Ex-presidente anunciou que, depois de o julgamento do mensalão terminar, vai falar
SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta
terça-feira, em entrevista a veículos ligados ao movimento sindical de São
Bernardo do Campo, que está voltando para articulação política e deu um recado:
“estou no jogo”. O ex-presidente esclareceu, contudo, que não pretende ser
candidato e que terá o "papel que Dilma quiser que ele tenha" na
disputa do ano que vem. Sobre o mensalão, diz que depois que o todo o
julgamento terminar, vai falar. "Tenho muita coisa a falar", mas não
deu nenhuma pista do que seria.
— Se tem uma coisa que eu tenho vontade é de falar. Eu tenho cócegas na
garganta para falar. E vocês ajudaram a quebrar o tabu, porque fazia tempo que
eu não falava durante tanto tempo. E nunca imaginei que justamente pra vocês eu
fosse dar uma entrevista mais difícil. Estou voltando com muita vontade, com
muita disposição. Para felicidade de alguns, para desgraça de outros. É o
seguinte, eu estou no jogo — disse Lula, em entrevista que durou 90 minutos no
Instituto Lula.
Embora o ex-presidente já tenha dado uma grande entrevista para o jornal
Valor Econômico no começo do ano, ele considerou esta como a primeira
entrevista concedida desde que deixou o Palácio do Planalto em 2010.
Dizendo que não haveria pergunta "proibida", os jornalistas lhe perguntaram como estava vendo o julgamento do mensalão.
— Depois que o julgamento estiver totalmente concluído eu vou falar. E
tenho muita coisa pra falar — disse Lula, para quem no aspecto político do
julgamento os réus já foram "condenados há muito tempo”. Alegou que não
falaria agora em "respeito às instituições envolvidas na questão".
A entrevista abordou também assuntos polêmicos. Lula defendeu a
necessidade de um novo marco regulatório das comunicalções.
— Há um projeto. O Paulo Bernardo disse que ia fazer debates públicos,
mas não andou —lamentou o ex-presidente, sem especificar que tipo de projeto o
país precisa para o setor.
Lula considerou importantes as manifestações de rua de junho e julho.
Para ele, os protestos colocaram em xeque todos os governantes - de prefeitos a
presidente da República - "mas ajudaram a criar uma nova agenda política
para o país, apesar do fato de alguns quererem se apropriar das manifestações
para desqualificar a política.
— Se alguém chega para você dizendo "olha, eu não gosto de
política, mas... Pode crer, essa pessoa está sendo política - — o ex-presidente
a jornalistas dos veículos "amigos", como a TVT e Tribuna
Metalúrgica, ambos ligados ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
O ex-presidente falou também sobre a reforma política, com o fim do
financiamento privado das campanhas eleitorais.
— Vocês veem as grandes empresas fazendo campanhas contra o
financiamento privado? Vocês veem empresários reclamando que não querem
contribuir com campanhas eleitorais? - pergunta Lula, ressalvando porém que o
Congresso não tem interesse, nem força, para fazer uma mudança importante no
sistema político-eleitoral, porque põe em risco os próprios mandatos.
— Uma reforma para valer não vai acontecer agora. Por isso, vai ter de
ser feita por meio de uma constituinte exclusiva, com ampla participação da
sociedade — disse o ex-presidente.
Lula criticou também os "opositores" do programa "Mais
Médicos", lembrando que o país não tem nem especialistas e nem tecnologia
em diversas áreas do país.
— Lá atrás, quando rejeitaram a CPMF, tiraram R$ 40 bilhões por ano da
saúde, achando que iam prejudicar o Lula. Mas prejudicaram foi o povo —
lembrou.
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