Apesar de queixas de detentos e
agentes, empresa do Rio recebeu R$ 97,2 milhões do Maranhão e nega falta de
qualidade da comida
MARCELO GOMES / RIO - O Estado de S.Paulo
Carne podre. Frango cru com arroz. Comida fria. As constantes
reclamações em relação à qualidade das quentinhas fornecidas aos presos do
Maranhão não evitaram que o governo de Roseana Sarney (PMDB) gastasse no ano
passado R$ 23,5 milhões com a Masan Comercial Distribuidora Ltda. O montante
supera em 147% o que foi pago em 2011 à mesma empresa, única fornecedora de
marmitas para cadeias do Estado.
A
Masan alega nunca ter recebido reclamações. O governo do Maranhão afirma que a
alimentação é balanceada e acompanhada por nutricionistas.
Com
sede no Rio, a Masan já recebeu R$ 97,2 milhões de diversos órgãos do governo
maranhense desde 2011. Quase metade do valor (R$ 47,6 milhões) saiu da
Secretaria de Justiça e Administração Penitenciária (Sejap). Os contratos preveem
"prestação de serviços de preparo, transporte e fornecimento de
alimentação aos estabelecimentos penais".
"Muitas vezes, o
frango vem cru, o arroz duro e o feijão, estragado. Nada presta. É impossível
comer", disse ao Estado um preso do regime semiaberto.
Mulheres
de detentos também reclamam da comida e dizem que a maioria dos presos não
consegue comê-la. "É tão ruim que sobra, e os presos do semiaberto colocam
em carrinhos de mão e vendem para os criadores de porcos. Um carrinho de mão
cheio custa R$ 5", contou uma mulher de 41 anos, cujo marido está preso há
10. Segundo ela, frequentemente a carne vem crua e os homens têm de cozinhar
novamente nos fogareiros improvisados nas celas.
O
vice-presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários, Cezar Castro Lopes,
afirmou que no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pedrinhas mais da metade
das marmitas é devolvida pelos presos. "Quem recebe comida de parentes não
come a quentinha. Acaba indo tudo para o lixo."
Segundo
Lopes, em algumas unidades prisionais os agentes penitenciários contratam
cozinheiras para não comer as quentinhas fornecidas pela Masan. O sindicato já
teria comprado fogões e geladeiras para os agentes em alguns presídios.
Fornecimento. Além das cadeias, a Masan também forneceu nos últimos três anos
comida para batalhões da Polícia Militar, delegacias da Polícia Civil e escolas
estaduais maranhenses, segundo o Portal da Transparência. Os primeiros
contratos da empresa com o governo remontam a 2007, ainda na gestão Jackson
Lago (PDT), cassado em 2009, ano em que a atual governadora Roseana Sarney
assumiu. Algumas contratações foram celebradas com dispensa de licitação.
Em
seu site, a Masan informa que, além do Maranhão, a empresa atua nos Estados de
São Paulo, Rondônia, Rio de Janeiro e no Distrito Federal.
O Estado esteve anteontem em duas unidades da
empresa em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Havia movimentação de
funcionários - segundo um deles, cerca de 60 pessoas trabalhavam no local. Na
sede administrativa, que fica próxima, um cartaz colado na porta do prédio de
três andares informava que não haveria expediente naquela tarde. Segundo um
funcionário, acontecia uma festa anual do grupo, que também administra um
frigorífico e outra fábrica na região.
A
gestão Roseana disse que o controle de qualidade das quentinhas é feito por
equipe da Secretaria Adjunta de Justiça da Sejap. Questionada sobre o motivo do
aumento do gasto com a Masan, o governo informou que "a manutenção da
estrutura dos presídios requer investimentos efetivos em infraestrutura, mão de
obra e qualificação e na alimentação".
A Masan informou, em nota,
que o cardápio é composto "de carboidratos, leguminosas, proteínas,
guarnição e bebida não alcoólica". A empresa afirmou também que "não
foi comunicada oficialmente pelos órgãos competentes de que as refeições
servidas estão fora do padrão de qualidade" e que "tem um corpo
técnico formado por nutricionistas que faz a inspeção das refeições
diariamente". / COLABOROU ARTUR RODRIGUES, ENVIADO
ESPECIAL A SÃO LUÍS
Fonte: http://www.estadao.com.br
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