográfica de massa, contribuindo para a internacionalização de artistas, impulsionando o rádio e inspirando colecionadores até hoje.

Referências Bibliográficas

·        Chaline, Erich. 50 Máquinas que Mudaram o Rumo da História. Rio de Janeiro: Sextante, 2014.

·        Library of Congress. Emile Berliner and the Birth of the Recording Industry.

·        National Park Service. Origins of Sound Recording.

·        Milner, Greg. Perfecting Sound Forever: An Aural History of Recorded Music. Farrar, Straus and Giroux, 2009.

·        Read, Oliver; Welch, Walter. From Tin Foil to Stereo: Evolution of the Phonograph. Howard W. Sams, 1976.

·        Gitelman, Lisa. Scripts, Grooves, and Writing Machines: Representing Technology in the Edison Era. Stanford University Press, 1999.

Nenhum comentário:

Postar um comentário