A Dinastia Pahlavi: Modernização e Crescente
Descontentamento
A dinastia Pahlavi teve início em 1925 com Reza Khan, um
oficial militar que depôs a frágil dinastia Qajar e se coroou Xá (imperador).
Seu reinado e, posteriormente, o de seu filho Mohammad Reza Pahlavi, foram
marcados por um ambicioso programa de modernização e ocidentalização. As
reformas incluíram a construção de infraestrutura, a secularização do sistema
legal e educacional, e o fortalecimento do exército. O objetivo era transformar
o Irã em uma nação próspera e moderna, alinhada com o Ocidente.
No entanto, essa modernização imposta de cima para baixo
gerou significativo descontentamento. A secularização alienou o clero xiita e
parcelas conservadoras da população, que viam as reformas como um ataque aos
valores islâmicos. O rápido crescimento econômico, impulsionado principalmente
pelas receitas do petróleo, não se traduziu em uma distribuição equitativa da
riqueza, exacerbando as desigualdades sociais. Além disso, o regime Pahlavi era
notório por sua natureza autocrática, com a supressão da dissidência política e
a atuação da SAVAK, a polícia secreta do Xá, que empregava métodos repressivos
para manter o controle. A crescente dependência do apoio ocidental,
especialmente dos Estados Unidos, também alimentava o sentimento antiamericano
e anti-imperialista em diversos setores da sociedade iraniana (Abrahamian,
2008).
A Revolução Islâmica de 1979: A Queda da Monarquia
A combinação desses fatores criou um terreno fértil para a
revolta. A Revolução Islâmica de 1979 não foi um movimento monolítico, mas sim
uma coalizão complexa de diversas forças sociais e políticas. Embora grupos
marxistas e liberais tivessem um papel, a liderança carismática do aiatolá
Ruhollah Khomeini, exilado na França, emergiu como a força unificadora.
Khomeini, com sua retórica anti-imperialista e sua defesa de um governo
islâmico baseado nos princípios da justiça social e da independência, conseguiu
mobilizar milhões de iranianos, desde religiosos conservadores até estudantes e
intelectuais desiludidos com o Xá.
As manifestações de rua cresceram em intensidade ao longo de
1978, culminando em greves generalizadas que paralisaram o país. Diante da
pressão popular esmagadora e da perda de apoio dentro das forças armadas,
Mohammad Reza Pahlavi foi forçado a deixar o Irã em janeiro de 1979. Em 1º de
fevereiro, Khomeini retornou triunfalmente ao país, marcando o fim de 2.500
anos de monarquia persa e o início de uma nova era (Keddie, 2006).
A Consolidação da República Islâmica e o Regime Atual
Após a queda do Xá, o Irã estabeleceu a República
Islâmica por meio de um referendo popular. A nova constituição, aprovada em
1979 e revisada em 1989, estabeleceu um sistema político único, que combina
elementos de uma república com um arcabouço teocrático. O poder supremo é
detido pelo Líder Supremo (Vali-e Faqih), um clérigo islâmico que é o
chefe de estado, comandante-em-chefe das forças armadas e o principal
intérprete da lei islâmica (Sharia). O primeiro Líder Supremo foi o aiatolá
Khomeini, sucedido em 1989 pelo aiatolá Ali Khamenei.
Embora o Irã possua instituições republicanas, como um
presidente eleito e um parlamento (Majles), o poder de supervisão e veto do
Líder Supremo e de outros órgãos controlados pelo clero, como o Conselho dos
Guardiães, limita significativamente a soberania popular. O Conselho dos
Guardiães, composto por juristas e clérigos, tem o poder de vetar leis que
considere contrárias à Sharia ou à constituição, e de desqualificar candidatos
a cargos eletivos. Essa estrutura dual de poder, com a primazia da autoridade
religiosa sobre a vontade popular, levou muitos observadores e organizações
internacionais a classificar o regime iraniano como uma ditadura teocrática
(Human Rights Watch, 2024).
As liberdades civis são restritas, especialmente para
mulheres e minorias religiosas, e a dissidência política é severamente
reprimida. A Guarda Revolucionária Islâmica, uma força militar e ideológica,
desempenha um papel crucial na manutenção do regime e na projeção do poder
iraniano na região. A política externa do Irã é marcada por uma postura
anti-ocidental e pela busca por influência regional, muitas vezes através do
apoio a grupos não estatais.
Conclusão
A transição da monarquia Pahlavi para a República Islâmica
representou uma profunda reconfiguração do cenário político iraniano. A queda
do Xá foi o resultado de uma complexa interação entre descontentamento popular
com a autocracia e a ocidentalização forçada, a ascensão de uma liderança
religiosa carismática e a busca por uma identidade nacional autêntica. O regime
que se seguiu, embora formalmente uma república, opera sob os ditames de uma
autoridade teocrática, restringindo as liberdades e mantendo um controle
rigoroso sobre a sociedade. A compreensão dessa transição é crucial para
analisar a dinâmica geopolítica do Oriente Médio e os desafios enfrentados pela
população iraniana.
Referências Bibliográficas
- Abrahamian,
Ervand. (2008). A History of Modern Iran. Cambridge University
Press.
- Human
Rights Watch. (2024). World Report 2024: Iran. Disponível em: https://www.hrw.org/world-report/2024/country-chapters/iran
(Acesso em 19 de junho de 2025).
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