O termo “avivamento” tem sido usado para designar cruzadas de
evangelização, campanhas de santidade, reuniões onde se realizam curas e
expulsões de demônios, ou pregações fervorosas. Mais recentemente, após o
neopentecostalismo, avivamento é sinônimo de louvorzão, dançar no Espírito,
ministração de louvor, show gospel, cair no Espírito, etc. etc. Nesse sentido,
muitos acham que está havendo um grande avivamento no Brasil. Eu não consigo
concordar. Continuo orando por um avivamento no Brasil. Acho que ainda precisamos
de um, pelos seguintes motivos:
1. Apesar do crescimento numérico, os evangélicos não têm feito muita
diferença na sociedade brasileira quanto à ética, usos e costumes, como uma
força que influencia a cultura para o bem, para melhor. Historicamente, os
avivamentos espirituais foram responsáveis diretos por transformações de
cidades inteiras, mudanças de leis e transformação de culturas. Durante o
grande avivamento em Northampton, Estados Unidos, dois séculos atrás, bares,
prostíbulos e casernas foram fechados, por falta de clientes e pela conversão
dos proprietários.
2. Há muito show, muita música, muito louvor – mas pouco ensino bíblico.
Nunca os evangélicos cantaram tanto e nunca foram tão analfabetos de Bíblia.
Nunca houve tantos animadores de auditório e tão poucos pregadores da palavra
de Deus. Quando o Espírito de Deus está agindo de fato, ele desperta o povo de
Deus para a Palavra. Ele gera amor e interesse nos corações pela revelação
inspirada e final de Deus. Durante os avivamentos históricos, as multidões se
reuniam durante horas para ouvir a pregação da Palavra de Deus, para ler as
Escrituras, à semelhança do avivamento acontecido na época de Esdras em Israel,
quando o povo de Deus se quedou em pé por horas somente ouvindo a exposição da
Palavra de Deus. Não vemos nada parecido hoje. A venda de CDs e DVDs com shows
gospel cresce em proporção geométrica no Brasil e ultrapassa em muito a venda
de Bíblias.
3. Há muitos suspiros, gemidos, sussurros, lágrimas, olhos fechados e
mãos levantadas ao alto, mas pouco arrependimento, quebrantamento, convicção de
pecado, mudança de vida e santidade. Durante um verdadeiro avivamento, contudo,
os corações são quebrantados, há profunda convicção de pecado da parte dos
crentes, gemidos de angústia por haverem quebrado a lei de Deus, uma profunda
consciência da corrupção interior do coração, que acaba por levar os crentes a
reformar suas vidas, a se tornarem mais sérios em seus compromissos com Deus, a
mudar realmente de vida.
4. Um avivamento promove a união dos verdadeiros crentes em torno dos
pontos centrais do Evangelho. Historicamente, durante os avivamentos,
diferenças foram esquecidas, brigas antigas foram postas de lado, mágoas
passadas foram perdoadas. A consciência da presença de Deus era tão grande que
os crentes se uniram para pregar a Palavra aos pecadores, distribuir Bíblias,
socorrer os necessitados e enviar missionários. Em pleno apartheid na África do
Sul, estive em Kwasizabantu, local onde irrompeu um grande avivamento
espiritual em 1966, trazendo a conversão de milhares de zulus, tswanas e
africaners. Foi ali que vi pela primeira vez na África do Sul as diferentes
tribos negras de mãos dadas com os brancos, em culto e adoração ao Senhor que
os havia resgatado.
5. Um avivamento dissipa o nevoeiro moral cinzento em que vivem os cristãos
e que lhes impede de ver com clareza o certo e o errado, e a distinguir um do
outro. Durante a operação intensa do Espírito de Deus, o pecado é visto em suas
verdadeiras cores, suas conseqüências são seriamente avaliadas. A verdade
também é reconhecida e abraçada. A diferença entre a Igreja e o mundo se torna
visível.
6. Um avivamento espiritual desperta os corações dos crentes e os enche
de amor pelos perdidos. Muitos dos missionários que no século passado viajaram
mundo afora pregando o Evangelho foram despertados em reuniões e pregações
ocorridas em tempos de avivamento espiritual. Em meados do século passado houve
dezenas de avivamentos espirituais em colégios e universidades americanas. Faz
alguns anos ouvi Dr. Russell Shedd dizer que foi chamado para ser missionário
durante seu tempo de colégio, quando houve um reavivamento espiritual
surpreendente entre os alunos, que durou alguns dias. Naquela época, uma
centena de jovens dedicou a vida a Cristo, e entre eles o próprio Shedd.
Não ignoro o outro lado dos avivamentos. Quando Deus começa a agir, o
diabo se levanta com todas as suas forças. Avivamentos são sempre misturados.
Há uma mescla de verdade e erro, de emoções genuínas e falsas, de conversões
verdadeiras e de imitações, experiências reais com Deus e mero emocionalismo.
Em alguns casos, houve rachas, divisões e brigas. Todavia, pesadas todas as
coisas, creio que um avivamento ainda vale a pena.
Ao contrário de Charles Finney, não creio que um avivamento possa ser
produzido pelos crentes. Todavia, junto com Martin Lloyd-Jones, Charles
Spurgeon, Asael Nettleton, George Whitefield e os puritanos, acredito que posso
clamar a Deus por um, humilhar-me diante dele e pedir que ele comece em mim.
Foi isso que fizeram os homens presbiterianos da Coréia em 1906, durante uma
longa e grave crise espiritual na Igreja Coreana. Durante uma semana se
reuniram para orar, confessar seus pecados, se reconciliarem uns com os outros
e com Deus. Durante aquela semana Deus os atendeu e começou o grande avivamento
coreano, provocando milhares e milhares de conversões genuínas meses a fio, e
dando início ao crescimento espantoso dos evangélicos na Coréia.
Só lamento em tudo isso que os abusos para com o termo “avivamento” tem
feito com que os reformados falem pouco desse tema. E pior, que orem pouco por
ele.
Augustus Nicodemus