Se você
está na Gávea, no Rio de Janeiro, e caminha dez minutos, chega a uma grande
favela (uma das maiores do mundo). Essa caminhada de dez minutos significa a
perda de mais de 13 anos na expectativa de vida (veja Empoli). O local em você
se encontra retira anos da sua expectativa de vida. Muitos estrangeiros virão
para o Brasil para assistir aos jogos da Copa do Mundo. Talvez não tenham
consciência exata dos riscos que estarão correndo. Somos o 15º país mais
violento do planeta (conforme os números da ONU de duas semanas atrás) e das 50
cidades mais violentas do mundo, 16 estão aqui. São mais de 53 mil assassinatos
por ano.
Imagine
um estrangeiro de um desses países econômica e socialmente “escandinavizados”
(Dinamarca, Suécia, Suíça, Bélgica, Holanda, Nova Zelândia, Austrália, Coreia
do Sul, Japão, Alemanha etc.). Nos seus países eles têm (em média) apenas um
homicídio para cada 100 mil pessoas (veja nossas estatísticas no Instituto
Avante Brasil)? Os Estados Unidos têm 5 (embora seja um império capitalista)? O
Brasil tem 27? Quando um “escandinavizado” colocar os pés no Brasil, seu risco
de vida já aumenta 27 vezes. E conforme a capital em que ele estiver, sua
expectativa de vida vai reduzir drasticamente.
O que os
“escandinavizados” estão mostrando para o mundo? O seguinte: quanto mais
igualdade material e social, menos violência (menos crime). Esses países
possuem as seguintes médias: PIB per capita de USD 50.084, Gini de 0,301 (pouca
desigualdade e, ao mesmo tempo, pouca concentração da riqueza nas mãos de
pouquíssimas pessoas), 1,1 homicídios por 100 mil habitantes, 5,8 mortos no
trânsito por 100 mil pessoas, 18.552 presos (na média) e 98 encarcerados para
cada 100 mil pessoas.
Vamos
comparar os números (não os países): O Brasil conta com renda per capita de USD
11.340, Gini de 0,519 (0,51: país exageradamente desigual), 27,1 assassinatos
para 100 mil pessoas, 22 mortos no trânsito para cada 100 mil, quase 600 mil
presos, 274 para cada 100 mil habitantes. Somos 27 vezes mais violentos que a
média dos países mais civilizados do planeta. A palavra chave para explicar
tudo isso se chama igualdade, porém, não a igualdade puramente formal, sim,
material, social, cultural etc. E isso se consegue por meio de (a) educação de
qualidade para todos e (b) aumento da renda per capita.
A única
maneira de salvar o planeta das tragédias anunciadas (rebelião dos pobres,
revolução dos indignados, sangue das guerras, mutilações decorrentes dos
conflitos etc.) é melhorar a qualidade de vida de todo mundo. Os
“escandinavizados” (Suécia, Noruega, Islândia, Holanda etc.) são os únicos que
estão salvando o capitalismo desigualitário do seu desastre final. São dignos
de ser copiados. Não temos, portanto, que nos comparar a eles, sim, copiar o
que eles estão fazendo de certo (e deixar de fazer as coisas erradas).
Por Luiz Flávio Gomes
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