Radio Evangélica

terça-feira, 9 de julho de 2013

Ex-embaixador brasileiro em Washington acredita que sofreu espionagem dos EUA
DE SÃO PAULO

Rubens Barbosa, que esteve à frente da Embaixada do Brasil em Washington de junho de 1999 a março de 2004, disse que acredita ter sofrido espionagem do governo americano no ano de 2001, na véspera de uma visita do então presidente Fernando Henrique Cardoso aos EUA.
Segundo Barbosa, nos dias em que estava sendo planejada a visita do presidente, que aconteceria alguns meses depois, os telefones da embaixada tiveram perda de qualidade no áudio e ficaram mudos por alguns dias.
Após ter pedido a uma empresa americana a varredura dos aparelhos, Barbosa foi informado de que, embora não existissem escutas no interior da embaixada, os cabos telefônicos do edifício --que passavam pela avenida Massachusetts, endereço de muitas outras representações diplomáticas-- faziam ligação com o Departamento de Defesa norte-americano. E que reclamações similares ao que ele fazia eram comuns em outras embaixadas nas vésperas de visitas presidenciais.
A história foi revelada pela Folha, em reportagem de agosto de 2001.
“Eu pensava que era algum aparelho na embaixada e fiz um rastreamento. Mas não era. Era fora. Ninguém violou o território brasileiro. Ninguém entrou na embaixada para gravar nada. Isso tudo era monitorado pelo cabo geral."
Questionado se possuía algum documento técnico que comprovasse esse problema na época, Barbosa disse que talvez exista algum papel administrativo sobre o caso, mas que não tem como comprovar a informação.
Segundo Barbosa, o governo brasileiro e o Departamento de Estado norte-americano foram avisados do problema, mas não houve resposta de nenhum dos dois sobre o acontecimento.
O ex-embaixador também disse que em nenhuma outra ocasião teve problemas similares e que não perguntou a chefes diplomáticos de outros países se eles já tinham sofrido experiências parecidas.
Questionado sobre se, com as revelações de Edward Snowden, houve uma mudança de postura do governo brasileiro, em comparação à sua experiência na embaixada, Barbosa disse: "Não podemos comparar uma coisa a outra. Minha experiência em Washington foi algo limitado, que identifiquei e informei. Não havia nada a fazer. O que está acontecendo hoje é uma denúncia de alguém com documentos americanos que mostram que no Brasil e em mais 15 países foram construídas estações para monitorar o trânsito de informações. E essas informações não diziam respeito só ao Brasil, mas ao fluxo de internet, telefone e emails que passam pelos cabos que estão na costa brasileira. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. A reação agora tinha que ser maior porque ela entra num universo muito maior."
Ele também elogiou a postura brasileira diante das denúncias trazidas pelo ex-técnico da CIA: "Eu acho que o que o governo brasileiro está fazendo é correto: protestando, dizendo que vai levar esse assunto para a ONU. Isso não aconteceu só com o Brasil, está acontecendo com a Europa também. O modelo que estamos seguindo é o modelo europeu, que é muito positivo. Tem essa reação forte, contra essas práticas ilegais e o pedido de regulamentação internacional, mas também há uma dose de pragmatismo, de não prejudicar as relações bilaterais e de não deixar que isso contamine o restante das relações"

RELATO
O episódio de suspeita de grampo dos aparelhos telefônicos da embaixada brasileira em Washington foi narrado por Barbosa no livro "O Dissenso de Washington" (Editora Agir, 2011), em que ele relata os bastidores da relação entre os governos americano e brasileiro durante 1999 a 2004:
"Em março de 2001, antes da visita de FHC, os telefones da embaixada começaram a apresentar sensível perda de qualidade e ficaram mudos. Encomendei uma varredura que constatou existir o que parecia ser uma ligação telefônica direta entre o prédio da chancelaria e o Departamento de Defesa norte-americano. Após novas checagens, informei a Brasília que tinha certeza da existência de grampo nas linhas telefônicas e comuniquei o fato ao Departamento de Estado. Os técnicos que nos ajudaram disseram que problemas semelhantes vinham ocorrendo em outras embaixadas, sempre às vésperas de visitas presidenciais."

ESPIONAGEM
Em entrevista à Folha em junho, Celso Amorim também expressou a desconfiança de que teria sido espionado pelos Estados Unidos : "Em dois momentos eu achei que os meus telefones estavam sendo gravados. Um, quando eu morava nos EUA e era embaixador na ONU. Cuidava de três comissões sobre a questão do Iraque. Meu telefone começou a fazer um ruído muito estranho, e, quando acabou a comissão sobre Iraque, acabou o ruído também. Ali havia um foco óbvio."

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