O
verdadeiro aprendizado sempre ocorre fora da sala de aula
Em 2006, o educador e autor de livros Ken Robinson proferiu uma palestra
para a TED intitulada
"Será
que as escolas matam a criatividade?". Com mais de 45 milhões de
visualizações, esta continua sendo a palestra mais visualizada da história da
TED.
A premissa de Robinson é simples: nosso atual sistema
educacional acaba com a criatividade e a curiosidade naturais dos jovens ao
forçá-los a se configurar dentro de um molde acadêmico unidimensional. Esse
molde pode funcionar bem para alguns — principalmente, como diz ele, para
aqueles que querem se tornar professores universitários.
Porém, para a maioria de nós, nossas paixões e
habilidades inatas são, na melhor das hipóteses, ignoradas. Na pior, são
prontamente destruídas pelo sistema educacional moderno.
Em sua palestra na TED, Robinson conclui:
Creio
que nossa única esperança para o futuro é a adoção de uma nova concepção
de ecologia humana, uma em que começamos a reconstituir nossa
concepção da riqueza da capacidade humana. Nosso sistema educacional
explorou nossas mentes como exploramos a terra: em busca de um recurso
específico. E, para o futuro, isso não serve. Temos de repensar os
princípios fundamentais em que baseamos a educação de nossas crianças.
Educação pela força
Robinson
estava apenas ecoando as preocupações de vários educadores que acreditam que o
atual modelo de escola compulsória solapa a vibrante criatividade das crianças
e as obriga a suprimir seus instintos auto-educativos.
Em seu livro Livre
para Aprender, o doutor Peter Gray, professor de psicologia do Boston
College, mostra que todas as crianças adoram aprender e avidamente exploram o
mundo ao seu redor com grande entusiasmo e dedicação. Mas tudo isso acaba
quando entram na escola.
Em suas pesquisas sobre crianças que não entraram no
sistema de educação em massa e foram para formas alternativas de educação, o
doutor Gray descobriu que a curiosidade humana e o comprometimento para com o
aprendizado se manteve até muito além do início da infância.
Em seu artigo "A
escola é uma prisão e está destruindo nossas crianças", ele diz:
Esta
incrível vontade de aprender e esta enorme capacidade de aprendizado não são
desligadas quando a criança faz 5 ou 6 anos de idade. Nós é que as desligamos
por meio de nosso coercitivo sistema de educação compulsória. A maior e mais
duradoura lição trazida pelo nosso sistema escolar é que aprender é algo
maçante, que deve ser evitado ao máximo possível.
Mas esta observação do doutor Gray não é nenhuma novidade. Décadas
atrás, o conhecido educador e defensor do ensino doméstico (homeschooling) John Holt escreveu em seu
livro — hoje best-seller — Como as Crianças Aprendem:
Queremos acreditar que
estamos enviando nossas crianças para a escola para que elas aprendam a pensar.
Mas o que realmente estamos fazendo é ensinando-as a pensar de maneira errada.
Pior: estamos ensinando-as a abandonar uma maneira natural e poderosa de pensar
e a adotar um método que não funciona para elas e o qual nós mesmos raramente
usamos.
Ainda pior do que tudo isso: nós tentamos convencê-las de
que, ao menos dentro da escola, ou mesmo em qualquer situação em que palavras,
símbolos ou pensamento abstrato estejam envolvidos, elas simplesmente não podem
pensar. Devem apenas repetir.
Por meio deste processo de educação compulsória e massificada, a
curiosidade infantil e o impulso natural pelo aprendizado são continuamente
substituídos por um sistema de controle social que ensina às crianças que seus
interesses e observações não mais importam.
Ainda segundo o
doutor Gray:
Em
nome da educação, estamos cada vez mais roubando das crianças o tempo e a
liberdade de que necessitam para se educarem por conta própria por meio de seus
próprios métodos. Criamos um arranjo educacional no qual as crianças devem
suprimir seus instintos naturais — os quais as estimulam a estar no controle do
próprio aprendizado — para, em vez disso, simplesmente seguirem automaticamente
métodos e caminhos criados para elas por adultos, e os quais não levam a lugar
nenhum.
Criamos
um sistema educacional que está literalmente enlouquecendo jovens e tornando-os
incapazes de desenvolver a autoconfiança e as habilidades necessárias para as
responsabilidades da vida adulta.
Sobre isso, pesquisas convincentes mostram que, quando se
permite que as crianças aprendam naturalmente, sem instruções coercitivas
vindas de cima para baixo, o aprendizado é mais profundo e muito mais criativo
do que quando as crianças são passivamente ensinadas. A professora Alison Gopnik, da Universidade de
Berkeley, Califórnia, descobriu em seus estudos com
crianças de quatro anos de idade, bem como em estudos similares
feitos pelo MIT, que o aprendizado direcionado a si próprio — em oposição à
instrução coerciva — elevam a criatividade, a capacidade de pensar e a própria
qualidade do aprendizado.
As pesquisas de Gopnik envolveram crianças novas
aprendendo a como manipular um brinquedo específico, o qual emitiria
determinados sons ou exibiria determinadas figuras em uma certa sequência.
Ela descobriu que, quando as crianças eram diretamente
ensinadas a como usar o brinquedo, elas conseguiam replicar os resultados e
rapidamente chegavam à "resposta certa" por conta própria ao apenas
imitar o que a professora demonstrava. Porém, quando, em vez disso, as crianças
tinham a liberdade de aprender sem qualquer instrução direta — brincar
livremente com o brinquedo, explorar livremente suas características, e
descobrir seus recursos por conta própria —, elas conseguiam chegar à "resposta
certa" mais rapidamente (em menos etapas) do que as crianças ensinadas.
Estas crianças que fizeram o "aprendizado
direcionado a si próprio" também descobriram outras partes e
características do brinquedo que podiam fazer coisas interessantes — as quais
as crianças ensinadas não descobriram.
Gopnik resumiu essa pesquisa em um artigo para
a revista Slate dizendo:
A instrução direta talvez possa ajudar as crianças a aprender
fatos e habilidades específicas. Mas e quanto à curiosidade e à criatividade —
capacidades estas que, no longo prazo, são ainda mais importantes para o
aprendizado?
Ao passo que aprender com um professor pode ajudar as crianças a
obter uma resposta específica mais rapidamente, tal método também faz com que
elas sejam menos propensas a descobrir informações novas sobre um problema e a
criar novas e inesperadas soluções.
Aprendendo, e não doutrinando
A conformidade
e a submissão podem ter sido os objetivos sociais e econômicos dos arquitetos
do modelo escolar compulsório criado no século XIX, feito para funcionar de
cima para baixo. Mas a economia do século XXI exige criatividade e adaptação.
Hoje, acima de tudo, é necessário um modelo voltado para o aprendizado, que
privilegie a capacidade de raciocínio próprio e a criatividade, e não um modelo
de ensino compulsório voltado para escola.
Como disse o antigo CEO da Google, Eric Schmidt,
"a cada dois dias criamos o mesmo volume de informações que foi criado
desde o surgimento da humanidade até 2003".
É impossível
acreditar que um modelo arcaico de ensino forçado pode se adaptar às exigências
de uma nova economia saturada de informações e cada vez mais voltada para a
tecnologia, a qual requer agilidade, inventividade, colaboração e um contínuo
compartilhamento de conhecimento. Um modelo educacional verdadeiramente
transformador para o século XXI é aquele que cultiva e estimula, e não esmaga e
abole, a criatividade humana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário