O Cenário Pós-Revolucionário
Ao desembarcar em Pernambuco, o Conde de Palma encontrou uma
província arrasada. A elite intelectual e comercial que liderara o movimento
havia sido desarticulada por meio de prisões, exílios e execuções. A economia,
baseada na produção de açúcar e algodão, estava estagnada devido à interrupção
do comércio e à fuga de investimentos. Socialmente, o clima era de medo e
desconfiança. As feridas abertas pela violenta repressão comandada pelo General
Luís do Rego Barreto, antecessor imediato de Palma na gestão militar, criaram
um abismo entre a população e a administração colonial. A tarefa, portanto, não
era apenas governar, mas curar uma província traumatizada e ressentida.
A Governança da Pacificação
Ciente de que a continuidade de uma política puramente
repressiva poderia gerar novas insurreições, a gestão do Conde de Palma foi
marcada por uma abordagem mais conciliadora. Seu principal objetivo era
desarmar os espíritos e reintegrar Pernambuco à órbita do Império Português de
forma estável. Para isso, buscou atenuar o clima de perseguição que se
instalara.
Embora a Coroa exigisse firmeza, a administração de Palma
procurou equilibrar a aplicação da justiça com gestos de clemência. Aos poucos,
buscou-se normalizar a vida na província, reativando as instituições e
incentivando o retorno das atividades comerciais. Essa postura de
"pacificação" era estratégica: visava não apenas a submissão, mas
também a reconstrução da lealdade da elite local, fundamental para a
governabilidade de um território tão vasto e economicamente importante.
Os Desafios da Reconstrução e a Complexidade da
Governança
Além da pacificação política, o Conde de Palma enfrentou o
monumental desafio da reconstrução econômica. A província necessitava
urgentemente de investimentos para recuperar suas lavouras, reabrir seus portos
e restabelecer as rotas comerciais. Sua administração focou em medidas que
pudessem sinalizar segurança e estabilidade para os produtores e comerciantes,
incentivando o reaquecimento da economia.
Contudo, governar Pernambuco não era uma tarefa simples. A
província possuía uma forte identidade regional e um histórico de resistência
ao poder central, fosse ele de Lisboa ou, posteriormente, do Rio de Janeiro.
Palma precisou navegar as complexas redes de poder local, lidando com famílias
influentes e interesses divergentes. Sua governança demonstrou a dificuldade
inerente à administração colonial em um território com fortes tensões regionais
e um ideal de autonomia que, embora derrotado militarmente em 1817, permanecia
latente na consciência pernambucana. A aparente calma conquistada durante seu
governo seria, na verdade, o prelúdio de novos conflitos que eclodiriam nos
anos seguintes, como a Confederação do Equador em 1824.
Conclusão
A administração de Francisco de Assis Mascarenhas, o Conde
de Palma, foi um capítulo crucial na história de Pernambuco e do Brasil. Sua
gestão simboliza a tentativa da Coroa Portuguesa de passar da repressão brutal
para uma política de controle mais sutil e administrativa após a queda da
Revolução de 1817. Ao equilibrar a necessidade de ordem com a urgência da
reconstrução, Palma conseguiu uma estabilização temporária, mas não eliminou as
profundas tensões que definiriam o conturbado processo de independência do
Brasil e a contínua luta de Pernambuco por maior autonomia política e
econômica.
Referências Bibliográficas
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constitucional: Pernambuco, 1820-1822. Recife: Editora UFPE, 2006.
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TAVARES, Francisco Muniz. História da Revolução de
Pernambuco em 1817. 5. ed. Recife: EDUFPE, 2017.
VILLALTA, Luiz Carlos. Pernambuco, 1817: uma república de
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história e historiografia. São Paulo: Hucitec; Fapesp, 2005. p. 487-548.

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